São Paulo, Domingo, 12 de Setembro de 1999
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PAINEL

Saída de emergência 1

Comprometido a não aumentar o preço da gasolina até o fim do ano, o governo voltou a se interessar na criação de um tributo específico sobre a venda de combustíveis, o ""imposto verde". Ainda mais agora, com o novo aumento do petróleo. O assunto está sendo discutido na comissão de reforma tributária.

Saída de emergência 2

Originalmente, a receita do imposto verde seria vinculada apenas ao Ministério dos Transportes, da cota do PMDB. A fórmula em discussão prevê que ficaria algum para o Tesouro. Agrada aos peemedebistas e compensa a perda de impostos cumulativos como a Cofins.



Na caatinga

O senador Ney Suassuna (PMDB) convidou FHC para ver de perto a seca no sertão da Paraíba. O presidente respondeu que antes enviará Pedro Malan (Fazenda), para analisar a situação e propor medidas. O ministro já havia sido convidado por senadores. E não foi.

Bode expiatório

Em conversas com parlamentares, Malan condiciona a recuperação da economia à aprovação da lei de responsabilidade fiscal e das reformas tributária e previdenciária. Quem ouviu saiu com a impressão de que ele já tem um culpado para um eventual fracasso: o Congresso.

Gangorra legislativa

Dos projetos que Malan acha imprescindíveis, a lei de responsabilidade fiscal é a de aprovação mais fácil (tem apoio de governadores). A mudança nas regras da aposentadoria é difícil: tira mercado de trabalho dos mais jovens, faixa com maiores taxas de desemprego.

Mau conselho

FHC aconselhou Carlos Wilson (PE) a não ir para o PPS. Depois, saiu dizendo que o senador deixava o PSDB, mas continuava na base governista, no PTB. Foi o suficiente para Wilson, que estava em dúvida, decidir-se: vai para o PPS.


Plano tartaruga
Se o PPA seguir os passos do ""Brasil em Ação", plano que o inspirou, deverá sair do papel lentamente. FHC aplicou só 22,9% das verbas previstas para o programa no 1º semestre.

Mordomia e retrocesso

A fixação do teto salarial do funcionalismo não interessa ao Congresso, onde se entende que os parlamentares perderiam vantagens como o auxílio moradia (R$ 3 mil) e as passagens aéreas para seus Estados. Há quem fale em voltar à situação anterior, na qual cada Poder fixava o próprio salário.

Trator queimado

A 1ª vítima do rolo compressor governista para FHC ter uma vitória no Congresso deve ser a bancada ruralista. Além da liberação de emendas, a proposta oficial para os pequenos agricultores já conta com apoio de PFL, PSDB e parte do PMDB. Resta saber o que pensa a oposição, que se aliou a Caiado e cia.

Batendo na madeira

Para pegar no pé de Pedro Malan (Fazenda), o PSDB resolveu incensar Armínio Fraga (Banco Central). O presidente do BC deve começar a ficar preocupado. O último a dizer tudo aquilo que os tucanos adoram ouvir foi Clóvis Carvalho. Antes dele, Mendonção.

Discurso e prática
O governo ainda não liberou um centavo dos R$ 2,1 bi previstos para refinanciar mais de 200 cooperativas agrícolas. O projeto, chamado de Recop, foi criado por medida provisória assinada há cerca de dois anos.

Pura maldade

Quem frequenta ou trabalha no Palácio do Planalto diz que o ambiente por lá ficou muito mais respirável após a saída de Clóvis Carvalho do governo.

Caiu a ficha
Vereadores governistas interpretam a entrada de Pitta no minúsculo PTN como o anúncio de que ele não vai tentar a reeleição no ano que vem. "Admitiu que não tem a mínima chance", diz um parlamentar.

TIROTEIO

De Jader Barbalho (PMDB), ao ler declaração de Ciro Gomes (PPS), segundo a qual o que o paraense quer mesmo é receber uma ligação dele:
- Não vou dar confiança a esse rapaz. Acabo de assistir a duas entrevistas do modelo original, o Collor. Chega!

CONTRAPONTO

Diagnóstico científico
Depois de ter sido eleito governador de São Paulo, em 1955, Jânio Quadros fez uma viagem pela Europa acompanhado do assessor Augusto Marzagão e do empresário Roberto Semidei.
Eles visitaram a Inglaterra, a Alemanha, a Itália e a França. Na volta, Jânio foi dar uma palestra na Faculdade de Direito da USP, no largo de São Francisco.
Os estudantes estavam particularmente interessados na recuperação dos países depois da Segunda Guerra (39-45). Um deles foi logo perguntando:
- Governador, o que explica o milagre da rápida recuperação alemã?
- Basicamente, a soma de dois fatores. O Plano Marshall e o orgulho ferido que deu à população uma vontade férrea de reconstruir o país devastado - respondeu Jânio.
- E o milagre italiano? - perguntou outro estudante.
Jânio levou a mão ao queixo. Ficou calado por instantes, refletindo como se fosse dar uma lista de fatores. Depois, disparou:
- Aí, foi milagre mesmo!


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