São Paulo, quinta, 12 de março de 1998

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JANIO DE FREITAS
As causas das causas

Enquanto o governismo não abre uma brecha a avaliações respeitáveis do que são, de fato, as mal denominadas reformas e do que já custaram ao país, o jeito é divertir-se com a desfaçatez usada para encobrir as desastrosas incompetências e obtusidades oficiais.
O presidente que dizia, há três meses, nada ter com a demissão de 10 mil metalúrgicos, sob o argumento de que não é trabalhador nem empresário, enfim achou que o recorde de desemprego pegou mal para sua candidatura. Reuniu terça-feira uns pedaços do governo e, para que houvesse resultado a informar, a Presidência divulgou que "estão suspensas as 33 mil demissões de funcionários, para não aumentar o desemprego".
É a mentira sem cerimônia. No começo do ano, o ministro Bresser Pereira informou que "não haverá as 33 mil demissões por ser ano eleitoral", como foi publicado aqui. Sua incontinência verbal causou, então, mais um problema na Presidência, de onde saiu nova ordem para Bresser calar-se, pelo amor de Deus. Ordem vã, graças a Deus.
Os 33 mil servidores não-estáveis foram postos no corredor da morte pelo pacote 51, aquele de outubro que economizaria R$ 20 bilhões para a defesa do real, mas que hoje talvez não possa ser medido nem em centavos, tantas eram as mentiras, adulterações e obtusidades que o integraram.
Uma delas, a desses servidores que têm vivido, enquanto Bresser Pereira viaja e viaja, a angustiosa espera da facada governamental em suas famílias. Com a assessoria de sua tecnocrata predileta, Cláudia Cohen Costin, Bresser estabeleceu a sua contribuição para o pacote de Fernando Henrique: economia de R$ 350 milhões no ano, representados pela demissão sugerida. Dois meses depois, o Ministério da Administração conseguia saber quanto seria gasto, no pagamento de direitos, para economizar os R$ 350 milhões: R$ 330 milhões.
A mesma seriedade e a mesma competência, procedentes da mesma fonte, estão presentes na "reforma" da Previdência que o Congresso está votando nesta semana, com outra criação da mesma dupla, a "reforma" administrativa. Feitas as contas para 98, a Previdência concluiu que, mesmo "reformada", terá déficit ainda maior do que em 97. A causa apontada: o crescimento do gasto com a avalanche de aposentadorias antecipadas, a maioria pedida por funcionários de níveis salariais mais altos.
A causa original por trás da causa apontada: o terrorismo com que Bresser ameaçou o funcionalismo todo desde o início do governo, obcecado com o tema do fim da estabilidade e consequentes demissões. Com o acréscimo de sua contribuição para a Previdência, sob a forma de corte de direitos dos funcionários quando da aposentadoria. O novo buraco da Previdência devia ser pago por Bresser, com a ajuda da aposentadoria muito especial de Stephanes.



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