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São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 2003

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CASO SANTO ANDRÉ

Após negociação, Sérgio Gomes da Silva se entrega à polícia

Amigo acusado da morte de Daniel é preso em São Paulo

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA

O empresário Sérgio Gomes da Silva foi preso ontem acusado de ser um dos mandantes do assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel. Sob escolta policial, ele chegou algemado ao DHPP (Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa) da Polícia Civil, centro de São Paulo, às 20h58.
A prisão de Gomes da Silva foi solicitada pelos promotores criminais de Santo André e decretada pelo juiz da 1ª Vara da Comarca de Itapecerica da Serra (SP), Luiz Fernando Migliori. Judicialmente, a prisão preventiva serve para prevenir a prática de novos crimes ou para assegurar o andamento do processo. A prisão, decidida anteontem, foi mantida em sigilo e divulgada só na tarde de ontem pela defesa do empresário.
Gomes da Silva chegou ao prédio do DHPP no banco de trás de um Santana branco da Polícia Civil. Estava com uma camiseta branca e com as mãos algemadas pela frente. O carro foi escoltado por outros dois veículos policiais. Na entrada do prédio, cerca de 30 policiais fizeram um cordão para liberar a entrada do empresário.
A rendição de Gomes da Silva foi negociada durante todo o dia de ontem por seus advogados e pela polícia. Ao mesmo tempo, a polícia montou uma operação para prendê-lo. Logo pela manhã, agentes do DHPP procuraram o empresário em pelo menos oito endereços em São Paulo e em Santo André. A operação foi comandada pelo delegado da Polícia Civil Luiz Fernando Teixeira.
Durante esse período, advogados de Gomes da Silva afirmavam que a prisão do empresário estava "a caminho". Alguns dos entraves para a rendição do empresário ontem foram a imprensa e a preocupação de seus advogados com a segurança de Gomes da Silva. A defesa quis evitar a exploração de imagens da prisão de seu cliente.
No prédio do DHPP, Gomes da Silva foi alojado em uma sala, onde passaria a noite vigiado por quatro policiais. Na sala havia apenas um sofá. O empresário ganhou 20 maços de cigarro de seus advogados. Por volta de 22h, um médico foi até o DHPP para fazer o exame de corpo de delito em Gomes da Silva. Hoje, é aventada a possibilidade de o empresário ser transferido para uma cela especial 13º Distrito Policial. Segundo um dos advogados de Gomes da Silva, Adriano Vanni, o empresário tem curso superior -é formado em pedagogia- e por isso tem direito à cela especial.
Os três promotores criminais de Santo André, que pediram a prisão preventiva, disseram que não iriam comentar a medida.

Denúncia
O crime contra Celso Daniel começou na noite de 18 de janeiro de 2002, quando o prefeito petista foi sequestrado ao voltar de um jantar com Gomes da Silva. Dois dias depois, Daniel foi encontrado morto a tiros e com sinais de tortura numa estrada de terra em Juquitiba (Grande São Paulo).
Na denúncia (acusação formal), a Promotoria sustenta que o sequestro foi simulado pelo empresário e pelos sete homens da favela Pantanal, acusados pelo assassinato de Daniel. Ao crime de homicídio, cuja pena mínima é de 12 anos de prisão, a Promotoria acrescentou três agravantes, que podem aumentar a pena em uma eventual condenação. Os três agravantes são: financiar a morte, impossibilitar qualquer defesa da vítima e garantir a execução de outros crimes (corrupção na Prefeitura de Santo André).
Celso Daniel teria sido morto, segundo a denúncia, porque Gomes da Silva queria manter um esquema de arrecadação de propina na administração municipal. Apesar de ele não ser funcionário público, alegam os promotores, Gomes da Silva teria muita influência na gestão petista.
Em junho de 2002, ele e outras cinco pessoas foram denunciadas por comandar um esquema ilegal na prefeitura. A denúncia ainda não foi aceita pela Justiça.

Júri popular
Ao receber a denúncia, o juiz Luiz Fernando Migliori já determinou a data para interrogatório de Gomes da Silva e dos sete homens da favela Pantanal acusados pela morte de Daniel. As datas não foram reveladas sob o argumento de que o processo criminal corre em segredo de Justiça -apenas os envolvidos e seus advogados têm acesso.
Se, após ouvir os acusados e as testemunhas, o juiz entender que há indícios da participação de Gomes da Silva na morte de Daniel, o caso será encaminhado ao tribunal de júri, composto por sete cidadãos escolhidos de forma aleatória pelo Poder Judiciário.


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