São Paulo, quinta, 12 de março de 1998

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Radicais do PT vetam acenos a Quércia

CARLOS EDUARDO ALVES
da Reportagem Local

O aceno público de Luiz Inácio Lula da Silva em direção ao ex-governador paulista Orestes Quércia (PMDB) gerou revolta na ala "esquerda" do PT, que já questiona a linha de campanha de centro-esquerda defendida por Lula.
"Só se fez besteiras nas últimas semanas na campanha do Lula", afirmou ontem Valter Pomar, um dos vice-presidentes do PT e representante do setor ortodoxo na cúpula do partido.
Anteontem, Lula e Leonel Brizola (PDT) defenderam a presença de Quércia no palanque presidencial dos dois partidos. Quércia sofre histórica rejeição do PT.
Pomar listou como "besteiras" recentes o convite a José Serra (PSDB) e ao empresário Antonio Ermírio de Moraes para participar de um seminário do partido, declarações desanimadas de Lula sobre sua viabilidade eleitoral, a decisão de suspender a convenção da legenda e, por fim, o desejo de contar com o apoio de Quércia.
"O que está se tentando é construir um palanque antes de ter um programa e, assim, o palanque vai cair", declarou Pomar, que não aceita a lógica de Lula, para quem o importante é a formação de uma frente de centro-esquerda para enfrentar o projeto "neoliberal" do presidente Fernando Henrique Cardoso.
"Se Lula insistir no perfil de centro-esquerda, perde o eleitorado da esquerda e não ganha nada", acha Pomar. O líder do setor radical entende que o ex-ministro Ciro Gomes (PPS) já ocupou o espaço destinado à pregação de reformas moderadas no modelo vigente.
Por trás das declarações de Lula e Pomar reside o problema de plantão da campanha petista: a linha de campanha.
Lula entende, principalmente depois da adesão do PMDB a FHC, que o PT deve abrir mão de pudores que considera exagerados na hora de analisar alianças e apoios para a eleição.
O embate entre a concepção purista e a pragmática foi adiado até agora, mas os dois lados sabem que é inevitável. Até o desfecho, o pré-candidato pode usar , a favor de sua tese, a ameaça implícita de desistir da disputa, o que o próprio Lula sabe que é impossível de ocorrer, pelo risco de implodir seu partido.



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