São Paulo, quinta, 12 de novembro de 1998

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APURAÇÃO
General diz que presidente não é afetado por grampo e por dossiê
Sem conclusões, governo passa investigação à PF

da Sucursal de Brasília


A Presidência da República decidiu ontem encerrar as investigações que vinha fazendo internamente por meio da Subsecretaria de Inteligência da Casa Militar. Sem chegar a nenhuma conclusão, repassou os casos do grampo telefônico e do dossiê contra a cúpula tucana para a Polícia Federal e para o Ministério Público.
Ontem, o general Alberto Cardoso, ministro-chefe da Casa Militar, afirmou que "não se chegou a praticamente nada" no caso do dossiê, que ele recebeu há 35 dias.
No caso das fitas, investigadas desde agosto, o general sustenta que se tratou de "um caso típico de espionagem comercial", mas que o grampo não teria afetado o leilão da Telebrás -motivo principal da escuta, segundo ele.
Nos dois casos, a única conclusão do Planalto é que a figura do presidente Fernando Henrique Cardoso não foi atingida. Por isso, estaria afastada a hipótese de tratar-se de uma questão estratégica de Estado, o que teria justificado o fato de as investigações até agora terem sido restritas.
Ontem, por ordem do próprio presidente, cópias das oito páginas encaminhadas pelo ministro José Serra (Saúde), no dia 6 de outubro, com as supostas chantagens, foram entregues ao Ministério da Justiça para repasse à Polícia Federal.
Caberá à PF conduzir as investigações da forma que melhor entender.
Os papéis fazem referência a uma suposta conta de US$ 368 milhões que FHC, o governador Mário Covas (PSDB-SP), o ministro José Serra (Saúde) e o ministro Sérgio Motta (morto em abril) teriam em nome de uma empresa fantasma no Caribe.
Uma das cópias cita a empresa Eucatex, que pertence à família do candidato derrotado ao governo paulista Paulo Maluf (PPB). Nela aparece a data de 25 de outubro -que coincide com o segundo turno das eleições-, o que caracterizaria chantagem com fins eleitorais, segundo o Planalto.
Embora tenha contratado até consultorias especializadas em finanças, em lavagem de dinheiro e em movimentação bancária, inclusive no exterior, Cardoso admitiu que suas conclusões não são definitivas.
Cardoso disse que não conseguiu checar a existência da empresa CH, J & T, que a Folha localizou em Nassau (Bahamas).
Segundo Cardoso, uma das dificuldades é que o material analisado era "xerox de fax", mas insistiu na tese de que os papéis foram forjados. "Eu tenho absoluta convicção de que foi armado."
Para ele, é de interesse do governo chegar aos supostos chantagistas.
O porta-voz da Presidência, Sergio Amaral, disse ainda que não há temores, pois "evidentemente" não há empresas em nome de FHC no exterior.
Sobre a existência de contas no exterior em nome de FHC, o general disse que não tinha conhecimento delas. "Se tiver, não há nada a estranhar. Eu morei no exterior. Eu mesmo tenho alguns dólares lá."
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Grampo Cardoso descreveu a operação que terminou com a posse de duas fitas com conversas gravadas a partir da sede do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), no Rio, quartel-general da privatização da Telebrás.
Em agosto, agentes da inteligência contaram a Cardoso que conversas do presidente haviam sido grampeadas no Rio. A partir daí, ele mobilizou a estrutura da subsecretaria para encontrar o material.
No final de setembro, a partir de um telefonema anônimo, o governo chegou a duas fitas com conversas de FHC, Luiz Carlos Mendonça de Barros (ministro das Comunicações) e André Lara Resende (presidente do BNDES). Elas foram colocadas sob um viaduto na BR-040 (Brasília-Rio).
Embora Cardoso suspeite da existência de outras fitas, ele insiste em que as informações contidas nas duas cópias ouvidas não tiveram nenhuma influência no leilão da Telebrás, realizado no dia 29 de julho. "Não houve deslizes."
Segundo ele, a voz de FHC só aparece uma vez, quando comenta a privatização das teles e uma tentativa de invasão, pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), do prédio do BNDES. "Foi uma conversa de forma jocosa", disse, sem detalhar ou fornecer cópia da gravação.
Como o prédio do BNDES havia sido varrido contra grampos, ele afirma que o problema ocorreu na Telerj.



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