São Paulo, terça-feira, 12 de fevereiro de 2002

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ELEIÇÕES-2002

Ministro afirma que seria o candidato ideal para agregar aliados

Roseana é imagem, e Lula, ruptura, diz Paulo Renato

OTÁVIO CABRAL
DO PAINEL, EM BRASÍLIA

Ministro da Educação desde 95 e coordenador do programa de governo das duas campanhas presidenciais vitoriosas de Fernando Henrique Cardoso, Paulo Renato Souza, 56, contraria a posição defensiva de seu partido e ataca os principais adversários tucanos na eleição presidencial: o petista Luiz Inácio Lula da Silva e a pefelista Roseana Sarney.
Diferentemente do governador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que declarou nos EUA que Lula não é mais uma ameaça e flertou com a candidatura de Roseana, Paulo Renato prefere alertar para os riscos que acredita que eles representem. "Os documentos internos do PT falam claramente em ruptura radical no sistema. Isso é uma ameaça, é algo a ser evitado", diz o ministro, que também acha que Roseana "ainda precisa mostrar suas propostas", pois até agora "foi uma campanha de "imagem". Mesmo após ser preterido da disputa presidencial pelo PSDB, Paulo Renato ainda diz ser o único político com capacidade de unir os quatro partidos da base governista -PSDB, PMDB, PFL e PPB- na eleição presidencial.
Embora se recuse a criticar a escolha do partido por José Serra, Paulo Renato dá a entender que o ministro da Saúde não agrega tanto. Principalmente devido ao episódio da eleição das Mesas Diretoras do Congresso, em 2001, quando Serra trabalhou pela vitória de Jader Barbalho (PMDB) e Aécio Neves (PSDB), deixando o PFL isolado. Leia os principais trechos da entrevista concedida no Ministério da Educação.
 

Folha - Por que o sr. queria ser candidato à Presidência?
Paulo Renato Souza -
Coloquei minha candidatura depois da morte de Mário Covas, que era o candidato natural do partido. A base da minha candidatura tinha dois aspectos: meu nome é o único que seria capaz de unir os partidos da base governista e de dar continuidade às mesmas propostas de mudança do governo FHC, que são as melhores para o Brasil.

Folha - O sr. acredita que sua candidatura realmente teria poder de unir a base aliada?
Paulo Renato -
Sim, eu era o candidato com maior capacidade de agregar os aliados. Eu tinha consciência de que era a primeira opção de poucos, mas era a segunda opção de muitos. Dentro do partido e fora do partido. Era a segunda opção de serristas, de tassistas, de muitas lideranças do PFL, do ACM [Antonio Carlos Magalhães", do [José" Sarney e do PMDB. Meu nome circulava bem por todos os partidos e seria o único capaz de unir a base.

Folha - José Serra, candidato escolhido por seu partido, não tem essa capacidade?
Paulo Renato -
Não quero falar de outros candidatos, mas agora [após a escolha de Serra" o quadro mudou. A partir da eleição da Mesa [do Congresso", começou a se colocar uma divisão para o futuro dessa base de governo, que acabou gerando a candidatura da Roseana. Após o surgimento dela, a união ficou difícil.

Folha - Mas ainda é possível?
Paulo Renato -
Acho que, se o Serra estiver bem nas pesquisas em maio ou junho, há uma pequena chance de ele unir a base e de ser o candidato de toda a base. Vai depender muito de sua habilidade de se mostrar um candidato viável e, como líder, chegar a um entendimento com o PFL. Seu grande desafio é mostrar ao país que tem capacidade para isso.

Folha - O sr. acha possível, caso Serra não decole nas pesquisas, que o PSDB apóie a candidatura de Roseana ainda no primeiro turno?
Paulo Renato -
Acho impossível que o PSDB abra mão da cabeça de chapa e aceite os critérios impostos pelo PFL. O critério não é pesquisa, mas um projeto de transformação do país. Aquela coisa que Serjão [Sérgio Motta, ex-ministro das Comunicações" dizia, que temos projeto para 20 anos, é realidade. Temos um projeto de transformação do país desde que FHC assumiu o Ministério da Fazenda e conseguiu a estabilidade. É um projeto de modernização e de avanço da área social a partir de uma inserção e respeito no cenário mundial.

Folha - O partido está empenhado na campanha de Serra?
Paulo Renato -
Sim, 100%.

Folha - Mas, se o Serra empacar nas pesquisas, o partido continuará o apoiando?
Paulo Renato -
Olha, o Geraldo Alckmin tinha 3% ou 4% das intenções de voto em agosto de 2000, imediatamente antes do início da propaganda para a Prefeitura de São Paulo. Cresceu quando foi possível mostrar quem era ele, quais eram as propostas. Aí ele quase chegou ao segundo turno. Então, estamos confiantes de que com o detalhamento da proposta, se o Serra assumir essa proposta de continuação do projeto do PSDB, podemos convencer a população e ganhar a eleição.

