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DISPUTA ENTRE PODERES
Presidente do STF afirma que "desvio" de juízes é "exceção"
Corrêa diz que o Judiciário vive "pesadelo de conflitos"
TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do STF (Supremo
Tribunal Federal), ministro Maurício Corrêa, afirmou ontem que
o Poder Judiciário "neste instante
vive um pesadelo de conflitos de
circunstâncias". Segundo ele, a
"saraivada de críticas" que o Poder vem recebendo "se adensou
com alguns episódios que aconteceram isoladamente com alguns
poucos magistrados".
"Nós somos cerca de 12 mil a 15
mil magistrados no Brasil. Se oito,
dez praticam desvio, não tiveram
condutas aprováveis -porque
são reprováveis-, isso não quer
dizer que os outros 15 mil estejam
incluídos. É uma exceção à regra,
pelo amor de Deus", disse Corrêa.
A declaração faz referência à
Operação Anaconda, que investiga uma suposta quadrilha no Judiciário que vendia sentenças, e a
uma pesquisa feita pelo instituto
Toledo e Associados, que mostrou que 38% não confiam na Justiça. A pesquisa foi encomendada
pela OAB (Ordem dos Advogados
do Brasil) e divulgada anteontem.
O ministro criticou a forma como
a pesquisa foi feita.
"Essa pesquisa dá um rumo interessante porque mistura o Judiciário com o Ministério Público, a
advocacia e até a polícia." Ele afirmou que não pode "dizer que
houve dirigismo na pesquisa, mas
as repostas realmente dão esse
sentido de que quem era consultado respondia embolando todo
mundo como se fosse um só".
O ministro disse que a Justiça
está "cortando na própria carne",
porque o Judiciário não aceita nenhum desvio de conduta. "Quem
erra na Justiça tem uma gravidade
mais pesada do que quem erra aí
fora." Ele enfatizou que a Operação Anaconda, que deixou sob
suspeita três juízes federais em
São Paulo, foi viável pela colaboração do próprio Judiciário.
"[A operação] só foi possível
porque houve uma juíza, a desembargadora do Tribunal Regional de São Paulo, que determinou a quebra do sigilo dessas pessoas, inclusive dos próprios magistrados. E foi o Tribunal Regional Federal de São Paulo que determinou a prisão dos juízes."
Lula
Corrêa afirmou ainda não saber
quando se reunirá com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No último dia 27, o ministro enviou ao presidente da Câmara,
João Paulo Cunha, ao presidente
do Congresso, José Sarney, e a Lula um convite para debater os
problemas do Judiciário. O presidente respondeu apenas ontem.
"Recebi dos dois primeiros uma
incentivadora resposta de que
aceitam o convite e também recebi do presidente da República. Ele
apenas pondera para que haja
primeiro uma discussão entre assessores para selecionar a temática. Achei perfeitamente razoável", disse Corrêa.
Segundo ele, a demora na resposta não desgastou a relação do
Judiciário com o Executivo.
"Nunca houve de minha parte
qualquer intenção de ofender
quem quer que seja. Sempre as
manifestações que tive de fazer
foram no sentido institucional.
Pode ser que um ou outro [comentário] apenas se resvalou para um comentário de natureza
pessoal", afirmou o ministro.
Corrêa disse que dará opinião
sobre o controle externo do Judiciário quando for ao Senado, onde está o projeto de reforma do
Judiciário.
"Com controle externo ou sem
controle externo, isso é uma
questão que não vai resolver o
problema do Poder Judiciário. Eu
não estou dizendo que sou contra
ou que sou a favor."
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