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OPERAÇÃO ANACONDA
Ali Mazloum afirma que abriu sigilo bancário e fiscal
Juiz depõe, chora e se diz injustiçado
DA REPORTAGEM LOCAL
O juiz federal Ali Mazloum chorou ontem em depoimento ao
TRF (Tribunal Regional Federal)
da 3ª Região (em São Paulo), no
qual disse que está sendo "injustiçado" e que está sofrendo "um
processo doloroso".
Ali Mazloum, que está afastado
da função, foi o primeiro dos acusados pela Operação Anaconda a
ser ouvido pela desembargadora
federal Therezinha Cazerta, relatora do processo no qual três juízes federais, policiais federais, advogados e empresários são acusados de formação de quadrilha para venda de sentenças e para obtenção de vantagens pessoais.
"Falei tudo o que tinha de falar,
falei a verdade. Tenho certeza de
que agora a verdade vai começar a
aflorar", afirmou Ali Mazloum
após o depoimento.
Participação peculiar
Com os olhos inchados, o juiz
federal afirmou que não estava
em condições de dar entrevistas.
Seu advogado, Antonio Claudio
Mariz de Oliveira, informou que o
processo está sob sigilo e, por isso,
o conteúdo do depoimento de
Mazloum não pode ser revelado.
O defensor disse concordar com
a afirmação do Ministério Público
de que seu cliente teria participação "peculiar" na quadrilha.
"Também acho que é peculiar.
Porque ele, acusado de quadrilheiro, estava na verdade prejudicando aqueles que seriam protegidos pela quadrilha. Ele mandou
prender o Ari [Ari Natalino da Silva, dono da Petroforte, acusado
de adulteração de combustíveis],
mandou fazer busca e apreensão
naquele (sic) senhor chinês [Law
Kim Chong, suspeito de contrabando], mandou prender temporariamente o delegado Crenite
[Alexandre Crenite, da PF, acusado de favorecer Natalino]. Não sei
que quadrilha é essa em que o
quadrilheiro, em vez de proteger,
manda prender e fazer justiça."
O advogado disse que não há
nenhuma "prova direta, objetiva"
contra seu cliente.
Questionado sobre como é estar
do "outro lado", na condição de
acusado, após ter julgado centenas de pessoas, Mazloum disse
que "é difícil, não é fácil". "Sou
um inocente que está sendo processado. Sempre fui um juiz correto, sempre trabalhei. Conquistei
meu cargo com muito sacrifício.
Lutei muito para obter tudo o que
tenho. Quem já sofreu uma injustiça sabe o que é isso", disse o juiz.
Ele ressaltou que não é acusado
de vender sentenças judiciais,
apenas de ter cometido os crimes
de ameaça e abuso de autoridade.
Disse que, nas gravações telefônicas feitas com autorização judicial
pela Operação Anaconda, não
consta nenhuma conversa dele,
exceto com o juiz Cassem Mazloum, que é seu irmão. "Nunca
tive contato com essas pessoas
que estão sendo acusadas", disse.
O juiz afirmou que ontem foi
ouvido pela primeira vez desde
que começou a Operação Anaconda e pediu que sua versão seja
investigada. "Abri a minha vida
[no depoimento]: sigilo bancário,
fiscal e minha casa."
Wagner Rocha
O empresário Wagner Rocha,
também acusado pela Operação
Anaconda, prestou depoimento
ontem à tarde. Seu advogado, Célio Benevides, disse que o cliente
"respondeu com convicção e credibilidade a todas as perguntas".
Sobre o fato de terem sido encontradas sentenças judiciais sem
assinatura no escritório de Rocha,
o advogado informou que elas haviam sido guardadas a pedido do
juiz federal João Carlos da Rocha
Mattos, seu amigo, que estava
sem espaço para seus documentos em casa.
Anteriormente, Rocha Mattos
declarou que pedira para o empresário guardar seus documentos em um armário porque Norma Cunha, ex-mulher do juiz, jogara os documentos pela janela
em uma das crises do casal. Por isso, ele não tinha onde guardá-los.
(ROBERTO COSSO)
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