São Paulo, terça, 12 de maio de 1998

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Ex-ministro diz que ato testou abertura

LUIS HENRIQUE AMARAL
da Reportagem Local

Ministro do Trabalho entre 1974 e 79, Arnaldo Prieto, 78, revelou ontem que os setores mais radicais do governo Geisel quiseram "dar porrada" nos grevistas da Scania. "A greve foi um dos testes mais duros do processo de abertura lenta, gradual e segura determinada pelo presidente", afirmou.
Segundo Prieto, o "esquema de segurança" do governo de São Paulo estava pronto para agir no caso de quebra-quebra. "Mas a greve foi pacífica. Nós não intervimos no sindicato pelo desafio de manter a abertura democrática."
Prieto evita falar os nomes dos governistas que queriam a repressão à greve. Diz apenas que não eram militares. "Estes obedeciam à determinação do governo."
Amparado por uma legislação trabalhista que praticamente impedia a possibilidade de greve, o governo Geisel tentou manter por todo o tempo o verniz da legalidade. A posição "legalista" de Prieto pode ser encontrada em suas decisões tomadas durante a greve.
Nos primeiros dias da paralisação, ele afirmou que a legalidade do movimento era "problema da Justiça".
Quando o Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo julgou a greve ilegal por 15 votos contra 1, Prieto afirmou que a decisão deveria ser "respeitada", mas determinou que a Delegacia Regional do Trabalho paulista continuasse as negociações com os grevistas.
Durante a greve, ele surpreendeu ao apelar aos patrões que não descontassem os dias parados dos grevistas e ao defender reajustes para que os salários "não perdessem o poder aquisitivo".
Fazendo um balanço do aniversário dos 20 anos da greve da Scania, Prieto lembra que recebia telefonema diários de Geisel. "Ele determinou que eu mantivesse aberto o canal de comunicação com os trabalhadores e também a paz social", diz, lembrando que, enquanto ele foi ministro, não houve prisões de sindicalistas.
Depois de deixar o ministério, Prieto foi ministro do Tribunal de Contas da União entre 79 e 82. Hoje, é diretor da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança.



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