São Paulo, domingo, 12 de novembro de 2006

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Cargos devem refletir peso político, diz Aldo

Presidente da Câmara cita princípio leninista de que "essência da tática é a correlação das forças" ao falar de composição do governo

Deputado não confirma se vai tentar reeleição para comando de Casa e diz que governo deve tentar atrair para a base todo o PMDB

MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao assumir pela primeira vez o posto de presidente da República, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), terceiro na linha sucessória, defende que os partidos da base de apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva entendam um princípio leninista ao reivindicar cargos no governo: "A essência da tática é a correlação de forças". Ou seja, cada um levará sua parte conforme seu tamanho e peso político. "Todo partido resiste a ceder espaço." Evasivo quando questionado se tentará a reeleição ao cargo, Aldo sinaliza para a necessidade de um entendimento entre aliados também nesta disputa congressual. Veja os principais trechos da entrevista:  

FOLHA - O sr. acredita em um projeto claro para unir os partidos da coalizão pró-Lula, ou se resumirá ao fatiamento de cargos?
ALDO REBELO
- Coalizão é uma tradição na cultura política do Brasil. Tivemos coalizão para fazer a Independência, a República, para a redemocratização, e vamos ter no governo do presidente Lula. A coalizão tem que ter como foco a retomada do crescimento da economia.

FOLHA - Essa coalizão será feita com base em quais termos?
ALDO
- Não é só crescimento. É um conceito mais amplo, de desenvolvimento econômico, científico, tecnológico, educacional, social, desenvolvimento político, aprofundamento da democracia.

FOLHA - Nos primeiros passos para discutir a formação do governo já se fala na resistência do PT em ceder espaço. Será um obstáculo?
ALDO
- Todo partido deseja espaço e todo partido resiste a ceder espaço. Aí tem que valer o princípio "a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". Ou, se quiserem, o princípio leninista: "A essência da tática é a correlação de forças". Ou seja, resolvido que quem apóia o governo participa do governo, cada um participa na proporção da sua força, da sua influência eleitoral, política e ideológica.

FOLHA - A sucessão na Câmara e no Senado deve ser discutida nesta lógica de coalizão, que envolve a composição do governo?
ALDO
- A composição do governo é uma tarefa do Executivo. A eleição para as presidências da Câmara e do Senado envolve partidos. Agora, como há partidos da base do governo na Câmara e no Senado, eles têm que se entender.

FOLHA - O sr. já decidiu disputar a reeleição?
ALDO
- Não. Ainda não conversei com os partidos da base sobre isso. A escolha dos presidentes da Câmara e do Senado depende muito menos da pretensão de cada um e muito mais do arranjo das forças políticas. É muito cedo para falar deste assunto.

FOLHA - O presidente Lula terá condições políticas para construir uma maioria depois das crises?
ALDO
- Tem plenas condições de alcançar a maioria e a governabilidade. Há uma compreensão muito clara por parte das correntes políticas, das forças sociais intelectuais e econômicas relevantes do país da necessidade da governabilidade.

FOLHA - José Serra e Aécio Neves são o ponto de partida para retomar o diálogo com o PSDB?
ALDO
- Ambos têm uma relação antiga com o presidente Lula e com outras lideranças que apóiam o presidente. Acho natural que tenham relações cordiais, embora divergentes.

FOLHA - A próxima reforma tem que ser a política?
ALDO
- Se depender de mim, sim. Tem que ser a reforma mais abrangente possível, mas capaz de reunir o apoio das forças políticas mais relevantes do Congresso. Não creio na possibilidade de aprovarmos uma reforma política se não houver um entendimento razoável entre os partidos da base e da oposição. Creio que o financiamento público e o voto em lista são os pontos de partida.

FOLHA - O PMDB terá de fato uma fatia maior de poder?
ALDO
- Nós vivemos num país cuja governabilidade exige a presença de forças do espectro do centro político e ideológico no governo. E essa força é o PMDB. Não há como o país ser governado sem a presença do PMDB. Acho que o PMDB é fundamental. Devemos fazer um esforço para trazer todo o PMDB para a base do governo.

FOLHA - Todo o PMDB é impossível.
ALDO
- Não custa nada lutar pelo impossível.

FOLHA - O sr. acha possível uma fusão do PC do B com o PT?
ALDO
- Eu não vejo no cenário imediato essa perspectiva de fusão. Somos um partido com particularidade política e ideológica. Não é fácil que o PC do B se incorpore a outros partidos.


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