São Paulo, domingo, 12 de maio de 2002

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RUMO ÀS ELEIÇÕES
Carlos Ranulfo diz que troca geraria "briga'; para David Fleischer, "a cada semana diminui possibilidade" de saída
Analistas apostam na permanência de Serra

Alan Marques/Folha Imagem David Fleischer, cientista político, em seu escritório, em Brasília RAFAEL CARIELLO
DA REDAÇÃO

"Vai virar briga de famílias." Essa seria a consequência, segundo o cientista político Carlos Ranulfo, de uma hipotética retirada da pré-candidatura do tucano José Serra à Presidência da República. Hipótese que, por isso mesmo, o professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) considera improvável.
Para Ranulfo, 45, da mesma maneira que o PFL interpreta que Serra destruiu a candidatura Roseana Sarney, o PSDB iria interpretar que o PFL e seus aliados destruíram a candidatura Serra. A retirada do pré-candidato tucano significaria então "uma desestabilização irreversível do que resta do campo governista".
"Aí seria um deus-nos-acuda, cada um por si, começaria uma guerra entre o PMDB e o PFL pela vice. Aí sim, nós iríamos assistir a uma grossa pancadaria."
Apesar da aversão do PFL a Serra e das resistências que seu nome enfrenta em setores regionais do PMDB e em alas do próprio PSDB, Ranulfo diz que o raciocínio pragmático dos políticos e setores sociais que se aglutinaram em torno do senador fará com que sua candidatura seja mantida.
"Ruim com Serra, pior sem ele", diz, verbalizando o que acredita ser o pensamento de tucanos, industriais e banqueiros.
"A alternativa que o status quo tem chama-se José Serra. Isso ficou claro no debate da CNI [Confederação Nacional da Indústria". Gostando ou não, é ir com ele, ou então já podem entregar [a eleição" para o Lula [o pré-candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva"."
As causas da atual crise na candidatura do PSDB, iniciada com declarações de tucanos que confirmavam saber da história de possível pedido de propina na privatização da Vale do Rio Doce, seriam as mesmas de crises anteriores, diz Ranulfo.
"A inabilidade do presidente Fernando Henrique Cardoso e de Serra em conduzir a construção de sua candidatura deixou uma série de arestas. Eu só consigo enxergar assim a facilidade com que o [ministro da Educação" Paulo Renato jogou lenha na fogueira."
"Um membro do primeiro escalão do governo que falou: "Olha, vocês me trataram como um ninguém, então toma o troco'", diz Ranulfo, comentando as declarações do ministro sobre o caso.
Paulo Renato disse ter ouvido de Benjamin Steinbruch, que liderou a compra da empresa e se tornou presidente de seu conselho de administração, que o ex-diretor do Banco do Brasil e arrecadador de campanha de Serra, Ricardo Sérgio de Oliveira, teria pedido propina em nome de tucanos para ajudar o empresário a montar o consórcio que comprou a Vale.
Para o cientista político David Fleischer, 60, professor titular da UnB (Universidade de Brasília), o tempo que falta para as eleições (menos de cinco meses) talvez seja o maior aliado de Serra.
Questionado se considera possível a substituição do nome do candidato tucano, Fleischer, não tão categórico quanto seu colega da UFMG, disse que, "quanto maior a demora para trocar o candidato, mais difícil fica para o novo nome decolar".
"Não é impossível [a troca", mas, a cada semana que passa, diminui mais essa possibilidade." A atual crise da candidatura tucana, segundo ele, se deve ao "estilo centralizador de Serra, que tem a tendência de alienar aliados".
A pressão do PFL pela troca do nome da candidatura tucana seria, assim, menos motivada pelo desejo de refazer a aliança governista, que pela vontade de afetar José Serra.
O prejuízo causado por essa "alienação", segundo o analista, se faria sentir para o pré-candidato também em outra frente: a da máquina do governo.
"A pressão do PFL está sendo sentida na dificuldade de se aprovar a emenda da [prorrogação da" CPMF no Senado. Justamente em uma época crucial, a eleitoral, [a divergência com o PFL" pode obrigar o governo a aumentar impostos e cortar gastos, o que é muito infeliz de se fazer em um ano eleitoral."
Sobre o apoio do setor produtivo e do setor financeiro à candidatura Serra, o analista afirmou que "é paradoxal que os bancos, que estão assustados com a queda de Serra, talvez em seu governo possam vir a ser prejudicados".
"Se ele der apoio total ao setor produtivo, isso pode prejudicar os bancos, que podem passar a não ter os lucros tão fantásticos que tiveram nos últimos anos", diz Fleischer.



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