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JANIO DE FREITAS
Um nome sob
investigação
Ao concluir que o gravador
de telefonemas da presidência
do BNDES foi instalado na Telerj, o governo adotou imediatamente a convicção de que,
junto com a primeira constatação, chegara à outra: a identificação de um ex-presidente
da Telerj como mandante das
gravações, faltando só buscar
as provas com a Polícia Federal.
O que levou à convicção foi a
convergência de três elementos. Um deles, o necessário
contato do mandante com
pessoal da Telerj, o que seria
fácil para um ex-presidente da
empresa, então ainda estatal.
Além disso, a suspeição de envolvimento em outros casos de
gravações clandestinas, como
a de telefonemas comprometedores do presidente da Telerj
no governo Itamar Franco, José de Castro Ferreira. E, de
quebra, ligação, ao menos
passada, com o grupo Collor.
As investigações de autoria,
que não esperaram pela entrega formal do caso à Polícia Federal, estão concentradas naquela personagem. Não chega
a ser surpreendente a dedução
do governo, porque todos os
casos de grampeamento telefônico, nos últimos anos, suscitaram menções àquele ex-
presidente da Telerj como suspeito. Em nenhum caso, porém, houve comprovação, ou
porque o serviço era bem feito,
como acreditam muitos, ou
porque a suspeição era infundada. Entre as duas hipóteses,
nenhum fato concreto levou
mais a uma ou a outra.
Apesar da concordância
quanto à (possível) origem das
gravações, o pessoal do governo não se entendeu quanto às
causas. A mistura do caso com
uma chantagem inexistente,
mas útil para situar o governo
como vítima e não como suspeito de negócios ilícitos, continuou sendo usada pelo chefe
do Gabinete Militar e pelos líderes do governismo no Congresso. E, ainda mais sem sentido, pelos jornais.
Já o alvo principal das gravações, Luiz Carlos Mendonça
de Barros, as atribui à venda
de informações sigilosas sobre
as privatizações das telefônicas. Nega, portanto, a versão
oficial e "jornalística" de
chantagem. Mas aponta algumas referências na mesma direção da personagem visada
pelas investigações.
Com a entrega, por Fernando Henrique Cardoso, dos casos da gravação e da conta nas
Ilhas Cayman ao Gabinete
Militar, tínhamos este primor
de transparência: a Presidência "investigando" a Presidência. Com a transferência dos
casos para o Ministério da Justiça, temos o governo (por um
ex- integrante do grupo Collor) investigando o governo e
o grupo Collor. Com a inclusão da Procuradoria Geral da
República na ação do Ministério da Justiça, temos um representante do vice- presidente
Marco Maciel dando sua contribuição, qualquer que seja,
para a transparência adotada
por Fernando Henrique.
Só, talvez, o Congresso pudesse desenvolver certas investigações, nos dois casos. Já vimos isso, no episódio do governo Collor. Mas a entrada efetiva do Congresso é o que Fernando Henrique e os parlamentares governistas não admitem nem como cogitação.
Mas, como nos ensinaram os
avozinhos, quem não deve
não teme. Ou, como sugerem
os ares amarelados dos governistas, quem não deve não treme.
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