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SUCESSÃO NO ESCURO
Empresários apostam em nome de FHC para derrotar PT
Empresariado procura no governo o anti-Lula 2002
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DAVID FRIEDLANDER
DA REPORTAGEM LOCAL
A elite do empresariado nacional já começou a trabalhar pelo
candidato do governo à sucessão
de FHC, mesmo sem saber quem
ele é. Embora venham repetindo
declarações simpáticas a Luiz Inácio Lula da Silva quando estão em
público, a portas fechadas eles se
articulam para colocar de pé uma
alternativa capaz de derrotar o PT
na eleição do ano que vem.
Como Fernando Henrique ainda não escolheu seu candidato, o
esforço nesta fase pré-eleitoral
tem como objetivo ajudar o governo a melhorar sua imagem. E
eles estão se mexendo.
Um grupo de empresários do
setor industrial está investindo,
por exemplo, cerca de R$ 1,2 milhão numa radiografia completa
do que aconteceu nos seis anos e
meio de Fernando Henrique Cardoso na Presidência.
Como os financiadores do trabalho julgaram que o saldo de
FHC é favorável, o documento será transformado em dois livros,
que deverão ser amplamente divulgados a partir de setembro.
A intenção é dissociar um pouco a imagem do Planalto de fatos
negativos, como o apagão e o desemprego, mostrando que FHC
teve bom desempenho em várias
frentes. O trabalho envolve 36
pessoas. No momento, o grupo se
ocupa do mapeamento das áreas
em que supostamente o governo
teria tirado boas notas.
Um outro consórcio de empresários, formado por três banqueiros e quatro industriais, rateou os
R$ 330 mil de uma pesquisa organizada para descobrir o que o brasileiro pensava a respeito de conceitos como "revolução socialista", "maior presença do governo
na economia" ou "estatização de
empresas particulares e bancos".
(leia texto abaixo).
O resultado dessa pesquisa, que
mostrou uma afinidade enorme
entre o discurso de Lula e o que as
pessoas estão querendo ouvir de
um candidato a presidente, surpreendeu líderes empresariais
que tomaram conhecimento do
assunto -como os banqueiros
Lázaro Brandão (Bradesco), Olavo Setubal (Itaú) e Pedro Moreira
Salles (Unibanco), e os industriais
Jorge Gerdau e Antônio Ermírio
de Moraes.
"Nessa eleição, a rejeição a Lula
está diminuindo. Além disso, desta vez ele não está na frente por ser
o candidato mais conhecido, mas
porque a sociedade se identifica
com as coisas que ele diz", afirma
Ney Figueiredo, especialista em
marketing e consultor político da
CNI (Confederação Nacional da
Indústria).
Em grande parte, foram as
constatações dessa pesquisa que
motivaram o jantar do presidente
FHC com dez cardeais do empresariado, no mês passado, na casa
de Setubal.
Classe dividida
A elite empresarial pode não estar muito satisfeita com o desempenho de FHC, mas fechou com o
presidente porque continua temendo a esquerda e ainda não se
sente segura com os outros candidatos da oposição -Itamar Franco (PMDB) e Ciro Gomes (PPS),
por exemplo.
Quando o assunto é o candidato
ideal, no entanto, não existe consenso entre eles. O ministro da Fazenda, Pedro Malan, por exemplo, é o predileto do setor financeiro e agrada também à ala das
multinacionais. Junto ao grupo da
indústria nacional, o prestígio de
Malan é muito pequeno.
"O país precisa de um presidente que dê sequência à estabilidade,
mas que batalhe pelo desenvolvimento. O Malan não é esse nome", afirma o deputado Carlos
Eduardo Moreira Ferreira (PFL-SP), presidente interino da CNI.
Os empresários da área industrial preferem pensar, por enquanto, em dois nomes: o do ministro José Serra (Saúde) e o do
governador Tasso Jereissati (CE).
O nome de Serra é mencionado
com mais frequência entre os donos de pequenas e médias empresas. Tasso é menos popular, mas é
bem visto por vários líderes do
empresariado.
Para os industriais, Malan é o
último da lista. Mas está na lista e
chega ao topo dela rapidamente
se for o candidato da situação
com mais chances de derrotar a
oposição, especificamente Lula.
A palavra final caberá a FHC e
às pesquisas. O presidente tende a
adotar o candidato que estiver
melhor posicionado nas sondagens eleitorais. Visto meses atrás
como carta fora do baralho, o Planalto recobrou, na opinião do
empresariado, a capacidade de
impor-se no cenário político.
Em seus diálogos privados,
FHC ora parece inclinar-se para
Serra, ora estimula Malan a filiar-se ao PSDB. Entre todos os governistas, Tasso é o que menos o empolga. O presidente considera
Tasso talhado para o posto, mas
falta-lhe musculatura eleitoral no
Sul e no Sudeste.
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