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Dupla função da Cnen é criticada por cientistas
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REDAÇÃO
Especialistas, cientistas e ambientalistas se posicionaram contra o fato de a Cnen (Comissão
Nacional de Energia Nuclear)
acumular a função de fiscalização
da atividade nuclear no país e o
monopólio da exploração de urânio. O alerta já foi dado pela comunidade científica, preocupada
com um suposto conflito de interesses e os riscos que a sobreposição de atribuições poderia gerar.
"A Cnen se divide entre fiscalizar e pesquisar/desenvolver. Isso
é um problema institucional que
tem de ser resolvido. Há um conflito de ações, que é mais antigo
do que andar para frente. Todo
mundo concorda com isso [separação das funções], mas não se faz
nada", afirma o professor de energia nuclear Aquilino Senra, da
Coppe (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação e Engenharia) da UFRJ. "É importante
ter um órgão fiscalizador forte, independente e atuante."
Senra questiona um dos argumentos utilizados para justificar a
não-separação imediata: o alto
custo gerado por duas administrações distintas.
Na avaliação da Cnen, o mercado nuclear é restrito no país e a divisão da comissão em duas entidades -uma só para fiscalizar e
outra para incentivar e desenvolver a tecnologia nuclear- poderia enfraquecer ainda mais o setor.
"Custar caro não é um argumento viável. É muito melhor
gastar antecipadamente. Antes do
acidente, Goiânia era um dos Estados que mais crescia no país.
Depois, ficou parado por 14
anos", diz o professor Anselmo
Paschoa, do Departamento de Física da PUC-RJ.
Para Paschoa, a possibilidade de
acidentes envolvendo fontes radioativas no Brasil não pode ser
relacionada ao acúmulo de funções da Cnen. "Qualquer país
com atividade nuclear tem risco.
Ele existe. Acredito que estamos
preparados, mas deveríamos estar melhor", afirma.
Segundo ele a separação de funções na comissão serviria para
acabar com suspeitas. "Os conflitos não se dão por má-fé. Mas, enquanto houver isso [múltiplas
funções da Cnen], fica a suspeita
de que tem algo errado."
Transparência
Outra crítica à atuação da Cnen
é a falta de divulgação do trabalho
realizado e dos danos que a radioatividade pode causar. Para
Marcelo Furtado, do Greenpeace,
há "falta de transparência no processo de fiscalização". "Não temos noção do tamanho do problema e isso nos preocupa."
Já Senra, da UFRJ, cita a questão
da falta de informação da sociedade sobre o assunto nuclear. "É
preciso uma campanha de divulgação para a população sobre o
risco de manuseio de materiais
radioativos. A Cnen não tem feito
a divulgação na medida certa."
(AS E MO)
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