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SUCESSÃO
Economista diz que idéias são "ruins' e que provocam "terrorismo financeiro'
Proposta do PT é "populista' e "estúpida', diz Dornbusch
ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local
Rudiger
Dornbusch,
economista alemão naturalizado norte-americano, que é professor do renomado MIT
(Massachusetts Institute of Technology), dos EUA, disse que o esboço do programa de governo do
candidato do PT à Presidência da
República, Luiz Inácio Lula da Silva, é "um exemplo de um velho
populismo, que se esperava que
fosse coisa do passado no Brasil".
Dornbusch qualificou de
"ruim" a proposta preliminar de
política econômica da aliança de
esquerda, em entrevista, ontem,
por telefone, à Folha.
Taxou a sugestão de "quarentena" para o capital especulativo de
"terrorismo financeiro" e chamou a proposta para a taxação sobre os lucros extraordinários de
empresas privatizadas de "uma
idéia estúpida".
Dornbusch, que tem sido um
crítico ferrenho da gestão econômica do atual governo, responsabilizou o estilo do presidente Fernando Henrique Cardoso, que, a
seu ver, "não usou a popularidade do Real para forçar as reformas
no Congresso", pela vulnerabilidade atual do Brasil.
Disse, porém, que, nos meios
acadêmicos no exterior, assim como entre os investidores estrangeiros, o cenário mais provável é a
vitória do tucano no segundo turno das eleições presidenciais deste
ano.
A seguir, leia trechos da entrevista do economista à Folha:
Folha - Há alguns meses, o sr. dava como certa a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso. A ascensão de Lula nas pesquisas mudou sua opinião?
Dornbusch - Mais do que de
Lula, a ameaça ao presidente Fernando Henrique Cardoso vem da
Rússia.
Folha - Por quê?
Dornbusch - Porque o déficit
público e o déficit externo no Brasil tornam o país extremamente
vulnerável a uma mudança de humor no mercado internacional. Os
juros altos no Brasil continuam
atraindo o capital de curto prazo.
Mas o país corre o risco de sofrer
um ataque especulativo se a economia russa, já fragilizada, sofrer
um colapso.
Folha - Qual é a saída para o Brasil?
Dornbusch - Ainda há os recursos das privatizações. E depois disso? Não há saída fácil.
Folha - Por quê?
Dornbusch - Em parte por causa do calendário político, em parte
por causa do estilo do presidente
Fernando Henrique Cardoso, que
nunca usou seu mandato para forçar as reformas no Congresso e
também por causa dos enormes
déficits de curto prazo e da moeda
sobrevalorizada.
Não há uma saída fácil. O presidente tem de rezar para que a situação na Rússia não se agrave
ainda mais.
Folha - Qual é o cenário que o sr.
traça para os meses que antecedem as eleições?
Dornbusch - Ainda penso que é
pouco provável que o presidente
não vença as eleições. Mas se a
Rússia quebrar, a taxa de juros vai
atingir níveis estratosféricos no
Brasil, provocando uma forte queda do nível de atividade econômica. E essa não é uma boa maneira
de vencer uma eleição.
Folha - Mas mesmo assim o sr.
acredita na vitória do presidente-candidato?
Dornbusch - Acho que o presidente vai vencer, mas a idéia de
que ele está fazendo um excelente
governo e de que fará ainda melhor no próximo mandato é pura
fantasia.
Folha - O sr. sempre sugeriu uma
forte desvalorização do real. Isso
seria viável neste ano eleitoral?
Dornbusch - Não penso nem
por um minuto que esse seja o momento para se brincar com a taxa
de câmbio.
Isso seria uma loucura agora. Esse não é o momento para se pensar
em máxis. Uma máxi seria traumática.
Folha - Os investidores internacionais estão mesmo preocupados
com a possibilidade de uma vitória da oposição na eleições presidenciais?
Dornbusch - No momento,
ninguém pensa que isso seja possível. Mas, se as taxas de juros subirem, atingindo o crescimento econômico, teremos que avaliar mais
seriamente essa hipótese.
Folha - E qual seria a reação dos
investidores?
Dornbusch - Uma tendência
muito forte no sentido da venda
de bônus brasileiros. Mas, no momento, pensamos que o presidente vai ganhar as eleições. Já houve
mais certeza, mas esse continua
sendo o cenário dominante.
Folha - Uma eventual vitória de
Lula provocará uma fuga de capitais do país.
Dornbusch - Acredito nisso. A
única razão para a permanência
do capital de curto prazo no Brasil
é a certeza da vitória do presidente.
Folha - Quanto sairia do Brasil?
Dornbusch - De onde saem 20,
saem 80. É o caso da Rússia.
Folha - O que o sr. acha do esboço do programa de governo da
aliança de esquerda? Por exemplo, a idéia de uma "quarentena"
para o capital especulativo?
Dornbusch - Um anúncio desses não é inteligente. Trata-se de
terrorismo financeiro. Quem gostaria de estar num lugar onde pode se tornar refém? Mas, insisto,
os mercados financeiros trabalham com a hipótese de uma vitória do presidente.
Folha - O que o sr. acha da sugestão para a taxação sobre os lucros extraordinários de empresas
privatizadas?
Dornbusch - Essa é uma idéia
estúpida. Acho que sublinhar as
empresas privatizadas para taxação extra é uma insensatez. Por
que não instituir um sistema tributário eficiente e uniforme para
todas as pessoas jurídicas? Por que
punir as empresas que estão investindo para a essencial modernização da infra-estrutura do país,
que é o calcanhar de Aquiles da
economia brasileira?
Acho que todas essas idéias são o
exemplo de um velho populismo,
que se esperava que fosse coisa do
passado no Brasil.
Folha - E os impostos sobre
grandes fortunas?
Dornbusch - Se forem adotados com moderação, é uma medida inteligente. Mas, se houver excessos, é terrorismo. Se a alíquota
for de 0,5%, a idéia não é má. Mas
acima disso é fermento para corrupção e fuga de capitais.
Folha - E a proposta de introduzir taxas de juros que aumentem a
produtividade?
Dornbusch - Isso é impossível
com o atual déficit público. O dinheiro que financia o buraco externo do Brasil irá embora se o
país adotar taxas de juros de Nova
York. A melhora da política econômica é a única saída para a redução gradual das taxas de juros.
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