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ANÁLISE
Reforma traz à tona o mal-estar da Federação
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Aconteceu nesta semana:
Nelson Pellegrino (PT), José
Carlos Aleluia (PFL) e Jutahy
Júnior (PSDB), líderes de
seus partidos na Câmara,
negociavam a reforma tributária quando um deputado
do Rio se queixou -os três,
da Bahia, só discutiam interesses do Estado nordestino.
O governo tentou o impossível e, obviamente, não conseguiu: conduzir uma reforma centrada em questões
técnicas e econômicas sem
despertar os ressentimentos
existentes entre União, Estados e municípios.
Enquanto o Planalto prega
que a reforma será "neutra"
e não afetará o "pacto federativo", Estados e municípios reclamam da concentração de verbas no governo
federal; Estados pobres reclamam das vantagens dos
ricos; municípios reclamam
dos Estados; municípios pobres reclamam do tratamento concedido aos ricos.
Desde a Constituição de
1988, todas as tentativas de
reformular o sistema de tributos empacaram numa Federação marcada por desigualdades regionais e problemas financeiros urgentes.
Com um agravante: o ICMS,
o mais problemático dos impostos, é a principal fonte de
sobrevivência para governadores e prefeitos.
Depois de propostas fracassadas no passado de tornar o ICMS federal, o governo Luiz Inácio Lula da Silva
tentou uma saída intermediária: manter o ICMS com
os Estados, mas sob legislação nacional. A idéia avançou, mas à custa de trazer à
tona o mal-estar na Federação -para citar "O Mal-Estar na Civilização", clássico
de Freud sobre as agruras da
vida em sociedade.
A reforma de Lula passou a
inchar para incluir temas como um fundo para compensar as regiões mais pobres
pelo fim dos incentivos fiscais; outro fundo para compensar os Estados pelo fim
do ICMS sobre as exportações; a prorrogação da Zona
Franca de Manaus; e a partilha da Cide.
Não será o bastante: está
em curso o conflito entre Estados e municípios pela repartição dos benefícios, que
ganhará força no Senado,
Casa destinada aos assuntos
federativos.
(GUSTAVO PATÚ)
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