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APURAÇÃO
General diz que presidente não é afetado por grampo e por dossiê
Sem conclusões, governo passa investigação à PF
da Sucursal de Brasília
A Presidência
da República
decidiu ontem
encerrar as investigações que
vinha fazendo
internamente
por meio da
Subsecretaria de Inteligência da
Casa Militar. Sem chegar a nenhuma conclusão, repassou os casos
do grampo telefônico e do dossiê
contra a cúpula tucana para a Polícia Federal e para o Ministério Público.
Ontem, o general Alberto Cardoso, ministro-chefe da Casa Militar,
afirmou que "não se chegou a praticamente nada" no caso do dossiê,
que ele recebeu há 35 dias.
No caso das fitas, investigadas
desde agosto, o general sustenta
que se tratou de "um caso típico de
espionagem comercial", mas que o
grampo não teria afetado o leilão
da Telebrás -motivo principal da
escuta, segundo ele.
Nos dois casos, a única conclusão
do Planalto é que a figura do presidente Fernando Henrique Cardoso não foi atingida. Por isso, estaria
afastada a hipótese de tratar-se de
uma questão estratégica de Estado,
o que teria justificado o fato de as
investigações até agora terem sido
restritas.
Ontem, por ordem do próprio
presidente, cópias das oito páginas
encaminhadas pelo ministro José
Serra (Saúde), no dia 6 de outubro,
com as supostas chantagens, foram entregues ao Ministério da
Justiça para repasse à Polícia Federal.
Caberá à PF conduzir as investigações da forma que melhor entender.
Os papéis fazem referência a uma
suposta conta de US$ 368 milhões
que FHC, o governador Mário Covas (PSDB-SP), o ministro José
Serra (Saúde) e o ministro Sérgio
Motta (morto em abril) teriam em
nome de uma empresa fantasma
no Caribe.
Uma das cópias cita a empresa
Eucatex, que pertence à família do
candidato derrotado ao governo
paulista Paulo Maluf (PPB). Nela
aparece a data de 25 de outubro
-que coincide com o segundo
turno das eleições-, o que caracterizaria chantagem com fins eleitorais, segundo o Planalto.
Embora tenha contratado até
consultorias especializadas em finanças, em lavagem de dinheiro e
em movimentação bancária, inclusive no exterior, Cardoso admitiu que suas conclusões não são definitivas.
Cardoso disse que não conseguiu
checar a existência da empresa
CH, J & T, que a Folha localizou
em Nassau (Bahamas).
Segundo Cardoso, uma das dificuldades é que o material analisado era "xerox de fax", mas insistiu
na tese de que os papéis foram forjados. "Eu tenho absoluta convicção de que foi armado."
Para ele, é de interesse do governo chegar aos supostos chantagistas.
O porta-voz da Presidência, Sergio Amaral, disse ainda que não há
temores, pois "evidentemente"
não há empresas em nome de FHC
no exterior.
Sobre a existência de contas no
exterior em nome de FHC, o general disse que não tinha conhecimento delas. "Se tiver, não há nada
a estranhar. Eu morei no exterior.
Eu mesmo tenho alguns dólares
lá."
²
Grampo
Cardoso descreveu a operação
que terminou com a posse de duas
fitas com conversas gravadas a
partir da sede do BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social), no Rio, quartel-general da privatização da Telebrás.
Em agosto, agentes da inteligência contaram a Cardoso que conversas do presidente haviam sido
grampeadas no Rio. A partir daí,
ele mobilizou a estrutura da subsecretaria para encontrar o material.
No final de setembro, a partir de
um telefonema anônimo, o governo chegou a duas fitas com conversas de FHC, Luiz Carlos Mendonça
de Barros (ministro das Comunicações) e André Lara Resende
(presidente do BNDES). Elas foram colocadas sob um viaduto na
BR-040 (Brasília-Rio).
Embora Cardoso suspeite da
existência de outras fitas, ele insiste em que as informações contidas
nas duas cópias ouvidas não tiveram nenhuma influência no leilão
da Telebrás, realizado no dia 29 de
julho. "Não houve deslizes."
Segundo ele, a voz de FHC só
aparece uma vez, quando comenta
a privatização das teles e uma tentativa de invasão, pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Sem
Terra), do prédio do BNDES. "Foi
uma conversa de forma jocosa",
disse, sem detalhar ou fornecer cópia da gravação.
Como o prédio do BNDES havia
sido varrido contra grampos, ele
afirma que o problema ocorreu na
Telerj.
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