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Cargos devem refletir peso político, diz Aldo
Presidente da Câmara cita princípio leninista de que "essência da tática é a correlação das forças" ao falar de composição do governo
Deputado não confirma se vai tentar reeleição para comando de Casa e diz que governo deve tentar atrair para a base todo o PMDB
MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao assumir pela primeira vez
o posto de presidente da República, o presidente da Câmara,
Aldo Rebelo (PC do B-SP), terceiro na linha sucessória, defende que os partidos da base
de apoio ao presidente Luiz
Inácio Lula da Silva entendam
um princípio leninista ao reivindicar cargos no governo: "A
essência da tática é a correlação
de forças". Ou seja, cada um levará sua parte conforme seu tamanho e peso político. "Todo
partido resiste a ceder espaço."
Evasivo quando questionado
se tentará a reeleição ao cargo,
Aldo sinaliza para a necessidade de um entendimento entre
aliados também nesta disputa
congressual. Veja os principais
trechos da entrevista:
FOLHA - O sr. acredita em um projeto claro para unir os partidos da
coalizão pró-Lula, ou se resumirá ao
fatiamento de cargos?
ALDO REBELO - Coalizão é uma
tradição na cultura política do
Brasil. Tivemos coalizão para
fazer a Independência, a República, para a redemocratização,
e vamos ter no governo do presidente Lula. A coalizão tem
que ter como foco a retomada
do crescimento da economia.
FOLHA - Essa coalizão será feita
com base em quais termos?
ALDO - Não é só crescimento. É
um conceito mais amplo, de desenvolvimento econômico,
científico, tecnológico, educacional, social, desenvolvimento
político, aprofundamento da
democracia.
FOLHA - Nos primeiros passos para
discutir a formação do governo já se
fala na resistência do PT em ceder
espaço. Será um obstáculo?
ALDO - Todo partido deseja espaço e todo partido resiste a ceder espaço. Aí tem que valer o
princípio "a César o que é de
César e a Deus o que é de Deus".
Ou, se quiserem, o princípio leninista: "A essência da tática é a
correlação de forças". Ou seja,
resolvido que quem apóia o governo participa do governo, cada um participa na proporção
da sua força, da sua influência
eleitoral, política e ideológica.
FOLHA - A sucessão na Câmara e no
Senado deve ser discutida nesta lógica de coalizão, que envolve a composição do governo?
ALDO - A composição do governo é uma tarefa do Executivo. A
eleição para as presidências da
Câmara e do Senado envolve
partidos. Agora, como há partidos da base do governo na Câmara e no Senado, eles têm que
se entender.
FOLHA - O sr. já decidiu disputar a
reeleição?
ALDO - Não. Ainda não conversei com os partidos da base sobre isso. A escolha dos presidentes da Câmara e do Senado
depende muito menos da pretensão de cada um e muito mais
do arranjo das forças políticas.
É muito cedo para falar deste
assunto.
FOLHA - O presidente Lula terá condições políticas para construir uma
maioria depois das crises?
ALDO - Tem plenas condições
de alcançar a maioria e a governabilidade. Há uma compreensão muito clara por parte das
correntes políticas, das forças
sociais intelectuais e econômicas relevantes do país da necessidade da governabilidade.
FOLHA - José Serra e Aécio Neves
são o ponto de partida para retomar
o diálogo com o PSDB?
ALDO - Ambos têm uma relação antiga com o presidente
Lula e com outras lideranças
que apóiam o presidente. Acho
natural que tenham relações
cordiais, embora divergentes.
FOLHA - A próxima reforma tem
que ser a política?
ALDO - Se depender de mim,
sim. Tem que ser a reforma
mais abrangente possível, mas
capaz de reunir o apoio das forças políticas mais relevantes do
Congresso. Não creio na possibilidade de aprovarmos uma
reforma política se não houver
um entendimento razoável entre os partidos da base e da oposição. Creio que o financiamento público e o voto em lista são
os pontos de partida.
FOLHA - O PMDB terá de fato uma
fatia maior de poder?
ALDO - Nós vivemos num país
cuja governabilidade exige a
presença de forças do espectro
do centro político e ideológico
no governo. E essa força é o
PMDB. Não há como o país ser
governado sem a presença do
PMDB. Acho que o PMDB é
fundamental. Devemos fazer
um esforço para trazer todo o
PMDB para a base do governo.
FOLHA - Todo o PMDB é impossível.
ALDO - Não custa nada lutar
pelo impossível.
FOLHA - O sr. acha possível uma fusão do PC do B com o PT?
ALDO - Eu não vejo no cenário
imediato essa perspectiva de
fusão. Somos um partido com
particularidade política e ideológica. Não é fácil que o PC do B
se incorpore a outros partidos.
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