São Paulo, sexta-feira, 12 de maio de 2006

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MENSALÃO/ ARQUIVO VIVO

Ex-petista recua de suas acusações; para policiais, Pereira quis pressionar o partido

Silvio nega à PF saber de corrupção nos Correios

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em depoimento à Polícia Federal ontem, o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira negou ter ingerência política sobre os Correios ou qualquer conhecimento sobre fraudes em contratos firmados pela estatal.
Questionado sobre a entrevista que deu ao jornal "O Globo", na qual afirma que o valerioduto pretendia arrecadar R$ 1 bilhão em negócios com o governo, ele disse ter "buscado tais informações, salvo engano, em matéria publicada pela revista "Veja'".
Disse também "desconhecer" se a soma teria como fonte contratos entre as agências do publicitário Marcos Valério de Souza com o governo, entre os quais o da SMPB com os Correios.
Para a PF, a intenção de Pereira ao conceder a entrevista ao "Globo" foi pressionar o PT. O ex-dirigente do partido sentiu-se abandonado pelos antigos companheiros. Tentou sinalizar que tem coisas a dizer. Seu estado de espírito, em depressão e fragilizado desde que deixou o PT, em julho do ano passado, funcionou como combustível para as declarações, contrariando o silêncio e as negativas que ele manteve no último ano.
Junte-se a isso o fato de, uma semana antes da entrevista, o partido ter realizado o encontro nacional da legenda, para o qual Pereira não fora convidado.
No depoimento, ele negou ter dado uma "entrevista". Disse que "desabafou toda a sua angústia e aflição" e que "não baseou suas declarações em fato concreto".
Silvio Pereira também depôs na Procuradoria da República do Distrito Federal. O depoimento começou por volta das 15h e até as 23h15 não havia terminado. Ele depõe no inquérito que investiga irregularidades em licitações e contratos nos Correios. Aos procuradores, a Folha apurou que ele fez uma descrição de atuação no partido e fez um histórico sobre sua vida, sem citar nomes e sem acusar ninguém.
Anteontem, ao depor na CPI dos Bingos, Pereira disse não saber distinguir o que é "fato, fantasia ou ficção" na sua entrevista ao jornal.
No depoimento à PF, ele apontou o ex-diretor de Tecnologia dos Correios Eduardo Medeiros como a única indicação do PT para o comando da estatal, ainda assim com uma ressalva: o padrinho de Medeiros seria o núcleo petista dos funcionários da empresa e não propriamente do partido.
Ele afirmou ter repassado essa informação ao senador Fernando Bezerra (PTB-RN), em caráter reservado, ao perceber um "grande conflito entre partidos da base aliada para a composição da diretoria" dos Correios.
Pretendia, assim, sinalizar que essa diretoria seria uma posição mais fácil para encaixar Ezequiel Ferreira, um apadrinhado que Bezerra já tentara, sem sucesso, encaixar no Banco do Nordeste.
Conforme Pereira disse no depoimento, sua atuação se limitava a receber e triar indicações das bases petista e aliada, que a ele encaminhavam nomes para ocupar os cargos no governo.
Feita a seleção prévia, as indicações mais bem cotadas eram enviadas para apreciação dos ministros de Estado, aos quais caberia a última palavra sobre as nomeações relativas às respectivas pastas e estatais a elas subordinadas.
Segundo disse aos policiais, para os 19 mil cargos comissionados disponíveis no governo, o PT indicou 1,6 mil pessoas por meio desse sistema de triagem.
Advogado do ex-secretário petista, Iberê Bandeira de Mello disse que seu cliente era apenas um "tarefeiro", um "operador do PT, como existem operadores em todos os partidos. Ele era dirigente do PT, mas não dirigente do país".
"Ele não cometeu crime algum. Não tem prova de crime cometido pelo Silvio de jeito nenhum, em lugar nenhum", disse Bandeira de Mello, ao final do depoimento de quase quatro horas, na sede da PF, em Brasília.
Apesar de negar ter influência sobre contratos firmados pelos Correios, Pereira confirmou aos policiais que se encontrou com o dono da empresa aérea Skymaster, Luiz Otávio Gonçalves, no Sofitel, em São Paulo.
Segundo Pereira, o empresário insistira muito no encontro, alegando que estaria sendo perseguido por "um petista" nos Correios. Na reunião, Gonçalves teria pedido que o ex-dirigente petista intermediasse um encontro com o então ministro das Comunicações, Miro Teixeira. Resposta que consta do depoimento: melhor que o empresário agendasse o encontro por seus próprios meios.





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