São Paulo, sexta-feira, 12 de julho de 2002

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PT SOB SUSPEITA

Secretário afastado diz à CPI que nunca ouviu falar de esquema de propina em Santo André durante sua gestão

Ronan falava por empresários, diz Klinger

LIEGE ALBUQUERQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA

O secretário afastado de Serviços Municipais de Santo André, vereador Klinger Luiz de Oliveira Souza (PT), disse ontem à CPI que investiga suposto esquema de propina para financiar campanhas do PT que o empresário Ronan Maria Pinto o procurou algumas vezes para defender pleitos que envolviam todas as empresas de transporte coletivo na cidade.
"Nunca nomeei o Ronan como interlocutor [das empresas de ônibus". Mas ele vinha em nome delas para buscar soluções comuns aos empresários de transporte, como discutir tarifas."
Em rápida entrevista após o depoimento, ele disse que foi procurado "duas ou três vezes em um ano" por Ronan para fazer esses pedidos pelos empresários.
Segundo o Ministério Público, os empresários Sérgio Gomes da Silva e Ronan, além de Klinger, teriam cobrado propina de empresários que tinham contratos com a prefeitura, na gestão do prefeito Celso Daniel, morto em janeiro.
Klinger não havia dado nenhuma declaração pública desde que foi citado como um dos mentores da suposta máfia da propina, há 22 dias, na divulgação do depoimento da empresária Rosangela Gabrilli, da Expresso Guarará.
Na saída do depoimento, de 2h35min, disse que daria entrevista coletiva, mas o advogado que o acompanhou, Luís Francisco Carvalho Filho, do escritório de José Carlos Dias (ex-ministro da Justiça), só deixou o falar por 11 minutos. No depoimento, Klinger aparentava calma. Tomou vários copos de água e passava a mão na testa todas as vezes que lia alguma resposta na "cola" que levou, de cerca de dez páginas.
Ele disse que, enquanto secretário, tinha porte de arma, e a usava presa ao tornozelo ou embaixo do braço. "Nunca utilizei [a arma" para intimidar", rebatendo acusação do irmão de Rosangela, Luiz Gabrilli Neto, que disse à CPI sentir-se pressionado ao ver a arma de Klinger durante reuniões.
Klinger é acusado pela promotoria de Santo André de formação de quadrilha e concussão (extorsão praticada por servidor público). Teve sua prisão, pedida pelo MP, negada pela Justiça.
O secretário afastado declarou que, durante o período em que esteve na secretaria (de 1997 até duas semanas atrás), nunca ouviu falar sobre esquema de propina na cidade. "Ninguém nunca ventilou desse assunto comigo."
Para Klinger, há um "conluio" dos empresários contra ele, orquestrado pela família Gabrilli, cuja empresa está sendo alvo de uma auditoria da prefeitura. Ele acredita ainda que seu nome foi investigado pela polícia como suposto membro de uma quadrilha que teria assassinado Celso Daniel porque o depoimento de Rosangela ao MP teria "vazado". A ação do MP está sob sigilo.
Klinger acha que foi alvo das denúncias por várias razões. As acusações seriam "para macular o PT" e por ele ter sido considerado o sucessor natural de Celso Daniel na prefeitura. Disse que, agora, só pensa em "se defender", mas poderá processar quem o acusa. "Com o tempo, tudo será esclarecido, mas não ressarcido."
Os vereadores questionaram o depoente sobre como iria pagar os advogados tendo só o salário de vereador (cerca de R$ 4 mil mensais). "[As despesas" Serão arcadas por mim e farão falta no meu pequeno patrimônio". A Folha apurou que honorários de advogados criminalistas de primeira linha, como os contratados, não saem por menos de R$ 60 mil.



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