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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ LULA NA MIRA
Análise é que depoimento agrava situação do presidente e arrasta o vice; partido faz consultas sobre impeachment
Duda implica Lula e Alencar, vê PFL
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Caciques partidários de oposição e governistas acreditam que o
depoimento do publicitário Duda
Mendonça foi crível, agravou a situação do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva e arrasta para o meio
do problema o vice-presidente,
José Alencar. Ainda assim, o recurso do impeachment continua
sendo tratado com reservas.
"Para fazer um pedido de impeachment são necessárias duas
condições. Primeiro, sustentação
jurídica. Depois, decisão política.
Ainda não há nenhuma nem outra", diz o presidente nacional do
PFL, senador Jorge Bornhausen
(SC). Ele enxerga "muitos indícios" contra Lula, mas não "uma
sustentação jurídica sólida".
Mesmo assim, a direção do PFL
começou ontem a consultar advogados sobre procedimentos legais em caso de impeachment
tanto de Lula quanto de Alencar.
A avaliação é que a revelação de
Duda Mendonça poderia afastar
o presidente e o vice.
Com isso, segundo os advogados disseram ao presidente do
PFL, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE) assumiria, mas ele teria até 60 dias para convocar eleições indiretas, ou
seja, realizadas pelo Congresso,
para eleger o novo presidente. Esse dispositivo constitucional, porém, não foi regulamentado.
O depoimento de Duda Mendonça, acredita Bornhausen, foi
verossímil. Não é, então, um elemento definitivo para que alguém
peça o afastamento do presidente
da República?, perguntou a Folha. "É preciso refletir mais, estudar a situação", disse o pefelista.
O discurso do partido, porém,
está dividido. Enquanto o senador Antonio Carlos Magalhães
(PFL-BA) prega a abertura de
processo de impedimento, o líder
no Senado, José Agripino Maia
(PFL-RN), pede calma: "O momento é de reflexão. Vamos passar o fim de semana decantando
os últimos acontecimentos".
Bornhausen aponta outro aspecto relevante que decorre das
revelações de Duda Mendonça
-sobre recursos de caixa dois
usados em campanhas petistas
em 2002. "Se o dinheiro irregular
foi usado na campanha do presidente Lula, é impossível dissociar
do problema o vice-presidente",
diz Bornhausen. Em resumo, se
Lula sofrer um processo de impeachment, José Alencar também
teria de ir pelo mesmo caminho.
O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), fez um veemente discurso depois que se tornou público o conteúdo das revelações de Duda. Foi retórico, mas
não pronunciou a palavra impeachment nos trechos divulgados por sua assessoria.
"O governo Lula acabou" e o
presidente "mente, mente, mente", disse Virgílio. Para ele, Lula
deveria "ir à televisão" se explicar.
Outro grande crítico da administração federal petista, o presidente nacional do PPS, deputado
Roberto Freire (PE), considera
"precipitado falar em impeachment, mas está claro que a crise já
atravessou a rua e entrou no Palácio do Planalto". Para Freire, um
dos aspectos a serem considerados é que "a sociedade brasileira
ainda não está exigindo isso [impeachment]".
O líder tucano na Câmara, Alberto Goldman (PSDB-SP), acha
que Duda contribuiu para aclarar
um pouco a situação. Mas concorda com Freire: "Para um processo de impeachment é preciso
que se formem elementos de convicção no Congresso e na sociedade. Ainda não há essa convicção".
Um temor não revelado em público pelos caciques políticos é sobre como seria a linha sucessória
num eventual impedimento de
Lula. Para Bornhausen, seria impraticável fechar os olhos para o
envolvimento de José Alencar.
"A campanha eleitoral do vice é
a mesma do candidato a presidente. O dinheiro foi usado por
ambos. Com a renúncia de Valdemar Costa Neto [presidente nacional do PL, partido de Alencar],
admitindo ter recebido dinheiro
irregular, tudo se complica".
A hipótese Severino Cavalcanti
não é bem assimilada pelo PFL e
pelo PSDB. Acham que lutar pela
saída de Lula é entregar o maior
posto do país para alguém que
não tem compromisso político
com pefelistas nem com tucanos.
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