São Paulo, sexta-feira, 13 de janeiro de 2006

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CPI DOS CORREIOS

Quebra do sigilo da companhia de aviação Beta aponta transferências mensais para João Herrmann Neto (PDT-SP), totalizando R$ 79 mil

Deputado recebeu 25 repasses de empresa

RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A quebra do sigilo bancário da empresa de aviação Beta (Brazilian Express Transportes Aéreos), determinada pela CPI dos Correios para apurar suspeita de irregularidades em contratos fechados pela empresa com a estatal, indicou 25 pagamentos mensais, ao longo de dois anos, para uma conta bancária aberta em nome do deputado federal João Herrmann Neto (PDT-SP). O total acumulado atingiu R$ 79 mil.
Os depósitos começaram em março de 2003 e pararam no segundo trimestre de 2005, pouco antes do escândalo nos Correios. Os primeiros pagamentos foram de R$ 3.000, sendo corrigidos até R$ 3.800 (na última quitação).
O dinheiro saiu de uma conta da Beta no banco Safra de São Paulo e foi parar numa conta aberta em nome do deputado no Citibank.
A Folha informou às 11h de ontem o assessor do deputado, em Campinas, dos detalhes das operações detectadas pela CPI e atribuídas ao parlamentar. Herrmann preferiu não conceder uma entrevista. Às 19h, o deputado pediu que seu assessor dissesse que ele não se manifestaria.
Herrmann, 59, é um dos parlamentares mais ricos no Congresso. Em 2000, declarou um patrimônio de R$ 110 milhões, segundo levantamento do site "Controle Público", com base em dados do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo. Na época, perdia só para o deputado Ronaldo Cézar Coelho (PSDB-RJ), com patrimônio declarado de R$ 249 milhões.
Herrmann costuma dizer que sua fortuna pessoal decorre de negócios de familiares relacionados a empresas de agronegócio.
O deputado é aliado do governo Lula no Congresso. Não apoiou a criação da CPI dos Correios. Foi um dos principais nomes do PPS desde a criação e passou para o PDT em 2004. Até janeiro daquele ano, o Ministério das Comunicações e os Correios eram controlados pelo PDT. "A CPI é uma ferida maltratada, uma porta de entrada para infecções", disse Herrmann em maio, segundo a agência de notícias da Câmara.
Até a noite de quarta-feira, o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), alegava desconhecer a existência dos depósitos atribuídos a Herrmann. "Não fui informado sobre isso."

Transporte de cargas
A reportagem apurou que o nome de Herrmann foi citado durante uma reunião fechada, no final de setembro, entre parlamentares da CPI e o ex-proprietário de metade das cotas da Beta até 2002, Antônio Augusto Morato Leite Filho. O empresário teria dito que a Beta fez pagamentos a Herrmann. O depoimento foi mantido sob sigilo. Por meio de duas empresas, Leite Filho doou R$ 800 mil à campanha de Lula em 2002.
A Beta ganhou o noticiário e teve seus sigilos telefônico, fiscal e bancário quebrados depois que a revista "Época" revelou a existência de um contrato entre a empresa e a Skymaster Airlines. O documento sugeria, segundo parlamentares da CPI, uma combinação prévia entre empresas que disputavam o mesmo nicho de mercado -elas negaram.


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