São Paulo, domingo, 12 de maio de 2002

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RUMO ÀS ELEIÇÕES
José Dirceu afirma que eleitorado de apoio ao governo é "forte" e pede pacto de não-agressão da oposição
Governo deve levar Serra ao 2º turno, diz PT


FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL

O PT avalia que, apesar da crise entre os tucanos gerada pelas suspeitas de propina na venda da Vale, o governo tem todas as condições de levar José Serra ao segundo turno da disputa presidencial.
Em entrevista à Folha, o presidente do PT e coordenador-geral da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva, José Dirceu, 56, diz que o governo tem hoje a simpatia de 40% do eleitorado -o que poderia alavancar o tucano.
"As forças políticas e empresariais que apóiam este governo e o eleitorado que sustenta sua política são grandes. Têm condições de levar um candidato para o segundo turno", diz.
Quanto à união das oposições no primeiro turno, Dirceu joga a toalha. Ciro Gomes (PPS) e Anthony Garotinho (PSB) serão candidatos, afirma. A prioridade do PT agora será construir um pacto de não-agressão, com a divulgação de ações e documentos comuns entre eles, para polarizar nitidamente com Serra.
 

Folha - O sr. ainda vê o Serra como o grande rival do PT, apesar dos problemas em sua candidatura?
José Dirceu -
O governo, as forças políticas e empresariais que apóiam este governo e o eleitorado que sustenta sua política são grandes, independentemente de quem seja o candidato. Eles têm condições de levar um candidato para o segundo turno. Mas não quer dizer que outro candidato de oposição além do Lula não possa.

Folha - Qual o alvo prioritário do PT na campanha?
Dirceu -
Eu diria que o eleitorado que nós queremos atingir são os jovens, as mulheres e as cidades com menos de 30 mil eleitores. É onde temos que dialogar. Desconhecem as nossas propostas ou têm rejeição a nós.

Folha - Por que isso acontece?
Dirceu -
Há uma faixa dos jovens que não conhece Lula e PT. Quanto às mulheres, ainda estamos analisando e já estamos tomando ações com relação a isso. O PT tem três senadoras, deputadas destacadas, duas governadoras, a prefeita da maior cidade da América Latina, histórico de defesa das mulheres. Mas o PT não expôs isso corretamente à sociedade.

Folha - Uma das medidas para ganhar o voto feminino poderia ser indicar uma mulher para vice?
Dirceu -
A questão de vice está fora da agenda do PT, só vai entrar em junho. Mas esse [ser mulher" é um critério que vai pesar. Não necessariamente será o único. Isso, claro, na hipótese de o PT indicar o vice para o Lula.

Folha - Cite algumas mulheres que o PT poderia indicar para vice.
Dirceu -
Não vou citar. Está fora da nossa agenda. O vice que está colocado é o [senador" José Alencar (PL-MG), mas está dependendo de o PL tomar uma decisão.

Folha - A possibilidade de união das oposições no primeiro turno ainda existe ou não mais?
Dirceu -
Não vamos fazer nenhum movimento de desestabilizar as outras candidaturas. Minha avaliação é que Ciro e Garotinho serão candidatos e que nós teremos de construir [uma ponte para" o segundo turno e o próximo governo. Queremos fazer com PSB, PPS e PDT um pacto de não-agressão, pronunciamentos e ações comuns e manter nossas alianças nos governos.

Folha - É interessante polarizar com o Serra, por todos os problemas que ele enfrenta?
Dirceu -
Nós vamos polarizar com o governo. Somos oposição. Não vamos responder às críticas de Ciro e Garotinho. Não são nossos inimigos, são adversários. Ciro e Garotinho vão ser candidatos, não há nenhum elemento para dizer que vão se retirar. No segundo turno, quero o apoio deles.

Folha - E o PMDB, vai mesmo apoiar o Serra?
Dirceu -
Com essa crise? Vamos esperar. Continuamos mantendo relações com todos no PMDB que querem dialogar com o PT. A candidatura do Serra está em crise, é o óbvio ululante. Mas o PSDB não tem outro nome.

Folha - Aécio e Tasso são viáveis?
Dirceu -
Não tem tanta diferença assim. A verdade é que há uma contradição política na campanha do Serra. Eles são governo ou não? A ambiguidade prejudica. Serra é o candidato de uma parcela importante da elite. Acontece que em setores do empresariado há uma visão negativa do governo. E alguns grupos econômicos querem nos cooptar para a agenda deles, que é a do continuísmo, do fundamentalismo ortodoxo que dominou o Brasil esses anos. Nós não vamos aceitar isso.

Folha - Se o PT vai mudar a política que os grupos financeiros apreciam, não é natural então que bancos façam relatórios pessimistas por causa da subida do Lula?
Dirceu -
Estão defendendo os interesses deles, não do Brasil. Temos que olhar é o interesse brasileiro, a política que o Brasil precisa para se desenvolver, para criar emprego. O que nós vamos fazer é claro: reduzir juros, distribuir renda, mudar a política de abertura comercial. Somos outro partido, representamos outros setores, vamos fazer outra política. Mas não vamos voltar com a inflação ou fazer irresponsabilidade fiscal.

Folha - Num dia vocês vão à Fiesp e no outro o presidente da entidade diz que se o Lula ganhar vai haver estresse? Por que ir então?
Dirceu -
Porque nós estamos debatendo democracia. Não vamos governar o Brasil sem o empresariado. Queremos reduzir preconceito. Não tem problema dizer que o dia que o Lula assumir vai ter estresse no empresariado. Qualquer mudança de governo cria instabilidade. Se o Serra assumir, vai ter uma série de dúvidas.

Folha - Mas se o Lula ganhar, as dúvidas serão muito maiores.
Dirceu -
Não tem problema. Vamos enfrentar isso.

Folha - Antecipar a divulgação da equipe econômica para acalmar o mercado, como já se falou no partido, é uma possibilidade?
Dirceu -
É improvável hoje que isso ocorra. Mas vai depender da situação política.


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