São Paulo, quinta, 12 de novembro de 1998

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JANIO DE FREITAS
Um nome sob investigação

Ao concluir que o gravador de telefonemas da presidência do BNDES foi instalado na Telerj, o governo adotou imediatamente a convicção de que, junto com a primeira constatação, chegara à outra: a identificação de um ex-presidente da Telerj como mandante das gravações, faltando só buscar as provas com a Polícia Federal.
O que levou à convicção foi a convergência de três elementos. Um deles, o necessário contato do mandante com pessoal da Telerj, o que seria fácil para um ex-presidente da empresa, então ainda estatal. Além disso, a suspeição de envolvimento em outros casos de gravações clandestinas, como a de telefonemas comprometedores do presidente da Telerj no governo Itamar Franco, José de Castro Ferreira. E, de quebra, ligação, ao menos passada, com o grupo Collor.
As investigações de autoria, que não esperaram pela entrega formal do caso à Polícia Federal, estão concentradas naquela personagem. Não chega a ser surpreendente a dedução do governo, porque todos os casos de grampeamento telefônico, nos últimos anos, suscitaram menções àquele ex- presidente da Telerj como suspeito. Em nenhum caso, porém, houve comprovação, ou porque o serviço era bem feito, como acreditam muitos, ou porque a suspeição era infundada. Entre as duas hipóteses, nenhum fato concreto levou mais a uma ou a outra.
Apesar da concordância quanto à (possível) origem das gravações, o pessoal do governo não se entendeu quanto às causas. A mistura do caso com uma chantagem inexistente, mas útil para situar o governo como vítima e não como suspeito de negócios ilícitos, continuou sendo usada pelo chefe do Gabinete Militar e pelos líderes do governismo no Congresso. E, ainda mais sem sentido, pelos jornais.
Já o alvo principal das gravações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, as atribui à venda de informações sigilosas sobre as privatizações das telefônicas. Nega, portanto, a versão oficial e "jornalística" de chantagem. Mas aponta algumas referências na mesma direção da personagem visada pelas investigações.
Com a entrega, por Fernando Henrique Cardoso, dos casos da gravação e da conta nas Ilhas Cayman ao Gabinete Militar, tínhamos este primor de transparência: a Presidência "investigando" a Presidência. Com a transferência dos casos para o Ministério da Justiça, temos o governo (por um ex- integrante do grupo Collor) investigando o governo e o grupo Collor. Com a inclusão da Procuradoria Geral da República na ação do Ministério da Justiça, temos um representante do vice- presidente Marco Maciel dando sua contribuição, qualquer que seja, para a transparência adotada por Fernando Henrique.
Só, talvez, o Congresso pudesse desenvolver certas investigações, nos dois casos. Já vimos isso, no episódio do governo Collor. Mas a entrada efetiva do Congresso é o que Fernando Henrique e os parlamentares governistas não admitem nem como cogitação. Mas, como nos ensinaram os avozinhos, quem não deve não teme. Ou, como sugerem os ares amarelados dos governistas, quem não deve não treme.



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