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CELSO PINTO
A cautela do Bilbao Viscaya
A negociação entre o Banco
Bilbao Viscaya (BBV) e o Excel-Econômico envolve uma
dose extra de cautela, por parte
dos espanhóis, que talvez não
esteja clara para todo mundo.
Uma fonte do BBV diz que o
banco assinou apenas uma
carta de intenções com o Excel.
Ficou com o direito de comprar
a maioria do controle, mas só
formalizará o contrato depois
de fazer um levantamento minucioso da situação do Excel
(uma "due dilligence", para
usar o termo técnico).
É normal que negócios de
compra de bancos estejam condicionados a uma avaliação
cuidadosa dos ativos. Menos
comum é se ter apenas uma
carta de intenções como base
da negociação.
O valor da operação também
foi colocado de forma cautelosa. O BBV diz que está disposto
a investir R$ 500 milhões na
compra do Excel. Quanto vai
parar nas mãos dos controladores do Excel é algo que só
será definido depois da avaliação feita pelos espanhóis.
Outro detalhe não tão conhecido na transação é sua origem. Quando o BBV tentou
comprar o BCN, ano passado,
negociou tudo com o banco e só
depois foi falar com o Banco
Central. Dessa vez, foi o BC que
tomou a iniciativa de sinalizar
ao BBV a oportunidade de
comprar o Excel.
A frustração na compra do
BCN deixou os espanhóis irritados. A negociação com Pedro
Conde estava virtualmente fechada, e os espanhóis entendiam que o fato de o BCN ter
acabado de comprar o Credireal, um banco estadual, serviria como "pedágio" para a entrada do BBV.
O BC, contudo, não entendeu
assim. Exigiu que o BBV, como
pedágio, entrasse no leilão de
privatização do Banco Meridional garantindo, pelo menos,
o lance mínimo. O BBV viu as
contas do Meridional, não gostou do seu passivo trabalhista e
decidiu não dar lance algum.
Acabou perdendo o BCN para
o Bradesco, que fez um lance
mínimo pelo Meridional.
Os espanhóis não desistiram,
no entanto, de ter um banco no
Brasil, algo importante para
sua estratégia de ter uma presença forte na América Latina.
Com um valor de mercado de
US$ 32,6 bilhões, o BBV se classifica como o terceiro maior
banco europeu, depois do holandês ING e do alemão Deutsche.
Antes de tentar outra vez, o
presidente do BBV, Emilio
Ybarra, acabou tendo um encontro com o presidente Fernando Henrique Cardoso,
quando ele visitou Londres, em
dezembro. Lembrou a FHC que
o BBV é acionista da Telefónica de España e da Iberdrola.
Ambas têm sido compradoras
importantes nas privatizações
brasileiras, financiadas, em
parte, pelo BBV.
Dessa vez, o negócio do BBV
tem tudo para dar certo, mas
isso vai depender, em última
instância, dos números do Excel.
O imbróglio da Saelpa
A privatização da empresa
de eletricidade da Paraíba, a
Saelpa, atolou numa confusão
jurídica de bom tamanho. Na
licitação para escolher a instituição que vai assessorar o Estado na avaliação, modelagem
e venda da empresa, disputavam quatro consórcios: Paribas/Fator, Kleinwort Benson/Trevisan, Deutsche Morgan Grenfell/Jaakko Pöyry e
Brascan/Natrontec.
Ao julgar as propostas, dia 16
de março, a comissão resolveu
invalidar três consórcios, acatando as impugnações do
quarto consórcio, o da Brascan, que acabou, obviamente,
vencedor. O Deutsche e a Fator
foram impugnados porque seus
documentos não foram autenticados pelo consulado, disse a
comissão, embora os bancos
digam que a autenticação está
lá.
O Fator recorreu à Justiça,
sem sucesso. O Deutsche também recorreu e ganhou uma
liminar concedida pelo desembargador Rivando Cavalcanti.
Ganhou, mas, até agora, não
levou.
A comissão devolveu, por
correio, os envelopes fechados
com as três propostas rejeitadas. O desembargador mandou
um oficial de Justiça entregar
ao secretário do Planejamento,
Mário Silveira, o envelope com
a proposta do Deutsche. Silveira recusou-se a receber.
O desembargador mandou,
então, suspender qualquer trabalho ou pagamento à Brascan
e mandou notificar o presidente do Tribunal de Contas, o
presidente da Saelpa e o secretário do Planejamento. Até
agora, não foram encontrados
nem o secretário nem o presidente da Saelpa. O risco é o
Deutsche, eventualmente, ter
seu envelope aberto, ganhar a
concorrência e o Estado acabar
pagando para dois bancos diferentes pelo mesmo trabalho.
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