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JANIO DE FREITAS
As causas das causas
Enquanto o governismo não
abre uma brecha a avaliações
respeitáveis do que são, de fato, as mal denominadas reformas e do que já custaram ao
país, o jeito é divertir-se com a
desfaçatez usada para encobrir as desastrosas incompetências e obtusidades oficiais.
O presidente que dizia, há
três meses, nada ter com a demissão de 10 mil metalúrgicos,
sob o argumento de que não é
trabalhador nem empresário,
enfim achou que o recorde de
desemprego pegou mal para
sua candidatura. Reuniu terça-feira uns pedaços do governo e, para que houvesse resultado a informar, a Presidência divulgou que "estão suspensas as 33 mil demissões de
funcionários, para não aumentar o desemprego".
É a mentira sem cerimônia.
No começo do ano, o ministro
Bresser Pereira informou que
"não haverá as 33 mil demissões por ser ano eleitoral", como foi publicado aqui. Sua
incontinência verbal causou,
então, mais um problema na
Presidência, de onde saiu nova ordem para Bresser calar-se, pelo amor de Deus. Ordem vã, graças a Deus.
Os 33 mil servidores não-estáveis foram postos no corredor da morte pelo pacote 51,
aquele de outubro que economizaria R$ 20 bilhões para a
defesa do real, mas que hoje
talvez não possa ser medido
nem em centavos, tantas eram
as mentiras, adulterações e
obtusidades que o integraram.
Uma delas, a desses servidores que têm vivido, enquanto
Bresser Pereira viaja e viaja, a
angustiosa espera da facada
governamental em suas famílias. Com a assessoria de sua
tecnocrata predileta, Cláudia
Cohen Costin, Bresser estabeleceu a sua contribuição para
o pacote de Fernando Henrique: economia de R$ 350 milhões no ano, representados
pela demissão sugerida. Dois
meses depois, o Ministério da
Administração conseguia saber quanto seria gasto, no pagamento de direitos, para economizar os R$ 350 milhões:
R$ 330 milhões.
A mesma seriedade e a mesma competência, procedentes
da mesma fonte, estão presentes na "reforma" da Previdência que o Congresso está votando nesta semana, com outra criação da mesma dupla, a
"reforma" administrativa.
Feitas as contas para 98, a
Previdência concluiu que,
mesmo "reformada", terá déficit ainda maior do que em
97. A causa apontada: o crescimento do gasto com a avalanche de aposentadorias antecipadas, a maioria pedida
por funcionários de níveis salariais mais altos.
A causa original por trás da
causa apontada: o terrorismo
com que Bresser ameaçou o
funcionalismo todo desde o
início do governo, obcecado
com o tema do fim da estabilidade e consequentes demissões. Com o acréscimo de sua
contribuição para a Previdência, sob a forma de corte de
direitos dos funcionários
quando da aposentadoria. O
novo buraco da Previdência
devia ser pago por Bresser,
com a ajuda da aposentadoria muito especial de Stephanes.
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