São Paulo, sábado, 12 de maio de 2007

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Lula afirma que já avisou o papa de que TV pública será laica

Presidente critica emissoras de TV abertas por não darem espaço a temas importantes, como o aborto e o biodiesel

Estréia da rede deve ocorrer em 2 de dezembro; petista diz que não quer emissora "chapa-branca", pois ela se desmoraliza por si mesma


EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao participar ontem do encerramento do primeiro Fórum Nacional de TVs Públicas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que já "pegou no breu" o projeto da rede pública nacional de rádio e TV e que ela será criada sem "trololó".
"A coisa pegou no breu. Ou seja, quando eu convidei o Franklin [Martins] pra ser ministro [da Comunicação Social], uma das coisas que eu disse pro Franklin é o seguinte: "Nós vamos fazer a TV pública, vamos fazer sem trololó". Vamos fazer porque é preciso fazer", disse o presidente durante evento num hotel de Brasília.
A expressão "pegar no breu" nasceu de grupos de baloeiros. O breu, uma substância inflamável, fica no centro da tocha do balão, embrulhado em estopa. Quando o breu pega fogo, o balão está pronto pra subir.
Na fala improvisada, diante de uma claque que o aplaudia, Lula voltou a dizer que a rede pública não será criada para defender partidos, ideologias e religiões. "Eu já disse pro papa [Bento 16] ontem [anteontem] que o Brasil é um país laico. E a nossa televisão será laica. Ela respeitará tudo e todos", disse.
"O país está maduro, a imprensa está madura para compreender a necessidade disso, acho que os artistas brasileiros estão maduros para compreender a necessidade disso. Não queremos e eu não acredito em coisa chapa-branca. A coisa chapa-branca, o mal dela, é que ela se desmoraliza por ela mesma", completou Lula, ao lado dos ministros Gilberto Gil (Cultura) e Franklin Martins.
Em duas semanas, o governo deve apresentar os modelos de gestão e financiamento da rede pública de rádio e TV. A estréia da televisão está prevista para 2 de dezembro, data em que terá início a transmissão do sinal da TV digital aberta no país.

TV paga
Ontem, ao tratar da necessidade da TV pública, fez críticas e elogios às redes por assinatura. "É duro achar um filme bom. Mas quem perde o sono tem que ver", afirmou o petista. "Gosto [de TV a cabo] porque posso ver o futebol europeu."
O presidente atacou também as emissoras abertas de TV. Disse que falta espaço para temas importantes à sociedade. Ele citou aborto, energia nuclear, economia, uso de célula tronco e biodiesel. "Eu não tenho do que me queixar porque eu sou um político bem tratado pela imprensa. Eu não tenho do que reclamar", disse.
Sobre a criação da rede pública, disse que não existe "democracia" em países nos quais o presidente governa por meio de decretos. Desde janeiro deste ano, seu colega venezuelano, Hugo Chávez, tem legislado na base do decreto, sem precisar do Congresso para a aprovação de leis. "Isso [a TV] tem quer ser votado no Congresso Nacional. Graças a Deus nós conquistamos a democracia neste país, e o presidente não pode criar por decreto. Tem que ser um projeto de lei ou uma medida provisória que vamos ainda decidir qual a melhor medida pra gente mandar", afirmou.

FHC
No discurso, de quase 20 minutos, houve espaço ainda para citar nominalmente o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: "No primeiro mandato foi pra gente fazer o que fizemos mesmo. Hoje a gente não tem que discutir mais estabilidade, não tem que discutir mais inflação, eu não tenho que ficar mais utilizando o Fernando Henrique Cardoso como comparação pra nada".
O segundo mandato, de acordo com Lula, será usado para "criar coisas novas".


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