São Paulo, sexta-feira, 12 de maio de 2006

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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/ GUERRA DAS TELES

Afirmação foi feita por advogados do banqueiro; Citigroup diz que alegações não têm base

Opportunity insinua que Lula pressionou Citi contra Dantas

LEILA SUWWAN
DE NOVA YORK

JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Correspondência interna trocada entre executivos do Citigroup sustenta que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva interferiu em favor dos fundos de pensão e contra o Opportunity na disputa pela Brasil Telecom.
No dia 26 de abril passado, um advogado do Opportunity se referiu a essa suposta pressão do presidente ao se dirigir ao juiz Lewis Kaplan, da Corte de Nova York, responsável pelo litígio entre o grupo do banqueiro brasileiro Daniel Dantas e o Citigroup.
"Há interesses comerciais, conforme explicado por Gustavo Marín, presidente do Citibank Brasil, da Brasil Telecom, e reportados do seu encontro com o presidente do Brasil: o governo do Brasil odeia Daniel Dantas. É o que ele [Marín] disse. Eles têm muito mais interesse em fazer transações com o Brasil do que qualquer coisa que possa acontecer com este investimento em particular", argumentou Philip Korologos, advogado do Opportunity.
A afirmação consta do documento público número 336 do processo movido desde o ano passado pelo Citi, nos Estados Unidos, contra o grupo de Daniel Dantas. Até ontem à noite, nenhum outro documento público do mesmo processo trazia contestação do Citi à declaração. A Folha teve acesso apenas aos autos que não estão sob sigilo judicial.
Segundo a Folha apurou, a reunião entre Gustavo Marín e o presidente Lula foi relatada pelo próprio presidente do Citi no Brasil a executivos da matriz da empresa, baseados nos Estados Unidos.
Procurado ontem pela reportagem, o Citigroup declarou que as alegações do Opportunity não têm base. O Opportunity, por sua vez, limitou-se a dizer que tudo o que tem a falar consta do processo e negou intenção de fazer denúncias contra o governo. Procurado ontem à noite, o Palácio do Planalto afirmou que só poderiam se pronunciar sobre o assunto os assessores que acompanhavam Lula em Viena, na Áustria.

Processo
O Citi acusa o Opportunity de chantagem e gestão fraudulenta nos EUA desde 2005, embora os sinais de desgastes com o grupo de Daniel Dantas tenham ficado evidentes ainda em 2004. Ambos são acionistas da Brasil Telecom, operadora de telefonia fixa que atende as regiões Norte, Centro-Oeste e Sul. A empresa é disputada por quatro grupos: Citi, Opportunity, Telecom Italia e fundos de pensão. A maior parte dos fundos é patrocinada por empresas estatais e, portanto, mantêm diretores indicados pelo governo.
Em março de 2005, o Citi fechou acordo repassando aos fundos o controle da Brasil Telecom -Dantas foi destituído do controle da telefônica. O acordo prevê que os fundos comprem a participação do Citi até 2007 se não surgir um terceiro comprador.

Agenda
A agenda oficial da Presidência registra um encontro entre o Lula e executivos do Citigroup em 23 de junho de 2004. Ocorreu no hotel Waldorf Astoria, em Nova York. A agenda, todavia, não identifica os participantes da reunião ou os assuntos discutidos.
Um ano antes, em 28 de maio de 2003, no encerramento do 1º Seminário Internacional dos Fundos de Pensão, Lula afirmou publicamente: "Os fundos de pensão, no mundo inteiro, deveriam ter uma visão de solidariedade maior que a do Citibank".
A Folha apurou que as declarações de Lula se seguiram a uma série de reuniões entre executivos do Citi e do Opportunity -na época aliados- com representantes do governo. Na lista, José Dirceu e Cássio Casseb, então ministro-chefe da Casa Civil e presidente do Banco do Brasil, respectivamente. Ambos sempre negaram pressão sobre o Citi para trocar o Opportunity pelos fundos.
O presidente do Citi no Brasil foi convocado no ano passado pela CPI do Mensalão. Confirmou encontros com Dirceu e o então ministro Antonio Palocci (Fazenda, em dezembro de 2004), mas negou que a Brasil Telecom ou as relações do Citi com Dantas constassem da pauta.

Queixas
Em 4 de maio deste ano, advogados do Opportunity disseram ao juiz de Nova York que a Brasil Telecom, sem o comando de Dantas, está servindo a outros interesses que não apenas os comerciais. Nesse trecho, mais uma vez citam o presidente Lula:
"Eles estão perseguindo interesses mais amplos do Citibank e interesses mais amplos dos fundos de pensão, inclusive como já foi descrito pelo Citibank e suas ligações e contatos com o presidente Lula e seu governo", disse um advogado, conforme os autos.
Os advogados do Opportunity tiveram acesso a e-mails internos do Citigroup porque a Justiça americana permite a requisição de documentos para a coleta de provas. As informações obtidas por esse meio não podem ser divulgadas a terceiros. No decorrer do processo, entretanto, advogados das partes litigantes podem mencionar detalhes observados no conjunto de provas.


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