São Paulo, domingo, 12 de agosto de 2001

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Comércio complementa renda

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

É prática corriqueira em todos os ministérios: os funcionários vendem lanches, roupas, calçados e bijuterias. Sem aumento salarial há mais de cinco anos, essa foi a forma encontrada por grande parte dos servidores públicos de Brasília para conseguir pagar as contas no fim do mês.
O comércio dentro dos ministérios é feito de modo discreto. Oficialmente, o funcionário público não pode exercer outra função no local de trabalho. Essa prática é tolerada por muitos chefes, que fazem vista grossa, e pelos colegas, consumidores dos produtos.
Durante dois dias, a Folha esteve em vários ministérios e conversou com funcionários-comerciantes. Todos reclamaram que perderam poder aquisitivo com a falta de reajustes e que precisam recorrer ao comércio para aumentar a renda de alguma forma.
Poucos quiseram se identificar. Eles temem ser postos em disponibilidade ou perderem as gratificações. Apesar desse comércio ser tolerado, ninguém quis arriscar.
Alguns ministérios encontraram até formas de organizar esse comércio. O Ministério do Trabalho, por meio de seu serviço social, conseguiu permissão para que alguns funcionários da ativa e aposentados montassem uma pequena feira no subsolo do prédio anexo, que funciona quase todos os meses do ano.
Nas barraquinhas, além dos aposentados, parentes dos funcionários vendem doces, roupas, toalhas, enfeites e perfumes.
Um deles é Edson Costa, 46. Desempregado, ele é casado com Noelia, 43, uma funcionária do ministério que ganha R$ 811. Para complementar a renda familiar, ele vende colares e pulseiras feitos de sementes e pedras. Apesar do faturamento fraco, é com esse dinheiro extra que Edson e a mulher conseguem manter os dois filhos.
Gianna Gomes, 52, administradora, foi responsável pelo serviço médico do Ministério do Trabalho e se aposentou com salário de R$ 1.800. Ela começou a vender bombons em caixas enfeitadas e com formatos variados para comprar um aparelho dentário para a filha. O negócio deu certo e agora o dinheiro é usado para ajudar a pagar a faculdade da filha.
Em dias movimentados, Gianna consegue faturar até R$ 40. Ela diz que o lucro desde que começou, há três anos, continua o mesmo. "Se aumentar o preço não vende, pois quem compra são os servidores, e eles não tiveram reajuste", disse. (SL)




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