|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CPI DOS CORREIOS
Quebra do sigilo da companhia de aviação Beta aponta transferências mensais para João Herrmann Neto (PDT-SP), totalizando R$ 79 mil
Deputado recebeu 25 repasses de empresa
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A quebra do sigilo bancário da
empresa de aviação Beta (Brazilian Express Transportes Aéreos),
determinada pela CPI dos Correios para apurar suspeita de irregularidades em contratos fechados pela empresa com a estatal,
indicou 25 pagamentos mensais,
ao longo de dois anos, para uma
conta bancária aberta em nome
do deputado federal João Herrmann Neto (PDT-SP). O total
acumulado atingiu R$ 79 mil.
Os depósitos começaram em
março de 2003 e pararam no segundo trimestre de 2005, pouco
antes do escândalo nos Correios.
Os primeiros pagamentos foram
de R$ 3.000, sendo corrigidos até
R$ 3.800 (na última quitação).
O dinheiro saiu de uma conta da
Beta no banco Safra de São Paulo
e foi parar numa conta aberta em
nome do deputado no Citibank.
A Folha informou às 11h de ontem o assessor do deputado, em
Campinas, dos detalhes das operações detectadas pela CPI e atribuídas ao parlamentar. Herrmann preferiu não conceder uma
entrevista. Às 19h, o deputado pediu que seu assessor dissesse que
ele não se manifestaria.
Herrmann, 59, é um dos parlamentares mais ricos no Congresso. Em 2000, declarou um patrimônio de R$ 110 milhões, segundo levantamento do site "Controle Público", com base em dados
do Tribunal Regional Eleitoral de
São Paulo. Na época, perdia só para o deputado Ronaldo Cézar
Coelho (PSDB-RJ), com patrimônio declarado de R$ 249 milhões.
Herrmann costuma dizer que
sua fortuna pessoal decorre de negócios de familiares relacionados
a empresas de agronegócio.
O deputado é aliado do governo
Lula no Congresso. Não apoiou a
criação da CPI dos Correios. Foi
um dos principais nomes do PPS
desde a criação e passou para o
PDT em 2004. Até janeiro daquele
ano, o Ministério das Comunicações e os Correios eram controlados pelo PDT. "A CPI é uma ferida maltratada, uma porta de entrada para infecções", disse Herrmann em maio, segundo a agência de notícias da Câmara.
Até a noite de quarta-feira, o relator da CPI, deputado Osmar
Serraglio (PMDB-PR), alegava
desconhecer a existência dos depósitos atribuídos a Herrmann.
"Não fui informado sobre isso."
Transporte de cargas
A reportagem apurou que o nome de Herrmann foi citado durante uma reunião fechada, no final de setembro, entre parlamentares da CPI e o ex-proprietário de
metade das cotas da Beta até 2002,
Antônio Augusto Morato Leite
Filho. O empresário teria dito que
a Beta fez pagamentos a Herrmann. O depoimento foi mantido
sob sigilo. Por meio de duas empresas, Leite Filho doou R$ 800
mil à campanha de Lula em 2002.
A Beta ganhou o noticiário e teve seus sigilos telefônico, fiscal e
bancário quebrados depois que a
revista "Época" revelou a existência de um contrato entre a empresa e a Skymaster Airlines. O documento sugeria, segundo parlamentares da CPI, uma combinação prévia entre empresas que
disputavam o mesmo nicho de
mercado -elas negaram.
Texto Anterior: Transportes recebe mais para investir Próximo Texto: Outro lado: Deputado e dono de empresa não se manifestam Índice
|