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São Paulo, sábado, 12 de julho de 2003

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Em Lisboa, presidente afirma que, "a continuar do jeito que está, eles não terão o que receber em alguns Estados"

Reforma é para servidor receber, diz Lula

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LISBOA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem a proposta oficial de reforma da Previdência e mandou um recado sombrio aos servidores públicos, em greve há três dias:
"Se eles analisarem corretamente a proposta, vão perceber que estamos garantindo que, daqui a dez anos, cinco anos, eles tenham o que receber. Porque, a continuar do jeito que está, eles não terão o que receber em alguns Estados. E eles sabem disso".
A afirmação foi feita no começo da noite, no Hotel Ritz de Lisboa, onde o presidente se hospeda durante a visita de Estado a Portugal, depois de ser perseguido o dia inteiro pelos jornalistas brasileiros para falar sobre a questão da reforma previdenciária.
O presidente disse que não está desapontado com a greve, repetindo o bordão do governo de que "a greve é um direito universal". Ele acrescentou, no entanto, o que considera seu próprio troféu: "Ninguém brigou mais que eu pelo direito de greve".
Mas a entrevista não bastou para eliminar todos os ruídos em torno de supostos ou reais recuos do governo na matéria e sobre um também suposto recuo do recuo.
Lula apenas reafirmou o que pedira que seu porta-voz, André Singer, dissesse na véspera: a reforma foi combinada com os 27 governadores e o Congresso é soberano para discuti-la e emendá-la, mas as eventuais modificações só terão o aval do governo federal se os governadores as aceitarem.
"A proposta do governo está escrita pelo presidente da República e pelos 27 governadores e está mantida", disse o presidente, reforçando a mensagem da véspera.
Lula procurou retirar impacto da reunião entre ministros e governadores, marcada para terça-feira, quando ele ainda estará na Europa (em Madri).
Lembrou que, no processo de elaboração das propostas de reforma, foi criada uma comissão formada por ministros e cinco governadores, representando diferentes regiões e forças políticas, e que a nova reunião, por isso, deve ser vista "com naturalidade".
Negou, porém, a versão de que teria falado pelo telefone com o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB-MG), aparentemente o mais inquieto com o suposto ou real recuo do governo.

Passado na CUT
Já o governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB), que faz parte da comitiva oficial, contou à Folha que, na conversa que tiveram no avião, a caminho de Lisboa, Lula disse aos governadores que precisava de "espaço de negociação" junto à CUT.
Lembrou suas origens para justificar o pedido, mas não especificou quais os pontos que poderia negociar com a liderança sindical.
Como o presidente repete que o Congresso tem toda a autonomia para decidir emendas mas que elas só passarão se os governadores aceitarem, o processo de reforma pode ficar excessivamente complicado. Lula, no entanto, diz que não haverá demora excessiva.
"O assunto já está por demais digerido entre nós", justifica.
O presidente também reage quando a pergunta menciona o recuo do governo. "Não é recuo. Ao contrário, é a manutenção do comportamento de quem trabalhou para ganhar confiabilidade dos governadores."
O coordenador do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Tarso Genro, também se recusa a aceitar a hipótese de que o governo tenha recuado. Brinca: "Os jornais inventam que o governo recuou para depois dizer que o governo recuou do recuo".
Mas ele admite que, na negociação Executivo/Congresso/governadores, a reforma pode não sair 100% como enviada. "Pode ser 90%. O que o governo não aceita é qualquer reforma."
Quanto à greve dos servidores, Lula afirma que eles "jamais tiveram o tratamento que estão tendo" em seu governo. Alude à comissão de negociação que está procurando estabelecer um contrato coletivo de trabalho entre o governo e seus funcionários, o que classifica de "sonho".
O presidente diz que a nova relação que diz estar procurando construir com os servidores "pode ser uma coisa demorada para entender, mas eles vão entender".
Lula negou, por fim, que a alta do dólar ontem tivesse relação com a questão da Previdência.
"O fato de o dólar aumentar 0,5 ou 0,2 acontece todo dia. O dólar, em algum momento, vai encontrar seu ponto de equilíbrio e vai ficar estável", afirmou.


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