São Paulo, domingo, 12 de agosto de 2001

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SUCESSÃO NO ESCURO

Empresários apostam em nome de FHC para derrotar PT

Empresariado procura no governo o anti-Lula 2002

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

DAVID FRIEDLANDER
DA REPORTAGEM LOCAL

A elite do empresariado nacional já começou a trabalhar pelo candidato do governo à sucessão de FHC, mesmo sem saber quem ele é. Embora venham repetindo declarações simpáticas a Luiz Inácio Lula da Silva quando estão em público, a portas fechadas eles se articulam para colocar de pé uma alternativa capaz de derrotar o PT na eleição do ano que vem.
Como Fernando Henrique ainda não escolheu seu candidato, o esforço nesta fase pré-eleitoral tem como objetivo ajudar o governo a melhorar sua imagem. E eles estão se mexendo.
Um grupo de empresários do setor industrial está investindo, por exemplo, cerca de R$ 1,2 milhão numa radiografia completa do que aconteceu nos seis anos e meio de Fernando Henrique Cardoso na Presidência.
Como os financiadores do trabalho julgaram que o saldo de FHC é favorável, o documento será transformado em dois livros, que deverão ser amplamente divulgados a partir de setembro.
A intenção é dissociar um pouco a imagem do Planalto de fatos negativos, como o apagão e o desemprego, mostrando que FHC teve bom desempenho em várias frentes. O trabalho envolve 36 pessoas. No momento, o grupo se ocupa do mapeamento das áreas em que supostamente o governo teria tirado boas notas.
Um outro consórcio de empresários, formado por três banqueiros e quatro industriais, rateou os R$ 330 mil de uma pesquisa organizada para descobrir o que o brasileiro pensava a respeito de conceitos como "revolução socialista", "maior presença do governo na economia" ou "estatização de empresas particulares e bancos". (leia texto abaixo).
O resultado dessa pesquisa, que mostrou uma afinidade enorme entre o discurso de Lula e o que as pessoas estão querendo ouvir de um candidato a presidente, surpreendeu líderes empresariais que tomaram conhecimento do assunto -como os banqueiros Lázaro Brandão (Bradesco), Olavo Setubal (Itaú) e Pedro Moreira Salles (Unibanco), e os industriais Jorge Gerdau e Antônio Ermírio de Moraes.
"Nessa eleição, a rejeição a Lula está diminuindo. Além disso, desta vez ele não está na frente por ser o candidato mais conhecido, mas porque a sociedade se identifica com as coisas que ele diz", afirma Ney Figueiredo, especialista em marketing e consultor político da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
Em grande parte, foram as constatações dessa pesquisa que motivaram o jantar do presidente FHC com dez cardeais do empresariado, no mês passado, na casa de Setubal.

Classe dividida
A elite empresarial pode não estar muito satisfeita com o desempenho de FHC, mas fechou com o presidente porque continua temendo a esquerda e ainda não se sente segura com os outros candidatos da oposição -Itamar Franco (PMDB) e Ciro Gomes (PPS), por exemplo.
Quando o assunto é o candidato ideal, no entanto, não existe consenso entre eles. O ministro da Fazenda, Pedro Malan, por exemplo, é o predileto do setor financeiro e agrada também à ala das multinacionais. Junto ao grupo da indústria nacional, o prestígio de Malan é muito pequeno.
"O país precisa de um presidente que dê sequência à estabilidade, mas que batalhe pelo desenvolvimento. O Malan não é esse nome", afirma o deputado Carlos Eduardo Moreira Ferreira (PFL-SP), presidente interino da CNI.
Os empresários da área industrial preferem pensar, por enquanto, em dois nomes: o do ministro José Serra (Saúde) e o do governador Tasso Jereissati (CE).
O nome de Serra é mencionado com mais frequência entre os donos de pequenas e médias empresas. Tasso é menos popular, mas é bem visto por vários líderes do empresariado.
Para os industriais, Malan é o último da lista. Mas está na lista e chega ao topo dela rapidamente se for o candidato da situação com mais chances de derrotar a oposição, especificamente Lula.
A palavra final caberá a FHC e às pesquisas. O presidente tende a adotar o candidato que estiver melhor posicionado nas sondagens eleitorais. Visto meses atrás como carta fora do baralho, o Planalto recobrou, na opinião do empresariado, a capacidade de impor-se no cenário político.
Em seus diálogos privados, FHC ora parece inclinar-se para Serra, ora estimula Malan a filiar-se ao PSDB. Entre todos os governistas, Tasso é o que menos o empolga. O presidente considera Tasso talhado para o posto, mas falta-lhe musculatura eleitoral no Sul e no Sudeste.



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