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Em Lisboa, presidente afirma que, "a continuar do jeito que está, eles não terão o que receber em alguns Estados"
Reforma é para servidor receber, diz Lula
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LISBOA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva defendeu ontem a proposta
oficial de reforma da Previdência
e mandou um recado sombrio
aos servidores públicos, em greve
há três dias:
"Se eles analisarem corretamente a proposta, vão perceber que
estamos garantindo que, daqui a
dez anos, cinco anos, eles tenham
o que receber. Porque, a continuar do jeito que está, eles não terão o que receber em alguns Estados. E eles sabem disso".
A afirmação foi feita no começo
da noite, no Hotel Ritz de Lisboa,
onde o presidente se hospeda durante a visita de Estado a Portugal,
depois de ser perseguido o dia inteiro pelos jornalistas brasileiros
para falar sobre a questão da reforma previdenciária.
O presidente disse que não está
desapontado com a greve, repetindo o bordão do governo de que
"a greve é um direito universal".
Ele acrescentou, no entanto, o que
considera seu próprio troféu:
"Ninguém brigou mais que eu pelo direito de greve".
Mas a entrevista não bastou para eliminar todos os ruídos em
torno de supostos ou reais recuos
do governo na matéria e sobre um
também suposto recuo do recuo.
Lula apenas reafirmou o que pedira que seu porta-voz, André
Singer, dissesse na véspera: a reforma foi combinada com os 27
governadores e o Congresso é soberano para discuti-la e emendá-la, mas as eventuais modificações
só terão o aval do governo federal
se os governadores as aceitarem.
"A proposta do governo está escrita pelo presidente da República
e pelos 27 governadores e está
mantida", disse o presidente, reforçando a mensagem da véspera.
Lula procurou retirar impacto
da reunião entre ministros e governadores, marcada para terça-feira, quando ele ainda estará na
Europa (em Madri).
Lembrou que, no processo de
elaboração das propostas de reforma, foi criada uma comissão
formada por ministros e cinco governadores, representando diferentes regiões e forças políticas, e
que a nova reunião, por isso, deve
ser vista "com naturalidade".
Negou, porém, a versão de que
teria falado pelo telefone com o
governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB-MG), aparentemente o mais inquieto com o suposto ou real recuo do governo.
Passado na CUT
Já o governador da Paraíba,
Cássio Cunha Lima (PSDB), que
faz parte da comitiva oficial, contou à Folha que, na conversa que
tiveram no avião, a caminho de
Lisboa, Lula disse aos governadores que precisava de "espaço de
negociação" junto à CUT.
Lembrou suas origens para justificar o pedido, mas não especificou quais os pontos que poderia
negociar com a liderança sindical.
Como o presidente repete que o
Congresso tem toda a autonomia
para decidir emendas mas que
elas só passarão se os governadores aceitarem, o processo de reforma pode ficar excessivamente
complicado. Lula, no entanto, diz
que não haverá demora excessiva.
"O assunto já está por demais
digerido entre nós", justifica.
O presidente também reage
quando a pergunta menciona o
recuo do governo. "Não é recuo.
Ao contrário, é a manutenção do
comportamento de quem trabalhou para ganhar confiabilidade
dos governadores."
O coordenador do Conselho de
Desenvolvimento Econômico e
Social, Tarso Genro, também se
recusa a aceitar a hipótese de que
o governo tenha recuado. Brinca:
"Os jornais inventam que o governo recuou para depois dizer
que o governo recuou do recuo".
Mas ele admite que, na negociação Executivo/Congresso/governadores, a reforma pode não sair
100% como enviada. "Pode ser
90%. O que o governo não aceita é
qualquer reforma."
Quanto à greve dos servidores,
Lula afirma que eles "jamais tiveram o tratamento que estão tendo" em seu governo. Alude à comissão de negociação que está
procurando estabelecer um contrato coletivo de trabalho entre o
governo e seus funcionários, o
que classifica de "sonho".
O presidente diz que a nova relação que diz estar procurando
construir com os servidores "pode ser uma coisa demorada para
entender, mas eles vão entender".
Lula negou, por fim, que a alta
do dólar ontem tivesse relação
com a questão da Previdência.
"O fato de o dólar aumentar 0,5
ou 0,2 acontece todo dia. O dólar,
em algum momento, vai encontrar seu ponto de equilíbrio e vai
ficar estável", afirmou.
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