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Lula afirma que já avisou o papa de que TV pública será laica
Presidente critica emissoras de TV abertas por não darem espaço a temas importantes, como o aborto e o biodiesel
Estréia da rede deve ocorrer em 2 de dezembro; petista diz que não quer emissora "chapa-branca", pois ela se desmoraliza por si mesma
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao participar ontem do encerramento do primeiro Fórum Nacional de TVs Públicas,
o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva disse que já "pegou no
breu" o projeto da rede pública
nacional de rádio e TV e que ela
será criada sem "trololó".
"A coisa pegou no breu. Ou
seja, quando eu convidei o
Franklin [Martins] pra ser ministro [da Comunicação Social], uma das coisas que eu disse pro Franklin é o seguinte:
"Nós vamos fazer a TV pública,
vamos fazer sem trololó". Vamos fazer porque é preciso fazer", disse o presidente durante
evento num hotel de Brasília.
A expressão "pegar no breu"
nasceu de grupos de baloeiros.
O breu, uma substância inflamável, fica no centro da tocha
do balão, embrulhado em estopa. Quando o breu pega fogo, o
balão está pronto pra subir.
Na fala improvisada, diante
de uma claque que o aplaudia,
Lula voltou a dizer que a rede
pública não será criada para defender partidos, ideologias e religiões. "Eu já disse pro papa
[Bento 16] ontem [anteontem]
que o Brasil é um país laico. E a
nossa televisão será laica. Ela
respeitará tudo e todos", disse.
"O país está maduro, a imprensa está madura para compreender a necessidade disso,
acho que os artistas brasileiros
estão maduros para compreender a necessidade disso. Não
queremos e eu não acredito em
coisa chapa-branca. A coisa
chapa-branca, o mal dela, é que
ela se desmoraliza por ela mesma", completou Lula, ao lado
dos ministros Gilberto Gil
(Cultura) e Franklin Martins.
Em duas semanas, o governo
deve apresentar os modelos de
gestão e financiamento da rede
pública de rádio e TV. A estréia
da televisão está prevista para 2
de dezembro, data em que terá
início a transmissão do sinal da
TV digital aberta no país.
TV paga
Ontem, ao tratar da necessidade da TV pública, fez críticas
e elogios às redes por assinatura. "É duro achar um filme
bom. Mas quem perde o sono
tem que ver", afirmou o petista.
"Gosto [de TV a cabo] porque
posso ver o futebol europeu."
O presidente atacou também
as emissoras abertas de TV.
Disse que falta espaço para temas importantes à sociedade.
Ele citou aborto, energia nuclear, economia, uso de célula
tronco e biodiesel. "Eu não tenho do que me queixar porque
eu sou um político bem tratado
pela imprensa. Eu não tenho do
que reclamar", disse.
Sobre a criação da rede pública, disse que não existe "democracia" em países nos quais o
presidente governa por meio
de decretos. Desde janeiro deste ano, seu colega venezuelano,
Hugo Chávez, tem legislado na
base do decreto, sem precisar
do Congresso para a aprovação
de leis. "Isso [a TV] tem quer
ser votado no Congresso Nacional. Graças a Deus nós conquistamos a democracia neste
país, e o presidente não pode
criar por decreto. Tem que ser
um projeto de lei ou uma medida provisória que vamos ainda
decidir qual a melhor medida
pra gente mandar", afirmou.
FHC
No discurso, de quase 20 minutos, houve espaço ainda para
citar nominalmente o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: "No primeiro mandato
foi pra gente fazer o que fizemos mesmo. Hoje a gente não
tem que discutir mais estabilidade, não tem que discutir mais
inflação, eu não tenho que ficar
mais utilizando o Fernando
Henrique Cardoso como comparação pra nada".
O segundo mandato, de acordo com Lula, será usado para
"criar coisas novas".
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