São Paulo, sexta-feira, 12 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ EFEITO CASCATA

Relator de processo de cassação do ex-ministro, que coordenou campanha de Lula, diz que Duda deu "prova testemunhal importante"

Depoimento complica situação de Dirceu

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O depoimento do publicitário Duda Mendonça à CPI dos Correios complicou a situação do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que enfrenta um processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Câmara.
O relator do processo de Dirceu, deputado Júlio Delgado (PSB-MG), disse ontem que o depoimento de Duda é uma "prova testemunhal importante", que poderia envolver diretamente o deputado. Será incluída na investigação aberta no Conselho de Ética.
"Esse depoimento contribui para tirar um pouco da nebulosidade sobre o papel do deputado José Dirceu", afirmou Delgado. Não está descartado o convite para que o publicitário deponha também no processo contra o ex-ministro, segundo o relator. "Vamos esperar os desdobramentos do que ele [Duda] trouxe hoje [ontem]. No mínimo o depoimento dele à CPI será anexado ao processo [contra Dirceu]", diz.
A suposta ligação de Dirceu com o esquema deriva da posição que ele ocupava na campanha de 2002: era presidente do PT e coordenador-geral da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva.
O comportamento ambíguo de Duda Mendonça no depoimento, quanto ao uso dos recursos ilegais pela campanha presidencial levantou suspeitas. Primeiro, ele deu a entender que os recursos que recebeu de Valério eram para um mesmo "pacote" de campanhas que incluía a presidencial.
Depois, insistiu que a campanha presidencial recebeu apenas dinheiro "limpo". "O fato é que a campanha de Lula está em xeque e Dirceu a coordenava", afirmou Delgado. O tom do relator ontem foi bastante diferente do dia anterior, quando foi escolhido para relatar o processo.
Na ocasião, ele afirmou que o que havia até ali era uma guerra de palavras e nenhuma ligação específica do ex-ministro com o esquema -um saque do Banco Rural, por exemplo. Isso agora pode ter mudado, segundo o relator.
"Não vou prejulgar o deputado José Dirceu. Estamos aqui para investigar. A investigação agora terá de ser aprofundada."
Dirceu viajou ontem para São Paulo, sem assinar oficialmente a notificação que abre o seu processo de cassação. Todos os outros oito deputados que têm processo no Conselho já o fizeram.
Dirceu deve ser notificado apenas na próxima semana. Com a manobra, ele ganhou tempo, pois o prazo de cinco sessões para apresentação da defesa prévia passa a contar apenas a partir do momento da notificação.
A assessoria do ex-ministro foi procurada ontem, mas não havia dado uma resposta até o fechamento desta edição.
Os processos de cassação devem durar cerca de 90 dias. Ontem, o presidente do Conselho de Ética da Câmara, Ricardo Izar (PTB-SP), reuniu-se com o presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), para uma troca de informações.
"Alguns depoimentos já tomados pela CPI, como o de Marcos Valério, não precisarão ser tomados pelo Conselho", disse Izar.


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