São Paulo, domingo, 12 de dezembro de 2004

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Parque tenta em Goiânia "apagar" memória do césio

ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O parque onde estão enterrados os rejeitos do acidente radioativo com césio-137 irá se transformar em breve em uma área de lazer com campo de futebol, quiosques, lanchonetes e trilhas. Ocorrido em Goiânia em 1987, o acidente radiológico foi considerado o maior do mundo na época.
Na tentativa de desmistificar o fantasma da radiação e da periculosidade dos depósitos, uma parceria entre o governo de Goiás, a Cnen e a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) pretende transformar o parque Telma Ortegal, em Abadia de Goiás, em um local agradável.
Distante 20 km de Goiânia, onde ocorreu o acidente, o local que recebeu os restos radioativos só virou parque em 1997, pela necessidade de isolar os arredores.
"É importante que não se esqueça daquele evento, mas é preciso mostrar a segurança do depósito", diz o presidente da Cnen, Odair Dias Gonçalves. Segundo ele, o medo da contaminação de quem visita a área é infundado, pois o depósito é referência mundial no quesito segurança. Além disso, técnicos da comissão monitoram as quantidades de radiação no solo e no ar periodicamente.
Por manter um centro de documentação e estudos sobre o acidente, o parque recebeu desde sua criação mais de 40 mil visitantes, em geral pesquisadores, estudantes e cientistas. O objetivo agora é atrair a população em geral.
Em 20 hectares do parque -que tem um total de 165 hectares- serão plantadas árvores e um viveiro para a produção de mudas de espécies nativas do cerrado será construído.
Outro projeto quer transformar em áreas verdes terrenos que permanecem baldios por estarem na região do acidente.
Em setembro de 1987, uma cápsula de césio abandonada no Instituto Goiano de Radioterapia foi recolhida por dois catadores. A peça foi rompida a marretadas e vendida a um ferro-velho. Atraídos pelo brilho azul do material, moradores de Goiânia levaram pedaços da peça para casa.
A radiação provocou a morte de quatro pessoas -ao menos outras 16 tiveram lesões corporais. A descontaminação produziu cerca de dez toneladas de lixo contaminado. São roupas, móveis, animais, árvores, restos de solo, paredes de casas e partes da pavimentação de ruas contaminados que estão enterrados e protegidos por paredes de 40 cm de espessura.


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