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"Não tenho a mesma liberdade. Se tivesse, também sairia" , diz governador a prefeito de São Bernardo
Covas autoriza tucano a aderir ao PPS
MÔNICA BERGAMO
da Reportagem Local
Durante 40 dias, o prefeito de
São Bernardo do Campo, Maurício Soares, esperou por um telefonema do governador de São Paulo, Mário Covas, pedindo para
que ele ficasse no PSDB. Soares
estava decidido a deixar o partido
porque, segundo diz, as críticas à
política econômica do presidente
Fernando Henrique Cardoso se
tornaram "insuportáveis" no
ABC. De acordo com ele, pesquisas mostram que FHC é rejeitado
por 80% dos eleitores da região.
Por isso, Soares diz que só ficaria no partido tucano se ouvisse
um apelo de Covas. Depois de pedir "um tempo" para pensar, Covas telefonou e os dois se encontraram no Palácio dos Bandeirantes. "Entendo o seu drama. Acho
que você deve sair", disse o governador. E completou: "Eu não tenho a mesma liberdade que você.
Se tivesse, também sairia".
No próximo dia 19, Soares se filia ao PPS, partido que sustenta a
candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República.
A conversa entre os dois foi presenciada pelo deputado federal
João Herrmann, do PPS. "O que o
Covas nos falou a respeito dos ministros de Fernando Henrique é
impublicável", diz o deputado.
O prefeito de São Bernardo é o
segundo político de expressão ligado a Covas que deixa o PSDB
paulista para ingressar no PPS.
Há duas semanas, o deputado federal Emerson Kapaz, ex-secretário da Ciência e Tecnologia de Covas, anunciou a mesma decisão.
O governador não gostou. Ele
acha que Kapaz não estava sofrendo tanta pressão quanto Soares e só foi para o PPS porque
quer uma legenda para disputar a
Prefeitura de São Paulo.
Ainda assim, Covas disse compreender e, na ocasião, também
falou com Kapaz em tom de desabafo: "Você sabe muito bem das
dificuldades que estou enfrentando com o governo federal e com o
partido. Só que não posso sair".
As conversas mostram que, na
intimidade, Covas se revela bem
mais irritado com o governo federal do que é possível concluir a
partir das críticas que faz em público. "Ele anda uma fera", disse à
Folha um dos parlamentares
mais próximos do governador.
Segundo o parlamentar, Covas
até hoje "não engoliu" o episódio
da Ford, em que o governo federal
deu incentivos para que a montadora se instalasse na Bahia, no
que o governador considera um
incentivo à guerra fiscal.
Outra reclamação é a demora
em privatizar o Banespa. O banco
está sob administração do governo federal. Quando for vendido,
uma parte do dinheiro, correspondente a 51% das ações ordinárias, vai para o governo de São
Paulo, antigo dono das ações.
A assessoria do governador diz
que ele não quer rivalizar com o
governo federal e que faz dentro
de casa as mesmas críticas que faz
fora. Em público, o governador já
disse que a política econômica
"tem de mudar o rumo".
"Laranja"
As adesões de tucanos ligados a
Covas e a outros governadores do
PSDB já levaram o presidente do
PMDB, Jader Barbalho, a afirmar
que Ciro Gomes é candidato "laranja" dos tucanos, uma alternativa eleitoral para o caso de o governo de FHC naufragar.
O deputado João Herrmann, líder do PPS na Câmara, nega. "Jader é esperto. Ele já está prevendo
uma desarticulação maior do governo e sabe que os ratos vão pular do navio. Por isso, quer desacreditar o Ciro Gomes", diz.
O PPS vem registrando um número recorde de adesões, principalmente de candidatos às eleições municipais do ano 2000. O
partido elegeu 32 prefeitos e hoje
tem 189. De 506 vereadores, pulou
para 2021; de 23 deputados estaduais, para 38; de 3 federais, para
12; e de 1 senador, para 3.
Há de tudo um pouco: do ex-prefeito de Manaus Eduardo Braga, ex-aliado de Amazonino Mendes, governador do Amazonas,
que já foi do PDS, PMDB, PDC,
PPB e PSL; a políticos do PSB ligados ao ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes.
Há ex-tucanos paulistas e há
também ex-quercistas, como o
deputado estadual Arnaldo Jardim. Ciro Gomes já chamou
Quércia de "síntese do político ladrão".
"Não vamos fazer patrulhamento", diz Herrmann, para
quem o partido não está inchando. "Só aceitamos políticos democráticos, éticos e honestos."
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