São Paulo, domingo, 12 de dezembro de 2004

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CAMPO MINADO

Em Ribeirão Preto, integrantes de grupos acampados em fazenda não atendem a exigências para obter lote

Sem-terra têm carro e pizzaria no interior

AFRA BALAZINA
FREE-LANCE PARA A FOLHA RIBEIRÃO

Entre as cerca de 1.500 pessoas acampadas na fazenda da Barra, em Ribeirão Preto, há um grupo que não atende às exigências do Incra para obter um lote da reforma agrária por ter renda acima do limite e negócios próprios. Eles são donos de um microônibus, de um Tempra, de um Palio Weekend e de uma pizzaria.
Ligada ao MLST (Movimento de Libertação dos Sem-Terra), Clarisse, que não teve seu nome completo divulgado pelo movimento, é dona de um microônibus e fica acampada em frente ao portão principal da fazenda. A reportagem não conseguiu ouvi-la.
Ela é cooperada da Coopertarp (Cooperativa dos Transportadores Autônomos de Ribeirão Preto) e, de acordo com o líder do MLST, Marcos Praxedes, sua renda familiar deve ser de R$ 1.000 -segundo a Folha apurou, os cooperados têm renda bruta de pelo menos R$ 2.000.
Praxedes disse que todos os integrantes do movimento receberam uma cópia das normas de seleção do Incra e estão conscientes dos critérios que podem eliminá-los. Segundo ele, Clarisse disse que estava no barraco para guardar a vaga para o irmão, João Mendes, que está trabalhando numa fazenda em Minas Gerais.
José Barbosa, outro acampado ligado ao MLST, é dono de uma pizzaria no condomínio Jardim das Pedras. O fato de ele ser comerciante já seria fator eliminatório da seleção. Sua renda também é superior aos três salários mínimos -ele possui um Palio Weekend e seus colegas de acampamento confirmam que ele paga uma prestação mensal de R$ 600 pelo veículo. A Folha o procurou no acampamento e na pizzaria, mas não conseguiu contatá-lo.
No acampamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra), um dos barracos tinha, na quinta-feira, um Tempra estacionado na frente.
A reportagem não conseguiu encontrar o dono do veículo nem obter informações sobre ele com os outros acampados.
Segundo um dos coordenadores do grupo, Josué Lopes de Oliveira, o fato de ter carro não desqualifica ninguém para lutar por um pedaço de terra.
De acordo com o Incra, qualquer pessoa pode se cadastrar ou ficar acampada, mas isso não significa que será assentada.


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