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OPOSIÇÃO OU GOVERNO?
Presidente se encontrará amanhã com as bancadas peemedebistas na Câmara e no Senado
Lula intervém na negociação com o PMDB
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva decidiu intervir nas articulações para incorporar o PMDB à
base governista no Congresso. Fará um apelo aos parlamentares
peemedebistas para que votem a
favor das reformas previdenciária
e tributária.
A pedido de Lula, o presidente
do Senado, José Sarney (PMDB-AP), discou, na tarde da última
sexta-feira, para deputados e senadores do PMDB. Convidou-os
para um almoço em sua casa. Será
amanhã. Com a presença do presidente da República.
Sarney falou pessoalmente com
os expoentes do partido. Delegou
a assessores o contato com os demais. Convidaram-se todos os integrantes das bancadas na Câmara e no Senado.
Pelas contas do Planalto, os votos do PMDB são vitais para a
aprovação das reformas. Lula
confiara ao ministro José Dirceu
(Casa Civil) a incumbência de
atrair o partido. Mas a missão
claudicou.
Fisiologia
Foram tantas e tão infrutíferas
as conversas de Dirceu com o
PMDB que não restou a Lula senão a ação direta. O apoio do
PMDB não está condicionado à
qualidade dos projetos governistas. Depende da disposição do PT
de fazer concessões à fisiologia.
Com o estômago colado ao balcão de trocas do Congresso, Dirceu não tem hesitado em acomodar apadrinhados de congressistas do PMDB em cargos de escalões inferiores do governo.
O partido, porém, quer mais.
Lula também. O PMDB exige um
ministério com densidade orçamentária. Algo raro em Brasília.
Lula admite acomodar a legenda
na Esplanada. Mas quer que a negociação evolua do varejo para o
atacado.
O presidente não está seguro de
que a nomeação de um ministro
peemedebista vá resultar no
apoio maciço do partido, fragmentado e sem liderança. Faz-se
no Planalto analogia com o PDT.
A despeito de dispor de um ministro -Miro Teixeira (Comunicações)-, o PDT parece em assembléia permanente contra o
governo. A diferença é que o PDT
tem dono: Leonel Brizola. O
PMDB é uma nau desgovernada.
O presidente da legenda, Michel
Temer, preside cada vez menos.
Se puder, Lula adiará a eventual
entrega de um ministério ao
PMDB para o final do ano. Funcionaria como prêmio à lealdade.
Havendo apoio institucional do
partido, a caneta do presidente o
reconheceria. Do contrário, poupar-se-ia tinta.
No encontro de amanhã, Lula
falará aos peemedebistas num
improviso meticulosamente estudado. Só tratará de cargos, uma
questão restrita aos subterrâneos,
se provocado. Enfatizará a importância das reformas para a estratégia desenvolvimentista de seu governo. Exagerará no relevo que
atribui à parceria com o PMDB.
Decisão
O presidente repetirá o que disse ao entregar os projetos de reforma constitucional ao Congresso: ou são aprovados neste ano,
ou não saem mais do papel. Acha
que em 2004, hipnotizados pelas
eleições municipais, Senado e Câmara não votarão nada. Está empenhado em arrancar uma decisão até outubro.
Lula deve fazer-se acompanhar
de Dirceu. É possível que leve
também os ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda) e Ricardo
Berzoini (Previdência). Ficariam
à disposição para responder a
eventuais dúvidas dos parlamentares peemedebistas.
Para não melindrar congressistas de outras legendas ditas oposicionistas, o presidente deve organizar novos encontros. Planeja
reunir-se com as bancadas do
PSDB e do PFL.
Embora conte com o apoio de
governadores dos dois partidos,
cerca-se de cuidados. Não quer
correr o risco de ser acusado de
menosprezar deputados e senadores, donos da palavra final.
Aposta no carisma pessoal para
seduzir a oposição.
Lula vê na aprovação das reformas o segundo grande teste do
seu governo. O primeiro foi, a seu
juízo, evitar o incêndio na economia depois da posse.
Sem as reformas, avalia, o futuro de sua administração estaria
comprometido. A atmosfera de
desconfiança econômica se reinstalaria no país, com reflexos devastadores.
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