Alckmin diz que governo faz "discurso e crítica errados" e FHC afirma que presidente "já está em campanha" por 2010

Planalto diz que houve erro de interpretação -Lula teria se referido à participação do Estado no índice total de analfabetos, que é de 10%

Joel Silva/ Folha Imagem

O prefeiro Gilberto Kassab, o governardo José Serra e o secretário Geraldo Alckmin em evento

DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DO RIO

Apesar de contrariado, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), poupou ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao comentar o discurso em que o petista superfaturou o índice de analfabetismo de São Paulo. Na véspera, Lula havia afirmado que essa taxa chegava a 10% no Estado. É de 4,6%.
Em conversas, Serra se queixou de Lula, com quem evita confrontos. Mas, publicamente, responsabilizou o Ministério da Educação pelo erro. Segundo o governador, foi "uma falha do Ministério da Educação". "Não acho que o presidente tenha tido qualquer espécie de má-fé ou agressividade com relação a São Paulo. Foi uma menção a um número. Só que o número está errado. O Ministério da Educação que errou, dando a ele um número de 18 anos atrás", minimizou.
Presente ao encontro dos prefeitos, onde Lula fez o comentário, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), lembrou até que o presidente -dono de 84% de popularidade- pedira desculpas.
"Foi um grande equívoco. Até porque é o presidente da República. Mas queria reconhecer que hoje o governo federal pediu desculpas pelo erro e reconheceu que o governo errou na divulgação de um dado equivocado", contemporizou.
Ex-governador e rival de Lula em 2006, o secretário de Desenvolvimento paulista, Geraldo Alckmin, reagiu: "O governo federal faz discurso e crítica errados. Mas quem trabalha e investe em educação em São Paulo é São Paulo, especialmente o governo do Estado".
Já o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou ontem que o presidente "está em campanha" e "precipitando" ilegalmente o calendário eleitoral. FHC criticou a participação constante da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff -cotada para ser a candidata petista em 2010-, em eventos com o presidente. "Ele já está com a candidata em punho andando o Brasil todo. Mas a legislação não permite. Se começarmos a lançar candidato agora iríamos contra a lei."
Sobre o discurso de Lula, o ex-presidente voltou a falar sobre a eleição de 2010. "Não sei se os dados estão corretos, mas o presidente da República está em campanha. Acho que não está na hora", disse FHC.
O Planalto atribuiu ontem a polêmica a um erro de interpretação do discurso. Segundo o governo, Lula se referia à participação de São Paulo no índice total de analfabetos do país, que é de 10% e, como estava citando a fatia de analfabetos por região considerando-se o total no país, não haveria margem para outra interpretação.
Ao falar de São Paulo, o presidente se mostrou impressionado: "Pasmem, caiam de costas, Kassab, porque você não sabia e eu não sabia: no Estado de São Paulo, nós ainda temos 10% de analfabetos, o Estado mais rico da federação", e complementou: "Significa que nós estamos errando em alguma coisa".
Na transcrição do discurso de Lula publicado na página do governo, foi acrescentado entre chaves "do total" e, sem chaves, a expressão "do Brasil", que não foi ouvida pela reportagem durante o discurso de Lula e também não aparece na gravação.

Inauguração
Potencial candidato do PSDB ao governo do Estado -preferência que disputa com o chefe da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira- Alckmin inaugurou ontem, em seu primeiro ato público como secretário, a Escola Técnica Arthur Alvim, na zona leste, já em funcionamento desde agosto de 2008. A Etec já abrigava 120 alunos, distribuídos em três cursos. Segundo a assessoria da secretaria, a escola reuniu "classes descentralizadas", saídas de outras escolas.
Em seu discurso, o próprio Alckmin se corrigiu ao descrever aquela como a "entrega oficial" da Etec. "Hoje inauguramos a entrega, oficialmente, da Etec Arthur Alvim."

Colaborou a Sucursal de Brasília


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