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São Paulo, sábado, 12 de julho de 2003

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SÃO PAULO

Decisão atinge 7 "laranjas"

Juiz quebra sigilo de 26 suspeitos de desvio

ROBERTO COSSO
DA REPORTAGEM LOCAL

O juiz Luís Paulo Aliende Ribeiro, da 4ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, decretou a quebra de sigilo bancário de 26 pessoas físicas e jurídicas suspeitas de terem participado de operações de lavagem do dinheiro que teria sido supostamente desviado da construção da avenida Água Espraiada, em São Paulo.
A decisão foi proferida no mês passado, mas somente se tornou pública ontem. A medida atinge as contas de sete "laranjas", 14 empresas "fantasmas", um doleiro, dois bancos e duas casas de câmbio paraguaios.
O pedido da quebra de sigilo foi feito pelo promotor Silvio Antonio Marques, que, com os dados bancários, espera comprovar que o dinheiro supostamente desviado da construção da avenida Água Espraiada foi parar em contas bancárias que seriam mantidas pelo ex-prefeito paulistano Paulo Maluf em Genebra (Suíça) e na ilha de Jersey, um paraíso fiscal britânico no canal da Mancha.
A assessoria de imprensa do ex-prefeito Paulo Maluf declarou ontem que ele não possui contas bancárias na Suíça nem na ilha de Jersey. A assessoria de Maluf afirmou ainda que as contas da administração do ex-prefeito foram aprovadas com louvor pelo TCM (Tribunal de Contas do Município) de São Paulo.
De acordo com o Ministério Público, dos R$ 800 milhões gastos na construção da avenida Água Espraiada, cerca de R$ 550 milhões teriam sido desviados.

Mendes Júnior
Além disso, segundo o Ministério Público, a construtora Mendes Júnior, responsável pela obra durante a gestão de Paulo Maluf na prefeitura (1993-1996), teria pago mais de US$ 195 milhões a 12 subempreiteiras tidas como "fantasmas" pelo Ministério Público, no mesmo período em que recebia pagamentos do município.
A assessoria de imprensa da construtora Mendes Júnior informou ontem que a empresa não se manifestaria sobre essa questão porque o caso está na Justiça. A assessoria informou ainda que a empresa sempre agiu de acordo com as leis brasileiras.
Os responsáveis pelos bancos e casas de câmbio paraguaios não foram localizados pela Folha ontem à noite. As 14 empresas "fantasmas" mencionadas na decisão do juiz Luís Paulo Aliende Ribeiro não têm representantes identificados. Os sete "laranjas" citados também não foram encontrados pela reportagem para comentar a decisão. Alguns deles estão sendo procurados pela Justiça há mais de cinco anos, mas até hoje não foram localizados.

Subempreiteiras
As 12 subempreiteiras, cujos sigilos bancários foram quebrados pela Justiça no ano passado, fizeram transferências para "laranjas" e empresas "fantasmas". Esses mesmos "laranjas" e "fantasmas" também teriam sido utilizados pelo esquema de desvio de dinheiro público por meio da negociação de títulos públicos emitidos para o pagamento de precatórios (dívidas já reconhecidas pela Justiça).
Essas pessoas aparecem como depositantes em contas CC5 (de não-residentes) mantidas no Brasil pelos bancos e casas de câmbio paraguaias, que remeteram os recursos para outras contas, no Banestado de Nova York. Segundo investigação da Polícia Federal, o Banestado remeteu US$ 30 bilhões para sua agência de Nova York, que podem ter sido objeto de "lavagem" de dinheiro.
Laudo da PF mostra que existe uma conta chamada "Campari" no MTB Bank de Nova York, que recebeu depósitos de mais de US$ 36 milhões. Também existem inúmeras referências a transações realizadas em benefício de Maria Rodrigues, titular de uma conta bancária no UBP (Union Bancarie Privee) de Genebra.


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