São Paulo, terça, 12 de maio de 1998

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CELSO PINTO
A cautela do Bilbao Viscaya

A negociação entre o Banco Bilbao Viscaya (BBV) e o Excel-Econômico envolve uma dose extra de cautela, por parte dos espanhóis, que talvez não esteja clara para todo mundo.
Uma fonte do BBV diz que o banco assinou apenas uma carta de intenções com o Excel. Ficou com o direito de comprar a maioria do controle, mas só formalizará o contrato depois de fazer um levantamento minucioso da situação do Excel (uma "due dilligence", para usar o termo técnico).
É normal que negócios de compra de bancos estejam condicionados a uma avaliação cuidadosa dos ativos. Menos comum é se ter apenas uma carta de intenções como base da negociação.
O valor da operação também foi colocado de forma cautelosa. O BBV diz que está disposto a investir R$ 500 milhões na compra do Excel. Quanto vai parar nas mãos dos controladores do Excel é algo que só será definido depois da avaliação feita pelos espanhóis.
Outro detalhe não tão conhecido na transação é sua origem. Quando o BBV tentou comprar o BCN, ano passado, negociou tudo com o banco e só depois foi falar com o Banco Central. Dessa vez, foi o BC que tomou a iniciativa de sinalizar ao BBV a oportunidade de comprar o Excel.
A frustração na compra do BCN deixou os espanhóis irritados. A negociação com Pedro Conde estava virtualmente fechada, e os espanhóis entendiam que o fato de o BCN ter acabado de comprar o Credireal, um banco estadual, serviria como "pedágio" para a entrada do BBV.
O BC, contudo, não entendeu assim. Exigiu que o BBV, como pedágio, entrasse no leilão de privatização do Banco Meridional garantindo, pelo menos, o lance mínimo. O BBV viu as contas do Meridional, não gostou do seu passivo trabalhista e decidiu não dar lance algum. Acabou perdendo o BCN para o Bradesco, que fez um lance mínimo pelo Meridional.
Os espanhóis não desistiram, no entanto, de ter um banco no Brasil, algo importante para sua estratégia de ter uma presença forte na América Latina. Com um valor de mercado de US$ 32,6 bilhões, o BBV se classifica como o terceiro maior banco europeu, depois do holandês ING e do alemão Deutsche.
Antes de tentar outra vez, o presidente do BBV, Emilio Ybarra, acabou tendo um encontro com o presidente Fernando Henrique Cardoso, quando ele visitou Londres, em dezembro. Lembrou a FHC que o BBV é acionista da Telefónica de España e da Iberdrola. Ambas têm sido compradoras importantes nas privatizações brasileiras, financiadas, em parte, pelo BBV.
Dessa vez, o negócio do BBV tem tudo para dar certo, mas isso vai depender, em última instância, dos números do Excel.

O imbróglio da Saelpa
A privatização da empresa de eletricidade da Paraíba, a Saelpa, atolou numa confusão jurídica de bom tamanho. Na licitação para escolher a instituição que vai assessorar o Estado na avaliação, modelagem e venda da empresa, disputavam quatro consórcios: Paribas/Fator, Kleinwort Benson/Trevisan, Deutsche Morgan Grenfell/Jaakko Pöyry e Brascan/Natrontec.
Ao julgar as propostas, dia 16 de março, a comissão resolveu invalidar três consórcios, acatando as impugnações do quarto consórcio, o da Brascan, que acabou, obviamente, vencedor. O Deutsche e a Fator foram impugnados porque seus documentos não foram autenticados pelo consulado, disse a comissão, embora os bancos digam que a autenticação está lá.
O Fator recorreu à Justiça, sem sucesso. O Deutsche também recorreu e ganhou uma liminar concedida pelo desembargador Rivando Cavalcanti. Ganhou, mas, até agora, não levou.
A comissão devolveu, por correio, os envelopes fechados com as três propostas rejeitadas. O desembargador mandou um oficial de Justiça entregar ao secretário do Planejamento, Mário Silveira, o envelope com a proposta do Deutsche. Silveira recusou-se a receber.
O desembargador mandou, então, suspender qualquer trabalho ou pagamento à Brascan e mandou notificar o presidente do Tribunal de Contas, o presidente da Saelpa e o secretário do Planejamento. Até agora, não foram encontrados nem o secretário nem o presidente da Saelpa. O risco é o Deutsche, eventualmente, ter seu envelope aberto, ganhar a concorrência e o Estado acabar pagando para dois bancos diferentes pelo mesmo trabalho.




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