UOL

São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

OPOSIÇÃO OU GOVERNO?

Presidente se encontrará amanhã com as bancadas peemedebistas na Câmara e no Senado

Lula intervém na negociação com o PMDB

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu intervir nas articulações para incorporar o PMDB à base governista no Congresso. Fará um apelo aos parlamentares peemedebistas para que votem a favor das reformas previdenciária e tributária.
A pedido de Lula, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), discou, na tarde da última sexta-feira, para deputados e senadores do PMDB. Convidou-os para um almoço em sua casa. Será amanhã. Com a presença do presidente da República.
Sarney falou pessoalmente com os expoentes do partido. Delegou a assessores o contato com os demais. Convidaram-se todos os integrantes das bancadas na Câmara e no Senado.
Pelas contas do Planalto, os votos do PMDB são vitais para a aprovação das reformas. Lula confiara ao ministro José Dirceu (Casa Civil) a incumbência de atrair o partido. Mas a missão claudicou.

Fisiologia
Foram tantas e tão infrutíferas as conversas de Dirceu com o PMDB que não restou a Lula senão a ação direta. O apoio do PMDB não está condicionado à qualidade dos projetos governistas. Depende da disposição do PT de fazer concessões à fisiologia.
Com o estômago colado ao balcão de trocas do Congresso, Dirceu não tem hesitado em acomodar apadrinhados de congressistas do PMDB em cargos de escalões inferiores do governo.
O partido, porém, quer mais. Lula também. O PMDB exige um ministério com densidade orçamentária. Algo raro em Brasília. Lula admite acomodar a legenda na Esplanada. Mas quer que a negociação evolua do varejo para o atacado.
O presidente não está seguro de que a nomeação de um ministro peemedebista vá resultar no apoio maciço do partido, fragmentado e sem liderança. Faz-se no Planalto analogia com o PDT.
A despeito de dispor de um ministro -Miro Teixeira (Comunicações)-, o PDT parece em assembléia permanente contra o governo. A diferença é que o PDT tem dono: Leonel Brizola. O PMDB é uma nau desgovernada. O presidente da legenda, Michel Temer, preside cada vez menos.
Se puder, Lula adiará a eventual entrega de um ministério ao PMDB para o final do ano. Funcionaria como prêmio à lealdade. Havendo apoio institucional do partido, a caneta do presidente o reconheceria. Do contrário, poupar-se-ia tinta.
No encontro de amanhã, Lula falará aos peemedebistas num improviso meticulosamente estudado. Só tratará de cargos, uma questão restrita aos subterrâneos, se provocado. Enfatizará a importância das reformas para a estratégia desenvolvimentista de seu governo. Exagerará no relevo que atribui à parceria com o PMDB.

Decisão
O presidente repetirá o que disse ao entregar os projetos de reforma constitucional ao Congresso: ou são aprovados neste ano, ou não saem mais do papel. Acha que em 2004, hipnotizados pelas eleições municipais, Senado e Câmara não votarão nada. Está empenhado em arrancar uma decisão até outubro.
Lula deve fazer-se acompanhar de Dirceu. É possível que leve também os ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda) e Ricardo Berzoini (Previdência). Ficariam à disposição para responder a eventuais dúvidas dos parlamentares peemedebistas.
Para não melindrar congressistas de outras legendas ditas oposicionistas, o presidente deve organizar novos encontros. Planeja reunir-se com as bancadas do PSDB e do PFL.
Embora conte com o apoio de governadores dos dois partidos, cerca-se de cuidados. Não quer correr o risco de ser acusado de menosprezar deputados e senadores, donos da palavra final. Aposta no carisma pessoal para seduzir a oposição.
Lula vê na aprovação das reformas o segundo grande teste do seu governo. O primeiro foi, a seu juízo, evitar o incêndio na economia depois da posse.
Sem as reformas, avalia, o futuro de sua administração estaria comprometido. A atmosfera de desconfiança econômica se reinstalaria no país, com reflexos devastadores.



Texto Anterior: Congresso: Câmara pode revogar cassação
Próximo Texto: Petista toma chimarrão e ganha égua
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.