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MENSALÃO/ ARQUIVO VIVO
Ex-petista recua de suas acusações; para
policiais, Pereira quis pressionar o partido
Silvio nega à PF saber de corrupção nos Correios
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em depoimento à Polícia Federal ontem, o ex-secretário-geral
do PT Silvio Pereira negou ter ingerência política sobre os Correios ou qualquer conhecimento
sobre fraudes em contratos firmados pela estatal.
Questionado sobre a entrevista
que deu ao jornal "O Globo", na
qual afirma que o valerioduto
pretendia arrecadar R$ 1 bilhão
em negócios com o governo, ele
disse ter "buscado tais informações, salvo engano, em matéria
publicada pela revista "Veja'".
Disse também "desconhecer"
se a soma teria como fonte contratos entre as agências do publicitário Marcos Valério de Souza
com o governo, entre os quais o
da SMPB com os Correios.
Para a PF, a intenção de Pereira
ao conceder a entrevista ao "Globo" foi pressionar o PT. O ex-dirigente do partido sentiu-se abandonado pelos antigos companheiros. Tentou sinalizar que tem
coisas a dizer. Seu estado de espírito, em depressão e fragilizado
desde que deixou o PT, em julho
do ano passado, funcionou como
combustível para as declarações,
contrariando o silêncio e as negativas que ele manteve no último
ano.
Junte-se a isso o fato de, uma semana antes da entrevista, o partido ter realizado o encontro nacional da legenda, para o qual Pereira não fora convidado.
No depoimento, ele negou ter
dado uma "entrevista". Disse que
"desabafou toda a sua angústia e
aflição" e que "não baseou suas
declarações em fato concreto".
Silvio Pereira também depôs na
Procuradoria da República do
Distrito Federal. O depoimento
começou por volta das 15h e até
as 23h15 não havia terminado. Ele
depõe no inquérito que investiga
irregularidades em licitações e
contratos nos Correios. Aos procuradores, a Folha apurou que ele
fez uma descrição de atuação no
partido e fez um histórico sobre
sua vida, sem citar nomes e sem
acusar ninguém.
Anteontem, ao depor na CPI
dos Bingos, Pereira disse não saber distinguir o que é "fato, fantasia ou ficção" na sua entrevista ao
jornal.
No depoimento à PF, ele apontou o ex-diretor de Tecnologia
dos Correios Eduardo Medeiros
como a única indicação do PT para o comando da estatal, ainda assim com uma ressalva: o padrinho de Medeiros seria o núcleo
petista dos funcionários da empresa e não propriamente do partido.
Ele afirmou ter repassado essa
informação ao senador Fernando
Bezerra (PTB-RN), em caráter reservado, ao perceber um "grande
conflito entre partidos da base
aliada para a composição da diretoria" dos Correios.
Pretendia, assim, sinalizar que
essa diretoria seria uma posição
mais fácil para encaixar Ezequiel
Ferreira, um apadrinhado que
Bezerra já tentara, sem sucesso,
encaixar no Banco do Nordeste.
Conforme Pereira disse no depoimento, sua atuação se limitava a receber e triar indicações das
bases petista e aliada, que a ele encaminhavam nomes para ocupar
os cargos no governo.
Feita a seleção prévia, as indicações mais bem cotadas eram enviadas para apreciação dos ministros de Estado, aos quais caberia a
última palavra sobre as nomeações relativas às respectivas pastas e estatais a elas subordinadas.
Segundo disse aos policiais, para os 19 mil cargos comissionados
disponíveis no governo, o PT indicou 1,6 mil pessoas por meio
desse sistema de triagem.
Advogado do ex-secretário petista, Iberê Bandeira de Mello disse que seu cliente era apenas um
"tarefeiro", um "operador do PT,
como existem operadores em todos os partidos. Ele era dirigente
do PT, mas não dirigente do
país".
"Ele não cometeu crime algum.
Não tem prova de crime cometido pelo Silvio de jeito nenhum,
em lugar nenhum", disse Bandeira de Mello, ao final do depoimento de quase quatro horas, na
sede da PF, em Brasília.
Apesar de negar ter influência
sobre contratos firmados pelos
Correios, Pereira confirmou aos
policiais que se encontrou com o
dono da empresa aérea Skymaster, Luiz Otávio Gonçalves, no Sofitel, em São Paulo.
Segundo Pereira, o empresário
insistira muito no encontro, alegando que estaria sendo perseguido por "um petista" nos Correios. Na reunião, Gonçalves teria
pedido que o ex-dirigente petista
intermediasse um encontro com
o então ministro das Comunicações, Miro Teixeira. Resposta que
consta do depoimento: melhor
que o empresário agendasse o encontro por seus próprios meios.
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