São Paulo, domingo, 12 de agosto de 2001

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Pesquisa orienta ação para derrotar esquerda

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

DA REPORTAGEM LOCAL

A nata do empresariado entrou em estado de alerta há oito meses, sacudida pelo resultado de uma pesquisa feita pelo Ibope a pedido da CNI (Confederação Nacional da Indústria). A entidade queria saber o que a sociedade acha de conceitos como "socialismo", "maior presença do governo na economia" ou "estatização de empresas particulares e bancos".
A cúpula da CNI imaginava que reuniria munição contra Lula. Deu o contrário. Entre os dias 30 de novembro e 4 de dezembro do ano passado, o Ibope ouviu 2.000 pessoas em todas as regiões do país. Nada menos que 78% dos entrevistados se disseram favoráveis a uma presença maior do governo na economia.
Em plena era da venda de estatais, 49% concordaram com a estatização de empresas particulares. Nada menos que 43% acharam que os bancos, todos eles, deveriam passar às mãos do Estado.
Não é só: 55% das pessoas ouvidas aceitaram a idéia de que o Brasil precisa de uma revolução socialista. A idéia inicial era a de divulgar os dados. Conhecido o resultado, avaliou-se que seria melhor escondê-los.
O documento foi encaminhado ao presidente Fernando Henrique Cardoso, no final de 2000. No campo empresarial, receberam a pesquisa os banqueiros Lázaro Brandão (Bradesco), Olavo Setubal (Itaú) e Pedro Moreira Salles (Unibanco) e os industriais Jorge Gerdau e Antônio Ermírio de Moraes. A pedido de FHC, um outro empresário foi brindado com uma cópia do resultado da pesquisa: João Roberto Marinho, das Organizações Globo.
A CNI resolveu investigar o que estava por trás daqueles números. Decidiu-se realizar uma nova rodada de pesquisas, mais profunda. Foram realizadas entre 2 de março e 10 de maio de 2001.
Compuseram-se grupos em quatro grandes capitais: Manaus, Recife, São Paulo e Porto Alegre. As três últimas entraram mais por razões políticas do que geográficas. Eram praças em que o PT triunfara na última eleição. Foram gravadas 160 horas de conversa. A transcrição consumiu 1.400 páginas. Descobriu-se que:
1) o socialismo idealizado pelo brasileiro nada tem a ver com os sistema em vigor na China ou em Cuba. O socialismo é associado a conceitos como "igualdade, oportunidade para todos, humanidade, fraternidade, amizade, direitos iguais, partilha, justiça etc";
2) em contraposição, quando instadas a falar sobre o capitalismo, as pessoas associaram o sistema a "dinheiro, desigualdade, exploração, crueldade, selvageria, escravidão, domínio do rico sobre o pobre etc";
3) na revolução socialista dos sonhos do brasileiro não há lugar para a luta armada. Na cabeça dos entrevistados, o conceito se aproxima mais da idéia de "revolução social", de "justiça social";
4) uma ampla maioria expressou sentimentos nacionalistas;
5) o grosso das pessoas concorda com o processo de privatização, mas acha que o governo não fiscaliza os grupos privados que arremataram estatais;
6) Lula e o PT são identificados com a marca social. Sobretudo em São Paulo e em Porto Alegre. O PT é associado ainda à idéia de defesa do capital nacional.



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