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São Paulo, sexta-feira, 12 de setembro de 2003

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REPÚBLICA DOS COMPANHEIROS

Estatais afirmam que dinheiro dado à central não tem a ver com sua relação com o PT

TCU pede informações sobre patrocínio à CUT

JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL

O TCU (Tribunal de Contas da União) enviou ofício às empresas estatais que patrocinaram o evento de comemoração dos 20 anos da CUT (Central Única dos Trabalhadores) cobrando explicações sobre o teor dos contratos firmados com a entidade.
A CUT realizou, em 28 e 29 de agosto, cerimônia e atividades em comemoração de seu aniversário. Disse ter gastado cerca de R$ 700 mil, cobertos pelos patrocínios de duas empresas públicas -Correios e Caixa Econômica Federal- e de duas sociedades de economia mista (aquelas em que os recursos não são apenas do Estado) -Petrobras e Banco do Brasil. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi à comemoração.
Dos R$ 700 mil, R$ 580 mil vieram da Petrobras, e R$ 100 mil, da Caixa, segundo as empresas. Os Correios bancaram R$ 80 mil, de acordo com o Diário Oficial de 28 de agosto. O Banco do Brasil disse que não tem definido o quanto repassará para a entidade, já que ainda ocorrerão outras atividades de comemoração, entre elas, novas publicações. O montante doado por três empresas ultrapassa o que a CUT afirma ter gastado com os dois dias de agosto.
Não é a primeira vez no governo Lula que essas empresas dão dinheiro para eventos da CUT. A Petrobras, o Banco do Brasil e a Caixa patrocinaram, em junho, parte do 8º Congresso Nacional da central. Repassaram R$ 1,15 milhão para um evento que custou R$ 4 milhões. Foi a primeira vez que as estatais entraram em peso num congresso da CUT.
A maior parte do dinheiro da comemoração dos 20 anos, disse a central, foi aplicada na reforma do Pavilhão Vera Cruz, onde ocorreu o evento de aniversário da entidade. Foram produzidos CD-ROMs e livros sobre os 20 anos da CUT. A empresa Via TV foi contratada apara organizar a cerimônia do dia 28, que contou com shows, telões e a apresentação dos atores Sérgio Mamberti e Rosi Campos. Um bufê de São Bernardo do Campo serviu 15 mil salgadinhos, cerveja (120 caixas), refrigerante (1.200 litros) e vinho (50 caixas) para um público de cerca de mil pessoas.
A Folha solicitou à central os valores discriminados da cerimônia. A CUT informou, por meio de sua secretaria de comunicação, que irá divulgá-los depois de "fechar as contas", alegando que muitas despesas foram faturadas. Disse também ser a favor da prestação de informações das estatais para o TCU. Segundo a central, parte das comemorações está sendo bancada por seus 3.350 sindicatos. Além das atividades de agosto, espera também construir um centro cultural na sua sede.

Público alvo
A Caixa, a Petrobras e o Banco do Brasil disseram que o patrocínio não está relacionado com o fato de a CUT ser historicamente ligada ao PT, mas com a presença no evento de trabalhadores, que, segundo elas, são parte do público alvo. Apenas os Correios afirmaram que o patrocínio para a CUT foi uma "exceção" e que é a primeira vez que isso ocorreu.
Durante o governo Fernando Henrique Cardoso, o nome dessas organizações esteve ligado a patrocínios de eventos realizados pela Força Sindical, central que era alinhada ao governo tucano.
Enquanto no ano passado a CUT bancou o seu 1º de Maio com recursos dos sindicatos filiados, nos últimos dois anos a comemoração da Força foi patrocinada parcialmente pela Caixa e pela Petrobras. Para este ano, a Força conseguiu do Planalto a manutenção dos patrocínios.
Os pedidos de informação foram enviados no começo deste mês e devem ser respondidos ao TCU até o meio de setembro.


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