São Paulo, domingo, 12 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JANIO DE FREITAS

Onde está a clareza

As recomendações de certos bancos e corretoras internacionais, para que seus clientes desistam de investimentos no Brasil, provocou no ministro da Fazenda uma reação que não é reação, mas apoio.
Pedro Malan pede "clareza da oposição" quanto ao que pretende no governo. Subscreve, portanto, a alegação de que a liderança da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, nas pesquisas eleitorais, é o motivo da recomendação que prejudica o Brasil e muitas de suas empresas.
O problema não é saber a quem Malan se refere, ao falar genericamente em oposição, mas saber a quem ele não se refere. Afinal de contas, todos os atuais candidatos a presidente são de oposição à política e às idéias de Malan, a começar do candidato do governo e, por tal condição, tido como candidato do próprio Malan.
Se o motivo do ataque vem das pesquisas, o problema se deve fundamentalmente a Pedro Malan. Lula da Silva lidera a disputa sucessória por méritos seus, mas, também, porque o governo, contrariando toda a teoria eleitoral, mostra-se incapaz de injetar competitividade no seu candidato. Os tão citados 20% a 25% de apoio automaticamente transferíveis ao candidato oficial, qualquer que seja, mal passam, nas pesquisas atuais, da metade disso.
Ainda que a José Serra sejam atribuídas discutíveis dificuldades pessoais, é reconhecido e inegável que a condição de candidato do governo despeja ônus pesado sobre sua candidatura. E isso só se explica pela rejeição do eleitorado à política imobilista, desempregadora, de impostos brutais e crescentes, de custo de vida muito mais veloz do que os salários e tudo o mais que é a obra de Pedro Malan avalizada por Fernando Henrique Cardoso.
Mais lúcido, embora mais incômodo, seria Pedro Malan pedir clareza aos seus amigos dos bancos e corretoras internacionais sobre os verdadeiros motivos das recomendações contra o Brasil. Diz-se que é por causa do possível Brasil de Lula da Silva. Mas já 2001, sem pesquisas eleitorais, registrou queda de formidáveis 41% no montante de investimento empresariais privados no Brasil: de US$ 265 bilhões em 2000 para US$ 156,5 bilhões. Foi corte feito aqui dentro, por dirigentes que se orientam segundo a situação imediata e as perspectivas geradas pela política econômica.
Explicar a queda com o corte de energia, como foi feito, é truque de comentarista econômico. Primeiro, porque se trata de investimento, que é operação com vistas ao longo prazo. Segundo, porque a capacidade ociosa da indústria andava entre os 20% e os 25% quando se iniciou o racionamento, que, então, deixou intocada a quase totalidade do tempo de produção. Terceiro, porque os indicadores continuam muito ruins depois de encerrado o racionamento, até piores do que ao fim do ano passado. O desemprego cresce mais, em apenas três meses a inflação derrubou as previsões para o ano, a sugestiva produção de carros decresceu e por aí em diante, ou melhor, para baixo.
Os bancos, corretoras e demais especialistas em especulação internacional têm ganho no Brasil de Pedro Malan mais do que em qualquer outra parte do mundo. O que significa que o Brasil tem perdido para eles mais do que qualquer outro país do mundo. É motivo bastante para que expliquem suas recomendações valendo-se das pesquisas e de Lula da Silva, sem cometerem a ingratidão de dizer o que e quem é o verdadeiro motivador do ataque.

Reação troglodita
Em alguns lugares chamam-se pardais, em outros, caso do Rio, são chamados de radares. Em torno deles está criado um movimento, originado pela proliferação desses aparelhos pela Prefeitura de São Paulo. A prefeitura paulistana está acusada de má-fé, porque pretenderia apenas aumentar a arrecadação com maior número de multas de trânsito. No Denatran, Ministério da Justiça, a discussão derrubou seu diretor na sexta-feira.
E, no entanto, o que está errado não é haver multas, é não haver. Quem protesta contra a proliferação de pardais, em São Paulo ou outro lugar, está defendendo a desobediência às regras determinadas, da qual resulta a maior parte da enormidade de acidentes. O brasileiro ao volante é um troglodita motorizado, pela irresponsabilidade e incompetência. Mais radares só podem contribuir para civilizá-lo um pouco. Radares nos cruzamentos com sinais luminosos, os semáforos, por certo evitariam muitos acidentes. E, se comparados aos guardas, ainda têm as vantagens de que não inventam multa, não recebem propina, não dispensam os ônibus e podem comprovar a infração com fotografia, que a prefeitura paulista tem o bom propósito de imprimir na cobrança.
A discussão está mal dirigida. Os radares fazem parte das soluções, e o problema que lhes é atribuído está, de fato, nas velocidades permitidas. É comum até o absurdo de velocidade máxima de 70 km/h em via chamada de alta velocidade (caso, por exemplo, de um trecho do carioca e famoso Aterro do Flamengo). Isso é ignorar a melhoria das pistas e o progresso tecnológico dos carros, resultando em convite à desobediência em tais lugares e à deseducação no trânsito em geral -que inclui ainda os pedestres, quase todos trogloditas desmotorizados.
A administração de trânsito no Brasil parece estar ainda na idade da pedra.

É a perfeição
PM prendeu, no Rio, soldado da PM com carro roubado do chefe do estado-maior da PM.
Isso, sim, é literalmente círculo vicioso.



Texto Anterior: Grafite
Próximo Texto: Rumo às eleições: Analistas apostam na permanência de Serra
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.