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CELSO PINTO
Os ganhos do câmbio
A forte queda da inflação no
primeiro trimestre provocou uma
expressiva aceleração na desvalorização cambial, em termos reais.
No entanto, nem tudo se traduziu
em ganho de competitividade.
O paradoxo é só aparente. A
competitividade externa depende
não só do valor do real em relação
ao dólar, mas também do valor do
dólar em relação às moedas de
parceiros comerciais do Brasil.
Como o dólar tem se valorizado, o
real tem acompanhado, indiretamente, essa valorização.
A desvalorização cambial real,
ou seja, acima da inflação, foi significativa neste primeiro trimestre. O câmbio continuou reajustado a uma média de 0,6% ao mês,
mas os preços despencaram, especialmente do custo de vida.
No primeiro trimestre, o reajuste cambial acumulado ficou em
1,88%. A inflação medida pelo
custo de vida da Fipe, em São Paulo, acumulou uma deflação, ou seja, uma redução, de 0,15%. O IPA,
que mede os preços no atacado,
deve fechar o trimestre com um
acúmulo de 0,86%. O IGP-M, que
mistura atacado, varejo e construção, acumulou 1,33%.
Isso significa que a desvalorização real no trimestre ficou em 2%
sobre a Fipe, 1% sobre o IPA e
0,5% sobre o IGP-M. Em todo o
ano passado, a desvalorização real
ficou em 2,5% em relação à Fipe e
praticamente não houve desvalorização real em relação ao IPA e ao
IGP-M.
O próprio Banco Central havia
dito, em meados do ano passado,
que queria manter uma desvalorização real de 4% a 5% ao ano, nos
próximos três a quatro anos, como forma de corrigir uma sobrevalorização do câmbio. Só que,
nesse cálculo, o BC imaginava um
ganho de uns 2% em relação à inflação brasileira e de outros 2% em
relação à inflação externa. O ganho deste início de ano, portanto,
superou o projetado.
Entende-se, portanto, porque
alguns economistas, entre eles o
atual ministro do Trabalho, Edward Amadeo, falaram em desacelerar a desvalorização como uma
forma de permitir uma redução
mais expressiva dos juros. O tema,
contudo, é controverso. Outros
economistas acham que a queda
na inflação é ótima oportunidade
para recuperar o câmbio mais rápido.
O fato é que, conforme a medida
que se use para avaliar a competitividade externa, o resultado é menos brilhante. O Unibanco mede a
competitividade do real em relação a uma cesta de moedas de parceiros comerciais, usando o IPA
no Brasil e o equivalente no Exterior. No último ano encerrado em
março, não houve ganho algum e,
em relação ao início do Plano
Real, o câmbio ainda está 22,6%
valorizado.
A Confederação Nacional da Indústria tem um índice de taxa de
câmbio efetiva real, que considera
o custo de vida no Brasil (medido
pelo INPC) e o índice de custo de
vida de diversos parceiros comerciais. Não houve ganho algum nos
doze meses encerrados em fevereiro último.
É claro que, a médio prazo, a
perspectiva do dólar pode mudar.
O início do "euro", nova moeda
européia, pode fortalecer sua cotação. Já em relação ao Japão e à
Ásia em geral, a situação é mais incerta.
Tomás Malaga, economista-chefe do Unibanco, diz que é possível
desacelerar o ritmo de reajustes
cambiais, mas não seria prudente.
É possível porque o ganho de um
ponto ou pouco mais em câmbio
real não faria muita diferença. No
entanto, com o mercado internacional ainda sujeito a incertezas, e
a percepção de que o Brasil precisa
ajustar o câmbio real, não seria
bom mexer no ritmo de desvalorização nominal.
"Traficantes de dinheiro"
Quando o primeiro-ministro da
Malásia, Mahathir Mohamed,
culpou os especuladores internacionais pelo débâcle de sua moeda, levou uma saraivada de críticas vindas dos Estados Unidos.
Quando os próprios americanos
tiveram que abandonar a convertibilidade do dólar em ouro,
enterrando o sistema monetário
criado em Bretton Woods, em
1971, a história foi diferente.
No seu discurso à Nação em 15
de agosto, o então presidente Nixon disse que "esta medida não
conquistará amigos entre os traficantes do dinheiro internacional", como está citado num livro
do economista Robert Solomon,
"O Sistema Monetário Internacional", lembrado por Gustavo
Loyola. Nixon acusou os mesmos
"especuladores" de Mahathir, 26
anos antes.
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