São Paulo, terça, 12 de maio de 1998

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JANIO DE FREITAS
Serjão esquecido

A morte de Sérgio Motta produziu o seu primeiro efeito político, ainda que parcialmente, na desistência da pré-candidatura de Marcello Alencar à reeleição.
Quando Marcello dividia-se entre as várias hipóteses de seu futuro, Sérgio Motta correu ao Rio para fazê-lo definir-se, com a promessa de apoio consistente do governo, pela busca da reeleição. O desagrado do PFL com a intervenção de Motta levou Fernando Henrique Cardoso a propor a Marcello a composição com Cesar Maia, mas o momento da proposta foi o mais impróprio, quando os dois trocavam desaforos agudos.
Na semana passada, Marcello foi a um encontro com Fernando Henrique, que o vinha pressionando para desistir da reeleição. Logo em seguida, o marqueteiro contratado por Marcello, Duda Mendonça, que citava pesquisas contrárias a todas as evidências e demais pesquisas, foi conversar com Fernando Henrique. Mas quinta-feira a desistência já estava decidida.
Sérgio Motta considerava essencial derrotar Cesar Maia, para eliminar desde cedo esse óbvio pretendente à Presidência da República. Quem supôs que Luís Eduardo Magalhães era o candidato certo de Fernando Henrique para 2002 não estava considerando as diretas e indiretas que Sérgio Motta lançava, advertindo em direção contrária. Entre esses sinais, o lançamento da candidatura Covas, por exemplo. E as evidências de que sua alternativa, se impossível o terceiro mandato de Fernando Henrique, era José Serra.
Sem Sérgio Motta, Fernando Henrique aderiu à tese pefelista de que o candidato a ser batido é Anthony Garotinho. E, para fazê-lo, seria indispensável evitar disputa de Marcello e Cesar pelas mesmas faixas do eleitorado. E Marcello reuniu recursos volumosos, arregimentou prefeitos, mas seu desempenho continuou inspirando tão pouca confiança no eleitorado quanto sua saúde. A importância de sua desistência é, porém, quase nula: a polarização era inevitável, com ou sem Marcello.
O que muda é uma certa melhoria na relação de candidatos no infeliz Estado do Rio.

Descaminho
Os dirigentes nacionais do PT estão falando muito em democracia interna, mas o que há no momento não é isso. É violação das normas democráticas de um lado e de outro, pelo grupo majoritário no Rio e pelos defensores da chapa Lula-Brizola.
Vladimir Palmeira e seus apoiadores tinham pleno conhecimento de que a direção nacional fez com Brizola um acordo que envolvia, em troca do apoio do PDT a Lula, o apoio do PT fluminense ao pedetista Anthony Garotinho. Foi para satisfazer o grupo de Vladimir que, em agosto de 97, o Encontro Nacional no Rio precipitou a candidatura de Lula, negando a apreciação democrática de outros possíveis pretendentes. E Lula já condicionava sua candidatura aos acordos que fizesse.
O grupo majoritário no Rio desrespeitou esse entendimento no PT.
Já os dirigentes nacionais vieram para a recente convenção fluminense propagando que qualquer resultado seria válido. Convencidos da vitória, não cuidaram de lembrar ao PT-RJ que aceitara as condições de Lula. Derrotados, disseram que a convenção fluminense contrariou a estratégia nacional, mas foi tomada legitimamente.
Convenção estadual que contraria estratégia nacional não parece legítima. Se é, não será legítimo o ato que a anule.
A candidatura de Lula nasceu erradamente, forçada e vazia, e continua em sinuosidades que sugerem aos petistas a conveniência, não mais de discuti-la, mas de discutir o PT com a coragem de aceitar qualquer fim.

Ausência
A partir de amanhã, este espaço estará ocupado por textos mais proveitosos. Até a volta e bom proveito -para nós ambos.



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