|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PODER PARALELO
Diretor de órgão que fornece autorizações diz que há "bagunça", mas antes era um "prostíbulo"
Parlamentares fazem lobby para bingos
LUCIO VAZ
da Sucursal de Brasília
JUCA KFOURI
Colunista da Folha
Deputados e senadores estão
exercendo sua influência política
para agilizar a autorização para
funcionamento de bingos, uma
atividade controlada pelo Indesp
(Instituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto), do Ministério do Esporte e do Turismo.
O lobby dos parlamentares
ocorre em meio ao absoluto descontrole da atividade. O ministério não sabe quantos bingos funcionam no país (estima em cerca
de 4.000), onde estão instalados e
como dividem seus lucros. Só oito
funcionários autorizam e fiscalizam a atividade dessas casas.
Duas funcionárias e um ex-funcionário do Indesp prestaram depoimento ao Ministério Público e
denunciaram a existência de
atendimento privilegiado a clientes especiais no órgão e o favorecimento de parlamentares da base
de apoio do governo.
O procurador da República
Luiz Francisco de Souza afirma
que há "um total descontrole" na
concessão de bingos. "Não há critério objetivo. Está tudo ligado a
favores políticos." Acrescentou
que o setor "caminha ao lado da
sonegação de impostos, da lavagem de dinheiro, do contrabando
e da prostituição".
Souza também criticou o fato de
o Indesp ter delegado a 12 Estados, em 1998, a tarefa de autorizar
o funcionamento dos bingos. A
medida aumentou o descontrole
do órgão sobre a atividade.
O diretor de Administração e
Finanças do Indesp, Luiz Antônio
Buffara, reconhece que o órgão
vive um caos administrativo.
"Realmente está uma bagunça.
Mas antes (no ano passado) era
um prostíbulo."
A funcionária Vera Vater disse
ao procurador ter questionado
Buffara sobre o favorecimento a
políticos. "Mencionei que ele estava atendendo somente a quem
pertencia à base de apoio ao governo", afirmou Vera.
"Ele alegou que em toda a Esplanada dos Ministérios era assim
e que estava ali para cumprir as
ordens do sr. ministro (Rafael
Greca)", acrescentou a funcionária. Buffara é o homem de confiança de Greca no Indesp.
O diretor do órgão confirmou à
Folha que os políticos têm atendimento prioritário. "É uma cultura
de Brasília. O deputado tem preferência em qualquer matéria.
Eles passam na frente. Eles querem saber de um processo. A gente dá satisfação."
O presidente do Indesp, Manoel
Tubino, disse que recebe políticos, mas fez uma ressalva. "Isso
não quer dizer que o que pedem é
atendido. Quem tem prioridade
aqui são as confederações, porque
têm abrangência nacional."
Irregularidades
Uma auditoria realizada no Indesp pela Secretaria de Controle
Interno da Presidência da República no ano passado investigou
dez de um grupo de 147 processos. Os dez estavam irregulares.
O Esporte Clube São José, de
Porto Alegre (RS), encaminhou
dois pedidos de autorização. O
primeiro entrou no Indesp no dia
28 de setembro e foi autorizado
no dia seguinte, para ser realizado
seis dias mais tarde.
Pela legislação, o pedido deve
ser feito um mês antes do evento.
Para viabilizar o bingo, o Indesp
concedeu ao São José um certificado de autorização especial a título precário.
Um segundo pedido foi feito em
20 de outubro e autorizado no dia
23, para realização no dia 26. O
deputado Augusto Nardes (PPB-RS) disse à Folha que encaminhou pedidos de autorização para
o São José no ano passado.
"Pedi autorização para dois bingos eventuais. A burocracia é pesada e havia atraso na liberação.
Mas não sei detalhes, porque foi o
meu assessor que encaminhou os
pedidos", afirmou o deputado.
O deputado Nelson Marquezelli
(PTB-SP) disse que encaminhou
pedidos de autorização para dois
bingos permanentes, um em Mogi Guaçu e outro em Araras. O
bingo do Clube Atlético Guaçuano foi aprovado em 24 de agosto.
Será administrado pela empresa Amaral Moreira & Associados
Promoções e Eventos. "Foi um
pedido de um pessoal que me ajudou na campanha. Uma assessora
minha foi ao Indesp e tocou tudo.
Pediram uma série de documentos", relatou Marquezelli.
O deputado Pedro Canedo
(PSDB-GO) foi ao Indesp pedir a
agilização na autorização do bingo do D. Pedro, clube de futebol
de Brasília. "A autorização vencia
em julho. Foi o que pedi. Sou amigo do Tubino de longa data.
Quando surge problema, ele toma providência na hora", disse.
Canedo disse que "alertou" Tubino sobre a necessidade de ampliar o número de entidades credenciadas para fazer os laudos
técnicos das máquinas de bingo.
Hoje, só três entidades (USP, Unicamp e PUC-RJ) fazem os laudos.
O deputado Arnaldo Faria de Sá
(PPB-SP), ex-presidente da Lusa,
contatou Buffara e pediu a renovação do bingo eventual do clube.
"Foi um pedido para agilizar, o
processo estava demorado."
O senador Ernandes Amorim
(PFL-RO) afirmou que foi ao Indesp defender a regulamentação e
a moralização no funcionamento
dos bingos. "Sou defensor do jogo
legalizado. Hoje existe uma máfia
no setor do jogo. Tem bingos funcionando ilegalmente", disse.
Ele disse que recebeu denúncias
de empresários do setor que
atuam legalmente em São Paulo.
"Quem está ilegal deve ser fechado. Quem estiver de acordo com a
lei deve funcionar. Os bingos têm
de ser controlados pelo governo."
Texto Anterior: Infância: Paraná suspende adoções da Limiar Próximo Texto: Ministro descarta privilégios a políticos Índice
|