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São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 2003

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CASO SANTO ANDRÉ

Publicamente, Lula deve dizer que partido apóia investigações

PT deixa de opinar e diz que assunto é "da Justiça"

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo federal e o PT pretendem tratar como assunto da Justiça, da polícia e do Ministério Público o pedido de prisão do empresário Sérgio Gomes da Silva. Após nova investigação do Ministério Público, o empresário virou réu em processo que apura a morte, em janeiro do ano passado, de Celso Daniel (PT), prefeito de Santo André.
"Não vou opinar sobre um assunto que é da polícia, do Ministério Público e da Justiça. Não é assunto do PT", respondeu ontem o presidente do partido, José Genoino, ao ser indagado sobre sua opinião a respeito do pedido de prisão de Gomes da Silva.
De volta da viagem aos países árabes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve reação semelhante à de Genoino ao ser informado por auxiliares de detalhes da nova investigação do Ministério Público. A Folha apurou que Lula acha que o caso não deve ser tratado como assunto de governo ou do PT, mas da Justiça.
No ano passado, investigação da Polícia Civil paulista apontou crime comum. O Ministério Público tomou novos depoimentos neste ano e denunciou Gomes da Silva como mandante. Celso Daniel teria descoberto esquema de corrupção que beneficiaria Gomes da Silva e teria sido morto ao tentar combatê-lo. A Justiça aceitou a nova denúncia. Ontem, foi pedida a prisão de Gomes da Silva, conhecido como "Sombra ".
A Folha apurou que numa ocasião em que Lula vier a abordar publicamente o caso, seja por respostas à imprensa [ontem não houve entrevista do porta-voz André Singer], seja em discursos, ele deverá dizer que o PT é o maior interessado no esclarecimento da morte de Daniel e que o partido apóia as investigações.
Genoino já disse publicamente que o PT apóia as investigações, mas afirmou que a legenda "defenderá a imagem do partido e do Celso [Daniel]". O presidente do PT também já afirmou que o partido "não tem se omitido, não acobertou nada", em resposta à acusação de familiares de Celso Daniel de que a sigla criou "obstáculo" às investigações por crer na versão de crime comum.
Reservadamente, membros da cúpula do governo e do PT afirmam que não acreditam na culpa de Gomes da Silva. O deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), advogado criminalista designado pela cúpula do partido para acompanhar as investigações do ano passado, já disse isso abertamente.
Em conversas reservadas, membros da cúpula do governo e do partido dizem que será uma surpresa uma eventual prova da culpa de Gomes da Silva. Todos afirmam que os dois eram amigos íntimos e dizem não ver sentido num plano de Gomes da Silva para matar o prefeito.
Petistas também duvidam da credibilidade de novos depoimentos dados ao Ministério Público por presos e por José Cicote, vice-prefeito de Santo André na primeira gestão do prefeito (1989-1992). Cicote virou inimigo político de Daniel.


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