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Poderes dão aumento disfarçado
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
À revelia do Palácio do Planalto,
servidores dos Poderes Legislativo e Judiciário conquistaram nos
últimos seis anos aumentos salariais disfarçados.
Diante da resistência do presidente Fernando Henrique Cardoso em conceder reajuste geral e
em corrigir os vencimentos de algumas carreiras, eles recorreram
a brechas legais e a ameaças de
greve para obter os aumentos.
Os deputados, por exemplo, aumentaram a verba de gabinete de
R$ 10 mil, em 1997, para R$ 20 mil
e finalmente R$ 25 mil. O resultado: os salários de 1.800 secretários
parlamentares, funcionários que
ocupam cargos de confiança, foram elevados em 35% em média.
Outros 480 foram contratados,
com renda média de R$ 1.630. A
folha engordou R$ 1,8 milhão.
Outro exemplo que custou ainda mais caro aos cofres públicos
foi a rápida disseminação em
2000 do aumento salarial de
11,98% pelos tribunais e pelo Congresso e a sua imediata incorporação, mesmo sem previsão de pagamento no Orçamento.
Esse reajuste provocou uma
despesa extra estimada em R$ 800
milhões, além da expectativa de
gasto de R$ 2 bilhões com parcelas atrasadas a partir de 1994.
Agora o Judiciário está sob ameaça de não pagar os gastos normais
com pessoal, como o 13º salário.
O índice foi obtido por servidores da Justiça Eleitoral, que ameaçaram fazer greve a poucos dias
do primeiro turno das eleições de
2000. Formalmente, a razão da
concessão foi o reconhecimento
de uma perda na conversão de
cruzeiros novos para URV (Unidade Real de Valor), em 1994.
Os juízes, que não foram contemplados com essa correção, haviam conquistado o auxílio-moradia de até R$ 3.000, a título de
equiparação com a remuneração
de deputados e senadores.
Há 18 meses eles recebem o benefício em razão de uma liminar
do ministro Nelson Jobim, do Supremo Tribunal Federal, concedida para debelar uma greve na Justiça Federal e na Justiça trabalhista que começaria no dia seguinte.
Esse aumento serviu de compensação à resistência de FHC e
dos presidentes da Câmara e do
Senado em firmar acordo para estabelecer um valor de teto salarial,
que permitirá aumento em cascata no Judiciário.
Os juízes pressionam o presidente do STF, Marco Aurélio de
Mello, a retomar essa negociação,
antes promovida sem êxito pelos
seus dois antecessores.
(SILVANA DE FREITAS)
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