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JULGAMENTO
Crime ocorreu em 89 no ES; novo júri está marcado para setembro
Rainha é condenado a 26
anos de prisão por mortes
FERNANDA DA ESCÓSSIA
enviada especial a Pedro Canário (ES)
Depois de 17
horas de julgamento, um dos
principais líderes do MST
(Movimento
dos Trabalhadores Rurais
sem Terra), José Rainha Júnior,
36, foi condenado por duplo homicídio, pelo júri popular, a 26
anos e seis meses de prisão.
Como a pena passou de 20 anos,
Rainha tem direito a novo julgamento, marcado para 16 de setembro, em Pedro Canário, a 270 km
de Vitória (ES). Rainha aguardará
o julgamento em liberdade.
As condenações foram por 4 votos a 3, na morte do fazendeiro José Machado Neto, e por 5 votos a 2,
na morte do PM Sérgio Narciso da
Silva, ambas durante a invasão da
fazenda de Machado, em 5 de junho de 1989, em Pedro Canário.
A pena inicial, fixada em 18 anos,
aumentou em mais nove anos,
porque os jurados consideraram
que as mortes resultaram de emboscada e que Rainha tinha "personalidade violenta".
Por fim, a pena foi reduzida em
seis meses, porque os jurados entenderam que Rainha não conhecia a lei penal. Não foram apresentadas provas materiais da participação de Rainha nos crimes. As
provas testemunhais da acusação
limitaram-se aos depoimentos que
constam do processo.
Não foram ouvidas testemunhas
de acusação em plenário. Das cinco arroladas pelos promotoria,
apenas duas compareceram ao julgamento e foram dispensadas.
A versão da defesa, de que Rainha estaria em invasão no interior
do Ceará na época do crime, foi
sustentada por cinco testemunhas.
A principal testemunha de acusação, José Jorge Guimarães, o Zé
Coco, que disse nos autos ter visto
Rainha no local do crime, não
compareceu. Segundo a promotoria, ele teria recebido ameaças.
Seu depoimento foi lido em plenário, tanto pela defesa como pela
acusação. No depoimento, Guimarães descreve Rainha como um
homem de rosto cheio, quase redondo, sem barba e sem bigode,
mais ou menos gordo, cabelos castanhos cacheados, bem cheios".
Rainha é alto, magro, usa barba e
bigode, tem rosto comprido e cabelos curtos e pretos. As testemunhas de defesa afirmaram que, na
época do crime, sua aparência física era igual à de hoje.
Duas testemunhas de defesa, os
vereadores de Narcílio Andrade
(PMDB) e Luís Átila Bezerra
(PSC), disseram ter visto Rainha
em um acampamento no interior
do Ceará no dia do crime.
O deputado estadual Eudoro
Santana (PSB-CE), secretário de
Agricultura do Ceará na época do
crime, disse ter intermediado uma
reunião entre Rainha, os outros
sem-terra e o então governador
Tasso Jereissati.
O coronel PM Sebastião Leandro
Cavalcante, chefe da Casa Militar
de Jereissati (PSDB) -que cumpre o segundo mandato-, disse
ter feito a segurança da reunião,
em 30 de maio de 89, e confirmou a
presença de Rainha.
Os advogados de Rainha, Luiz
Eduardo Greenhalgh e Aton Fon
Filho, protestaram porque consideraram a sentença "contra as
provas". Para Greenhalgh, a condenação foi injusta, e o julgamento, "eminentemente político".
De 11 indiciados no processo,
apenas Rainha foi julgado. Nove
estão foragidos, e um morreu.
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