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ANÁLISE
FHC foi o "marqueteiro" de Lula perante Chávez
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O embaixador da Venezuela,
Vladimir Villegas, desprezou ontem as declarações do tucano José Serra prevendo que o Brasil viraria uma Venezuela com a vitória do petista Luiz Inácio Lula da
Silva: "Uma coisa é o que diz o
candidato [Serra], e outra o que
diz o governo [FHC]".
Villegas deixou claro, assim, a
proximidade dos presidentes
Hugo Chávez e Fernando Henrique Cardoso. Apesar de os desacertos da Venezuela serem usados contra Lula no Brasil, Chávez
é mais amigo de FHC do que do
próprio Lula, com quem se encontrou pessoalmente no final
do ano passado, em Caracas.
Em discurso durante comício
em Goiânia, anteontem à noite,
Serra defendeu uma "mudança
segura" e fez a comparação: "Vejam o que aconteceu na Venezuela. O que deu prometer sonhos sem pensar na realidade,
frustrando e trazendo inquietações, perturbações e um retrocesso para o país".
O maior "cabo eleitoral" de Lula junto ao presidente venezuelano, porém, foi o próprio FHC. A
primeira viagem internacional
de Chávez ao ser eleito foi ao Brasil, os dois têm canal direto e
Chávez sempre prestigiou o Brasil para afirmar sua prioridade de
virar as costas para os EUA e de
frente para a América Latina.
Num dos encontros dos dois
presidentes, ainda no ano passado, FHC comentava o processo
político brasileiro quando criticou a então forte candidatura da
pefelista Roseana Sarney como
um "retrocesso". Na sua opinião,
Lula seria "um avanço", ao contrário de outras alternativas, como Itamar Franco (sem partido)
ou Anthony Garotinho (PSB).
O presidente venezuelano
guardou muito bem a conversa e,
ao saber que Lula iria a Cuba em
dezembro para uma reunião latino-americana e se encontraria
com o ditador Fidel Castro, telefonou para o Instituto Cidadania, do PT, convidando-o para
esticar a viagem até Caracas.
Lula foi e, conforme a Folha
apurou à época, ouviu a confidência de Chávez: FHC considerava
que Lula e o PT não seriam uma
má opção para o Brasil.
Apesar da ligação com FHC -a
quem chama de "maestro" (mestre em espanhol)-, Chávez nunca apoiou Serra. E, desde então,
elogia Lula em discursos e entrevistas. Uma delas foi em Johannesburgo, África do Sul, depois de
uma reunião sobre ambiente da
qual participaram tanto Chávez
quanto FHC.
A jornalistas brasileiros, o presidente venezuelano defendeu que
"os caminhos do desenvolvimento integral passam pela esquerda"
e se referiu assim ao candidato do
PT: "Lula é muito amigo meu,
grande amigo meu, extraordinário amigo meu".
A manifestação de apoio de
Chávez a Lula é usada por setores
conservadores do Brasil como
tentativa de dizer que a vitória do
petista poderia reforçar a posição
de Fidel e de Chávez na América
Latina, fazendo uma espécie de
triângulo de esquerda.
No Brasil e na Venezuela, a esquerda reage com contra-informações. Na véspera do primeiro turno, por exemplo, chavistas
tentaram divulgar a versão de que
o ato de anteontem contra Chávez
seria antecipado para domingo,
para prejudicar Lula.
A versão não era verdadeira, e o
ato não foi antecipado. Foi anteontem, como previsto, com milhares de pessoas na rua e a sensação de que Chávez dificilmente
manterá sustentação no poder.
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