São Paulo, terça, 12 de maio de 1998

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Ex-ministros divergem sobre projeto de desvio do S. Francisco

EMANUEL NERI
da Reportagem Local

O ex-ministro da Integração Regional Aluizio Alves disse que as alterações feitas no projeto de desvio do rio São Francisco têm o objetivo de beneficiar a Paraíba. Responsabilizou o ex-ministro de Políticas Regionais (até abril), Fernando Catão, pela mudança.
Alves, que é do Rio Grande do Norte, um dos Estados beneficiados com o projeto, foi ministro do governo Itamar Franco. Seu ministério foi responsável por um projeto concluído em 1994. Paraíba, Pernambuco e Ceará também se beneficiam com a transposição.
O projeto de Alves retira 70 m3 por segundo das águas do São Francisco. Desse total, 25 m3 abastecerão açudes e rios secos do Ceará; Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte ficarão cada um com 15 m3 de água.
Depois de ficar parado por quatro anos e de mais uma seca no Nordeste, FHC promete iniciar as obras em 99 e concluí-las em quatro anos. Só na elaboração de estudos para o novo projeto estão sendo gastos R$ 15 milhões. As obras estão orçadas em R$ 1,5 bilhão.

Disputa regional
Segundo Aluizio Alves, as alterações feitas por Catão iriam prejudicar seu Estado. "A Paraíba queria fazer mais um ramal de água, deixando o Rio Grande do Norte na dependência de receber água do açude de Orós, no Ceará, que leva oito anos para encher", disse.
Para Alves, a Paraíba é um dos Estados do Nordeste mais beneficiados com obras contra as secas. "Catão cancelou o projeto que já estava em andamento e convenceu o presidente da República a fazer um novo projeto com priorização para o consumo humano."
"Mas isso estava previsto no projeto anterior", diz Alves. Mas o ex-ministro também prioriza a utilização de águas para irrigação. Para a Secretaria de Políticas Regionais, o projeto de Alves beneficiava o Rio Grande do Norte.
Catão nega ter beneficiado seu Estado. Segundo ele, a inclusão de mais um ramal no novo projeto tem como objetivo abastecer o Cariri paraibano, uma das regiões mais secas do Nordeste. "É um contra-senso um projeto de abastecimento deixar sem água a região mais seca do Nordeste."
Para Catão, o projeto anterior é uma "loucura" por não contar com estudos detalhados sobre viabilidade de irrigação. "Não quero que meus impostos paguem o custo de um projeto desse", diz.



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