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ELEIÇÕES-2002
Ministro afirma que seria o candidato ideal para agregar aliados
Roseana é imagem, e Lula, ruptura, diz Paulo Renato
OTÁVIO CABRAL
DO PAINEL, EM BRASÍLIA
Ministro da Educação desde 95
e coordenador do programa de
governo das duas campanhas
presidenciais vitoriosas de Fernando Henrique Cardoso, Paulo
Renato Souza, 56, contraria a posição defensiva de seu partido e
ataca os principais adversários tucanos na eleição presidencial: o
petista Luiz Inácio Lula da Silva e
a pefelista Roseana Sarney.
Diferentemente do governador
Tasso Jereissati (PSDB-CE), que
declarou nos EUA que Lula não é
mais uma ameaça e flertou com a
candidatura de Roseana, Paulo
Renato prefere alertar para os riscos que acredita que eles representem. "Os documentos internos do PT falam claramente em
ruptura radical no sistema. Isso é
uma ameaça, é algo a ser evitado",
diz o ministro, que também acha
que Roseana "ainda precisa mostrar suas propostas", pois até agora "foi uma campanha de "imagem". Mesmo após ser preterido
da disputa presidencial pelo
PSDB, Paulo Renato ainda diz ser
o único político com capacidade
de unir os quatro partidos da base
governista -PSDB, PMDB, PFL e
PPB- na eleição presidencial.
Embora se recuse a criticar a escolha do partido por José Serra,
Paulo Renato dá a entender que o
ministro da Saúde não agrega tanto. Principalmente devido ao episódio da eleição das Mesas Diretoras do Congresso, em 2001,
quando Serra trabalhou pela vitória de Jader Barbalho (PMDB) e
Aécio Neves (PSDB), deixando o
PFL isolado. Leia os principais
trechos da entrevista concedida
no Ministério da Educação.
Folha - Por que o sr. queria ser
candidato à Presidência?
Paulo Renato Souza - Coloquei
minha candidatura depois da
morte de Mário Covas, que era o
candidato natural do partido. A
base da minha candidatura tinha
dois aspectos: meu nome é o único que seria capaz de unir os partidos da base governista e de dar
continuidade às mesmas propostas de mudança do governo FHC,
que são as melhores para o Brasil.
Folha - O sr. acredita que sua candidatura realmente teria poder de
unir a base aliada?
Paulo Renato - Sim, eu era o candidato com maior capacidade de
agregar os aliados. Eu tinha consciência de que era a primeira opção de poucos, mas era a segunda
opção de muitos. Dentro do partido e fora do partido. Era a segunda opção de serristas, de tassistas,
de muitas lideranças do PFL, do
ACM [Antonio Carlos Magalhães", do [José" Sarney e do
PMDB. Meu nome circulava bem
por todos os partidos e seria o
único capaz de unir a base.
Folha - José Serra, candidato escolhido por seu partido, não tem
essa capacidade?
Paulo Renato - Não quero falar
de outros candidatos, mas agora
[após a escolha de Serra" o quadro
mudou. A partir da eleição da Mesa [do Congresso", começou a se
colocar uma divisão para o futuro
dessa base de governo, que acabou gerando a candidatura da
Roseana. Após o surgimento dela,
a união ficou difícil.
Folha - Mas ainda é possível?
Paulo Renato - Acho que, se o
Serra estiver bem nas pesquisas
em maio ou junho, há uma pequena chance de ele unir a base e
de ser o candidato de toda a base.
Vai depender muito de sua habilidade de se mostrar um candidato
viável e, como líder, chegar a um
entendimento com o PFL. Seu
grande desafio é mostrar ao país
que tem capacidade para isso.
Folha - O sr. acha possível, caso
Serra não decole nas pesquisas,
que o PSDB apóie a candidatura de
Roseana ainda no primeiro turno?
Paulo Renato - Acho impossível
que o PSDB abra mão da cabeça
de chapa e aceite os critérios impostos pelo PFL. O critério não é
pesquisa, mas um projeto de
transformação do país. Aquela
coisa que Serjão [Sérgio Motta,
ex-ministro das Comunicações"
dizia, que temos projeto para 20
anos, é realidade. Temos um projeto de transformação do país
desde que FHC assumiu o Ministério da Fazenda e conseguiu a estabilidade. É um projeto de modernização e de avanço da área
social a partir de uma inserção e
respeito no cenário mundial.
Folha - O partido está empenhado na campanha de Serra?
Paulo Renato - Sim, 100%.
Folha - Mas, se o Serra empacar
nas pesquisas, o partido continuará o apoiando?
Paulo Renato - Olha, o Geraldo
Alckmin tinha 3% ou 4% das intenções de voto em agosto de
2000, imediatamente antes do início da propaganda para a Prefeitura de São Paulo. Cresceu quando foi possível mostrar quem era
ele, quais eram as propostas. Aí
ele quase chegou ao segundo turno. Então, estamos confiantes de
que com o detalhamento da proposta, se o Serra assumir essa proposta de continuação do projeto
do PSDB, podemos convencer a
população e ganhar a eleição.
Folha - Por que o sr. se considera
a pessoa com mais capacidade de
dar continuidade às propostas do
governo FHC?
Paulo Renato - Porque tenho
uma enorme identificação política e ideológica com o presidente.
