São Paulo, sexta-feira, 12 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ LULA NA MIRA

Análise é que depoimento agrava situação do presidente e arrasta o vice; partido faz consultas sobre impeachment

Duda implica Lula e Alencar, vê PFL

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

Caciques partidários de oposição e governistas acreditam que o depoimento do publicitário Duda Mendonça foi crível, agravou a situação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e arrasta para o meio do problema o vice-presidente, José Alencar. Ainda assim, o recurso do impeachment continua sendo tratado com reservas.
"Para fazer um pedido de impeachment são necessárias duas condições. Primeiro, sustentação jurídica. Depois, decisão política. Ainda não há nenhuma nem outra", diz o presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC). Ele enxerga "muitos indícios" contra Lula, mas não "uma sustentação jurídica sólida".
Mesmo assim, a direção do PFL começou ontem a consultar advogados sobre procedimentos legais em caso de impeachment tanto de Lula quanto de Alencar. A avaliação é que a revelação de Duda Mendonça poderia afastar o presidente e o vice.
Com isso, segundo os advogados disseram ao presidente do PFL, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE) assumiria, mas ele teria até 60 dias para convocar eleições indiretas, ou seja, realizadas pelo Congresso, para eleger o novo presidente. Esse dispositivo constitucional, porém, não foi regulamentado.
O depoimento de Duda Mendonça, acredita Bornhausen, foi verossímil. Não é, então, um elemento definitivo para que alguém peça o afastamento do presidente da República?, perguntou a Folha. "É preciso refletir mais, estudar a situação", disse o pefelista.
O discurso do partido, porém, está dividido. Enquanto o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) prega a abertura de processo de impedimento, o líder no Senado, José Agripino Maia (PFL-RN), pede calma: "O momento é de reflexão. Vamos passar o fim de semana decantando os últimos acontecimentos".
Bornhausen aponta outro aspecto relevante que decorre das revelações de Duda Mendonça -sobre recursos de caixa dois usados em campanhas petistas em 2002. "Se o dinheiro irregular foi usado na campanha do presidente Lula, é impossível dissociar do problema o vice-presidente", diz Bornhausen. Em resumo, se Lula sofrer um processo de impeachment, José Alencar também teria de ir pelo mesmo caminho.
O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), fez um veemente discurso depois que se tornou público o conteúdo das revelações de Duda. Foi retórico, mas não pronunciou a palavra impeachment nos trechos divulgados por sua assessoria.
"O governo Lula acabou" e o presidente "mente, mente, mente", disse Virgílio. Para ele, Lula deveria "ir à televisão" se explicar.
Outro grande crítico da administração federal petista, o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (PE), considera "precipitado falar em impeachment, mas está claro que a crise já atravessou a rua e entrou no Palácio do Planalto". Para Freire, um dos aspectos a serem considerados é que "a sociedade brasileira ainda não está exigindo isso [impeachment]".
O líder tucano na Câmara, Alberto Goldman (PSDB-SP), acha que Duda contribuiu para aclarar um pouco a situação. Mas concorda com Freire: "Para um processo de impeachment é preciso que se formem elementos de convicção no Congresso e na sociedade. Ainda não há essa convicção".
Um temor não revelado em público pelos caciques políticos é sobre como seria a linha sucessória num eventual impedimento de Lula. Para Bornhausen, seria impraticável fechar os olhos para o envolvimento de José Alencar.
"A campanha eleitoral do vice é a mesma do candidato a presidente. O dinheiro foi usado por ambos. Com a renúncia de Valdemar Costa Neto [presidente nacional do PL, partido de Alencar], admitindo ter recebido dinheiro irregular, tudo se complica".
A hipótese Severino Cavalcanti não é bem assimilada pelo PFL e pelo PSDB. Acham que lutar pela saída de Lula é entregar o maior posto do país para alguém que não tem compromisso político com pefelistas nem com tucanos.


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