Folha - Por que o sr. se considera a pessoa com mais capacidade de dar continuidade às propostas do governo FHC?
Paulo Renato -
Porque tenho uma enorme identificação política e ideológica com o presidente. Não só porque eu fiz os dois programas de governo como porque me sinto identificado em sua visão de mundo e concepção estratégica para o país. Eu tenho uma história acadêmica e intelectual muito "cepalina" [referente à Cepal -Comissão Econômica para a América Latina- que teve participação de FHC na década de 60, quando exilado no Chile".
Eu também vivi nos EUA por quatro anos, na gerência do BID, e ganhei uma nova visão. Sintetizo muito bem aquela visão antiga "cepalina" protecionista com um mundo novo que estamos vivendo. Acho que é importante o país participar do processo de globalização, dos processos de integração comercial, que tenha uma clara avaliação positiva nos mercados financeiros porque dá tranquilidade e garante um fluxo de crédito mais barato. Enfim, é impossível um isolamento nessa área neste momento.
E, ao mesmo tempo, é necessário que usemos todos os instrumentos para nesse processo de integração garantirmos a soberania do país, como foi a política externa de FHC nestes oito anos.
Por essas razões eu me coloquei como candidato para dar seguimento às propostas de FHC.

Folha - Com o fim de seu projeto presidencial, a intenção do sr. é disputar qual cargo?
Paulo Renato -
Quando retirei a candidatura, voltei à posição anterior de lançar meu nome ao Senado. Sou o melhor candidato do PSDB ao Senado. Pelas circunstâncias históricas, tenho em São Paulo nome na sociedade. E outros companheiros que têm mais mérito na máquina partidária não têm tanta inserção na sociedade. Há no PSDB paulista quatro nomes com mais penetração na sociedade: FHC, José Serra, Geraldo Alckmin e eu. Isso me dá condições de ter uma votação muito além da votação partidária.

Folha - Mas há pelo menos outros três pretendentes do PSDB paulista ao Senado [José Aníbal, Zulaiê Cobra e Pedro Piva". O sr. conseguiria derrotá-los em uma convenção?
Paulo Renato -
Não vou disputar essa indicação em prévias, em briga de alicate. Se o partido entender que há outro nome melhor que o meu, abro mão.

Folha - Se também não viabilizar seu nome para o Senado, qual seu futuro político?
Paulo Renato -
Se não der para ir ao Senado, não concorro a deputado. Há outras maneiras de participar da vida pública. Minha vida sempre foi pública sem cargos eletivos, posso continuar assim quando deixar o governo.

Folha - Voltando à eleição presidencial, o sr. acha que uma eventual vitória de Roseana seria um retrocesso político?
Paulo Renato -
Acho que a governadora Roseana tem qualidades inquestionáveis. Está fazendo um bom governo no Maranhão, tem boa avaliação da população e pertence a uma família que tem experiência política. É uma candidatura respeitável, que não pode ser menosprezada. Por outro lado, a Roseana precisa mostrar que é uma candidata viável e competente e que tem uma proposta para o país. Até agora isso não foi mostrado, foi apenas uma campanha de imagem.

Folha - E uma vitória de um candidato da oposição, como o Lula, seria um retrocesso?
Paulo Renato -
Aí muda muito. Porque por mais que alguns documentos do PT tentem dourar a pílula, dizer que na verdade não haverá mudanças muito grande, que há um compromisso com a estabilidade, quando nós entramos a esmiuçar um pouco mais os documentos eles são contraditórios. E mais do que isso: os documentos internos do PT falam claramente em ruptura radical. Então é algo a ser evitado.
Em outros países, como México e Chile, uma eleição significa uma alternância no poder sem mudança radical no sistema. Os alinhamentos internacionais dos países continuam os mesmos, o compromisso com a estabilidade é o mesmo. Podem mudar a prioridade, mas os compromissos são os mesmos. Aqui no nosso país, infelizmente, não temos muito claro isso. Às vezes, dá a impressão de que o que se quer é uma coisa completamente diferente. Isso é uma ameaça.

Folha - Concretamente, que ameaça representa a oposição?
Paulo Renato -
A vitória da oposição trará de volta uma tendência ao isolacionismo do Brasil, uma tendência a ficar somente na denúncia internacional das injustiças do mundo. Acho que é preciso entender que não é possível ter tudo, romper o pagamento da dívida externa e aumentar nossas exportações. Os outros países não iriam aceitar isso. A situação argentina é um exemplo muito claro. Finalmente o mundo viu que a diferença que existe entre Brasil e Argentina não é por acaso. A Argentina sempre foi mais conceituada no mercado financeiro internacional que o Brasil. Sempre a taxa de risco deles foi menor. O que aconteceu? Fizemos nesses anos a lição de casa, um trabalho duro na economia e invertemos essa situação. Equacionamos a dívida dos Estados, saneamos o sistema financeiro público e privado. Nós privatizamos direito as teles. Uma vitória da oposição seria uma ameaça nesse sentido, de botar todo esse avanço a perder.

Folha - A crise de segurança pode prejudicar Serra e Alckmin?
Paulo Renato -
Vai ser um tema eleitoral, principalmente estadual, mas o Geraldo pode fazer do limão uma limonada. Tem que mostrar que não é com mais repressão, com prisão perpétua e Rota na rua, como anda defendendo o PT, que se resolve isso.



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