Não só porque eu fiz os dois programas de governo como porque
me sinto identificado em sua visão de mundo e concepção estratégica para o país. Eu tenho uma
história acadêmica e intelectual
muito "cepalina" [referente à Cepal -Comissão Econômica para
a América Latina- que teve participação de FHC na década de 60,
quando exilado no Chile".
Eu também vivi nos EUA por
quatro anos, na gerência do BID, e
ganhei uma nova visão. Sintetizo
muito bem aquela visão antiga
"cepalina" protecionista com um
mundo novo que estamos vivendo. Acho que é importante o país
participar do processo de globalização, dos processos de integração comercial, que tenha uma clara avaliação positiva nos mercados financeiros porque dá tranquilidade e garante um fluxo de
crédito mais barato. Enfim, é impossível um isolamento nessa
área neste momento.
E, ao mesmo tempo, é necessário que usemos todos os instrumentos para nesse processo de integração garantirmos a soberania
do país, como foi a política externa de FHC nestes oito anos.
Por essas razões eu me coloquei
como candidato para dar seguimento às propostas de FHC.
Folha - Com o fim de seu projeto
presidencial, a intenção do sr. é
disputar qual cargo?
Paulo Renato - Quando retirei a
candidatura, voltei à posição anterior de lançar meu nome ao Senado. Sou o melhor candidato do
PSDB ao Senado. Pelas circunstâncias históricas, tenho em São
Paulo nome na sociedade. E outros companheiros que têm mais
mérito na máquina partidária não
têm tanta inserção na sociedade.
Há no PSDB paulista quatro nomes com mais penetração na sociedade: FHC, José Serra, Geraldo
Alckmin e eu. Isso me dá condições de ter uma votação muito
além da votação partidária.
Folha - Mas há pelo menos outros
três pretendentes do PSDB paulista ao Senado [José Aníbal, Zulaiê
Cobra e Pedro Piva". O sr. conseguiria derrotá-los em uma convenção?
Paulo Renato - Não vou disputar
essa indicação em prévias, em briga de alicate. Se o partido entender que há outro nome melhor
que o meu, abro mão.
Folha - Se também não viabilizar
seu nome para o Senado, qual seu
futuro político?
Paulo Renato - Se não der para ir
ao Senado, não concorro a deputado. Há outras maneiras de participar da vida pública. Minha vida sempre foi pública sem cargos
eletivos, posso continuar assim
quando deixar o governo.
Folha - Voltando à eleição presidencial, o sr. acha que uma eventual vitória de Roseana seria um retrocesso político?
Paulo Renato - Acho que a governadora Roseana tem qualidades inquestionáveis. Está fazendo
um bom governo no Maranhão,
tem boa avaliação da população e
pertence a uma família que tem
experiência política. É uma candidatura respeitável, que não pode
ser menosprezada. Por outro lado, a Roseana precisa mostrar que
é uma candidata viável e competente e que tem uma proposta para o país. Até agora isso não foi
mostrado, foi apenas uma campanha de imagem.
Folha - E uma vitória de um candidato da oposição, como o Lula, seria um retrocesso?
Paulo Renato - Aí muda muito.
Porque por mais que alguns documentos do PT tentem dourar a
pílula, dizer que na verdade não
haverá mudanças muito grande,
que há um compromisso com a
estabilidade, quando nós entramos a esmiuçar um pouco mais
os documentos eles são contraditórios. E mais do que isso: os documentos internos do PT falam
claramente em ruptura radical.
Então é algo a ser evitado.
Em outros países, como México
e Chile, uma eleição significa uma
alternância no poder sem mudança radical no sistema. Os alinhamentos internacionais dos países
continuam os mesmos, o compromisso com a estabilidade é o
mesmo. Podem mudar a prioridade, mas os compromissos são
os mesmos. Aqui no nosso país,
infelizmente, não temos muito
claro isso. Às vezes, dá a impressão de que o que se quer é uma
coisa completamente diferente.
Isso é uma ameaça.
Folha - Concretamente, que
ameaça representa a oposição?
Paulo Renato - A vitória da oposição trará de volta uma tendência
ao isolacionismo do Brasil, uma
tendência a ficar somente na denúncia internacional das injustiças do mundo. Acho que é preciso
entender que não é possível ter tudo, romper o pagamento da dívida externa e aumentar nossas exportações. Os outros países não
iriam aceitar isso. A situação argentina é um exemplo muito claro. Finalmente o mundo viu que a
diferença que existe entre Brasil e
Argentina não é por acaso. A Argentina sempre foi mais conceituada no mercado financeiro internacional que o Brasil. Sempre a
taxa de risco deles foi menor. O
que aconteceu? Fizemos nesses
anos a lição de casa, um trabalho
duro na economia e invertemos
essa situação. Equacionamos a dívida dos Estados, saneamos o sistema financeiro público e privado. Nós privatizamos direito as teles. Uma vitória da oposição seria
uma ameaça nesse sentido, de botar todo esse avanço a perder.
Folha - A crise de segurança pode
prejudicar Serra e Alckmin?
Paulo Renato - Vai ser um tema
eleitoral, principalmente estadual, mas o Geraldo pode fazer do
limão uma limonada. Tem que
mostrar que não é com mais repressão, com prisão perpétua e
Rota na rua, como anda defendendo o PT, que se resolve isso.
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