FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto trava uma disputa de bastidores para ser o candidato tucano à sucessão presidencial neste ano, o prefeito de São Paulo, José Serra, está estimulando seu vice, Gilberto Kassab (PFL), a ampliar suas aparições públicas.
Costumeiramente discreto, o pefelista tem acompanhado o prefeito com mais freqüência a eventos externos e reuniões internas. Ontem, por exemplo, participou, a pedido de Serra, de três reuniões na sede do Executivo paulistano, em que se discutiram saúde no município, urbanismo (mudanças no Campo de Marte) e política (assunto tratado com diplomatas norte-americanos).
Na última semana de dezembro, Kassab foi à inauguração de uma escola na zona leste da cidade. Serra fez questão de elogiá-lo ao público presente.
Segundo dois auxiliares próximos do prefeito, ele decidiu expor seu vice a uma espécie de teste de popularidade. Deseja avaliar a receptividade a suas opiniões e a sua imagem -polêmica, devido a investigações sobre suposto enriquecimento ilícito (veja quadro nesta página).
Caso Serra seja o tucano escolhido para disputar a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele deixará o cargo tendo cumprido apenas 15 meses de sua gestão na prefeitura. Nesse caso, Kassab assumiria o comando da capital paulistana até o final de 2008.
É o chamado "fator Kassab", termo utilizado por tucanos próximos ao prefeito, que preocupa Serra: o fato de ter se comprometido a permanecer à frente da prefeitura por todo o mandato.
Em setembro de 2004, após sabatina realizada pela Folha, o então candidato assinou um compromisso de ficar no cargo por quatro anos. Na ocasião, disse que preferia não assinar o documento, pois sua palavra bastaria.
Em julho do ano passado, uma pesquisa do Datafolha revelou que a maioria dos paulistanos (67% dos entrevistados) afirmava que ele não deveria deixar o cargo para disputar a eleição.
Com esses números em mente, Serra está traçando uma estratégia de redução de danos à sua imagem, caso dispute a Presidência. Expondo e valorizando Kassab, poderá dizer aos eleitores que seu vice conhece e manterá seu projeto de governo.
O próprio Kassab, que tem aparecido no rádio e na TV na propaganda partidária do PFL, tem dito a interlocutores que, caso assuma o cargo, não mudará os rumos definidos pelo tucano. Diz que será mais ministro que prefeito -numa tentativa de mostrar alto grau de subordinação a Serra, mesmo que o tucano vire presidente.


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