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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/ GUERRA DAS TELES
Afirmação foi feita por advogados do banqueiro; Citigroup diz que alegações não têm base
Opportunity insinua que Lula pressionou Citi contra Dantas
LEILA SUWWAN
DE NOVA YORK
JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Correspondência interna trocada entre executivos do Citigroup
sustenta que o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva interferiu em
favor dos fundos de pensão e contra o Opportunity na disputa pela
Brasil Telecom.
No dia 26 de abril passado, um
advogado do Opportunity se referiu a essa suposta pressão do presidente ao se dirigir ao juiz Lewis
Kaplan, da Corte de Nova York,
responsável pelo litígio entre o
grupo do banqueiro brasileiro
Daniel Dantas e o Citigroup.
"Há interesses comerciais, conforme explicado por Gustavo Marín, presidente do Citibank Brasil,
da Brasil Telecom, e reportados
do seu encontro com o presidente
do Brasil: o governo do Brasil
odeia Daniel Dantas. É o que ele
[Marín] disse. Eles têm muito
mais interesse em fazer transações com o Brasil do que qualquer
coisa que possa acontecer com este investimento em particular",
argumentou Philip Korologos,
advogado do Opportunity.
A afirmação consta do documento público número 336 do
processo movido desde o ano
passado pelo Citi, nos Estados
Unidos, contra o grupo de Daniel
Dantas. Até ontem à noite, nenhum outro documento público
do mesmo processo trazia contestação do Citi à declaração. A Folha teve acesso apenas aos autos
que não estão sob sigilo judicial.
Segundo a Folha apurou, a reunião entre Gustavo Marín e o presidente Lula foi relatada pelo próprio presidente do Citi no Brasil a
executivos da matriz da empresa,
baseados nos Estados Unidos.
Procurado ontem pela reportagem, o Citigroup declarou que as
alegações do Opportunity não
têm base. O Opportunity, por sua
vez, limitou-se a dizer que tudo o
que tem a falar consta do processo
e negou intenção de fazer denúncias contra o governo. Procurado
ontem à noite, o Palácio do Planalto afirmou que só poderiam se
pronunciar sobre o assunto os assessores que acompanhavam Lula em Viena, na Áustria.
Processo
O Citi acusa o Opportunity de
chantagem e gestão fraudulenta
nos EUA desde 2005, embora os
sinais de desgastes com o grupo
de Daniel Dantas tenham ficado
evidentes ainda em 2004. Ambos
são acionistas da Brasil Telecom,
operadora de telefonia fixa que
atende as regiões Norte, Centro-Oeste e Sul. A empresa é disputada por quatro grupos: Citi, Opportunity, Telecom Italia e fundos
de pensão. A maior parte dos fundos é patrocinada por empresas
estatais e, portanto, mantêm diretores indicados pelo governo.
Em março de 2005, o Citi fechou
acordo repassando aos fundos o
controle da Brasil Telecom
-Dantas foi destituído do controle da telefônica. O acordo prevê que os fundos comprem a participação do Citi até 2007 se não
surgir um terceiro comprador.
Agenda
A agenda oficial da Presidência
registra um encontro entre o Lula
e executivos do Citigroup em 23
de junho de 2004. Ocorreu no hotel Waldorf Astoria, em Nova
York. A agenda, todavia, não
identifica os participantes da reunião ou os assuntos discutidos.
Um ano antes, em 28 de maio de
2003, no encerramento do 1º Seminário Internacional dos Fundos de Pensão, Lula afirmou publicamente: "Os fundos de pensão, no mundo inteiro, deveriam
ter uma visão de solidariedade
maior que a do Citibank".
A Folha apurou que as declarações de Lula se seguiram a uma
série de reuniões entre executivos
do Citi e do Opportunity -na
época aliados- com representantes do governo. Na lista, José
Dirceu e Cássio Casseb, então ministro-chefe da Casa Civil e presidente do Banco do Brasil, respectivamente. Ambos sempre negaram pressão sobre o Citi para trocar o Opportunity pelos fundos.
O presidente do Citi no Brasil
foi convocado no ano passado pela CPI do Mensalão. Confirmou
encontros com Dirceu e o então
ministro Antonio Palocci (Fazenda, em dezembro de 2004), mas
negou que a Brasil Telecom ou as
relações do Citi com Dantas constassem da pauta.
Queixas
Em 4 de maio deste ano, advogados do Opportunity disseram
ao juiz de Nova York que a Brasil
Telecom, sem o comando de
Dantas, está servindo a outros interesses que não apenas os comerciais. Nesse trecho, mais uma
vez citam o presidente Lula:
"Eles estão perseguindo interesses mais amplos do Citibank e interesses mais amplos dos fundos
de pensão, inclusive como já foi
descrito pelo Citibank e suas ligações e contatos com o presidente
Lula e seu governo", disse um advogado, conforme os autos.
Os advogados do Opportunity
tiveram acesso a e-mails internos
do Citigroup porque a Justiça
americana permite a requisição
de documentos para a coleta de
provas. As informações obtidas
por esse meio não podem ser divulgadas a terceiros. No decorrer
do processo, entretanto, advogados das partes litigantes podem
mencionar detalhes observados
no conjunto de provas.
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