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Comércio complementa renda
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
É prática corriqueira em todos
os ministérios: os funcionários
vendem lanches, roupas, calçados
e bijuterias. Sem aumento salarial
há mais de cinco anos, essa foi a
forma encontrada por grande
parte dos servidores públicos de
Brasília para conseguir pagar as
contas no fim do mês.
O comércio dentro dos ministérios é feito de modo discreto. Oficialmente, o funcionário público
não pode exercer outra função no
local de trabalho. Essa prática é
tolerada por muitos chefes, que
fazem vista grossa, e pelos colegas, consumidores dos produtos.
Durante dois dias, a Folha esteve em vários ministérios e conversou com funcionários-comerciantes. Todos reclamaram que
perderam poder aquisitivo com a
falta de reajustes e que precisam
recorrer ao comércio para aumentar a renda de alguma forma.
Poucos quiseram se identificar.
Eles temem ser postos em disponibilidade ou perderem as gratificações. Apesar desse comércio ser
tolerado, ninguém quis arriscar.
Alguns ministérios encontraram até formas de organizar esse
comércio. O Ministério do Trabalho, por meio de seu serviço social, conseguiu permissão para
que alguns funcionários da ativa e
aposentados montassem uma pequena feira no subsolo do prédio
anexo, que funciona quase todos
os meses do ano.
Nas barraquinhas, além dos
aposentados, parentes dos funcionários vendem doces, roupas,
toalhas, enfeites e perfumes.
Um deles é Edson Costa, 46. Desempregado, ele é casado com
Noelia, 43, uma funcionária do
ministério que ganha R$ 811. Para
complementar a renda familiar,
ele vende colares e pulseiras feitos
de sementes e pedras. Apesar do
faturamento fraco, é com esse dinheiro extra que Edson e a mulher conseguem manter os dois filhos.
Gianna Gomes, 52, administradora, foi responsável pelo serviço
médico do Ministério do Trabalho e se aposentou com salário de
R$ 1.800. Ela começou a vender
bombons em caixas enfeitadas e
com formatos variados para comprar um aparelho dentário para a
filha. O negócio deu certo e agora
o dinheiro é usado para ajudar a
pagar a faculdade da filha.
Em dias movimentados, Gianna consegue faturar até R$ 40. Ela
diz que o lucro desde que começou, há três anos, continua o mesmo. "Se aumentar o preço não
vende, pois quem compra são os
servidores, e eles não tiveram reajuste", disse.
(SL)
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