São Paulo, terça-feira, 13 de janeiro de 2004

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OPERAÇÃO ANACONDA

Ali Mazloum afirma que abriu sigilo bancário e fiscal

Juiz depõe, chora e se diz injustiçado

DA REPORTAGEM LOCAL

O juiz federal Ali Mazloum chorou ontem em depoimento ao TRF (Tribunal Regional Federal) da 3ª Região (em São Paulo), no qual disse que está sendo "injustiçado" e que está sofrendo "um processo doloroso".
Ali Mazloum, que está afastado da função, foi o primeiro dos acusados pela Operação Anaconda a ser ouvido pela desembargadora federal Therezinha Cazerta, relatora do processo no qual três juízes federais, policiais federais, advogados e empresários são acusados de formação de quadrilha para venda de sentenças e para obtenção de vantagens pessoais.
"Falei tudo o que tinha de falar, falei a verdade. Tenho certeza de que agora a verdade vai começar a aflorar", afirmou Ali Mazloum após o depoimento.

Participação peculiar
Com os olhos inchados, o juiz federal afirmou que não estava em condições de dar entrevistas. Seu advogado, Antonio Claudio Mariz de Oliveira, informou que o processo está sob sigilo e, por isso, o conteúdo do depoimento de Mazloum não pode ser revelado.
O defensor disse concordar com a afirmação do Ministério Público de que seu cliente teria participação "peculiar" na quadrilha. "Também acho que é peculiar. Porque ele, acusado de quadrilheiro, estava na verdade prejudicando aqueles que seriam protegidos pela quadrilha. Ele mandou prender o Ari [Ari Natalino da Silva, dono da Petroforte, acusado de adulteração de combustíveis], mandou fazer busca e apreensão naquele (sic) senhor chinês [Law Kim Chong, suspeito de contrabando], mandou prender temporariamente o delegado Crenite [Alexandre Crenite, da PF, acusado de favorecer Natalino]. Não sei que quadrilha é essa em que o quadrilheiro, em vez de proteger, manda prender e fazer justiça."
O advogado disse que não há nenhuma "prova direta, objetiva" contra seu cliente.
Questionado sobre como é estar do "outro lado", na condição de acusado, após ter julgado centenas de pessoas, Mazloum disse que "é difícil, não é fácil". "Sou um inocente que está sendo processado. Sempre fui um juiz correto, sempre trabalhei. Conquistei meu cargo com muito sacrifício. Lutei muito para obter tudo o que tenho. Quem já sofreu uma injustiça sabe o que é isso", disse o juiz.
Ele ressaltou que não é acusado de vender sentenças judiciais, apenas de ter cometido os crimes de ameaça e abuso de autoridade. Disse que, nas gravações telefônicas feitas com autorização judicial pela Operação Anaconda, não consta nenhuma conversa dele, exceto com o juiz Cassem Mazloum, que é seu irmão. "Nunca tive contato com essas pessoas que estão sendo acusadas", disse.
O juiz afirmou que ontem foi ouvido pela primeira vez desde que começou a Operação Anaconda e pediu que sua versão seja investigada. "Abri a minha vida [no depoimento]: sigilo bancário, fiscal e minha casa."

Wagner Rocha
O empresário Wagner Rocha, também acusado pela Operação Anaconda, prestou depoimento ontem à tarde. Seu advogado, Célio Benevides, disse que o cliente "respondeu com convicção e credibilidade a todas as perguntas".
Sobre o fato de terem sido encontradas sentenças judiciais sem assinatura no escritório de Rocha, o advogado informou que elas haviam sido guardadas a pedido do juiz federal João Carlos da Rocha Mattos, seu amigo, que estava sem espaço para seus documentos em casa.
Anteriormente, Rocha Mattos declarou que pedira para o empresário guardar seus documentos em um armário porque Norma Cunha, ex-mulher do juiz, jogara os documentos pela janela em uma das crises do casal. Por isso, ele não tinha onde guardá-los.
(ROBERTO COSSO)


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