São Paulo, sexta-feira, 13 de janeiro de 2006

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DIPLOMACIA

Para tentar evitar fracasso de venda de aviões à Venezuela, governo diz que pode denunciar interferência americana

Brasil negocia fim de veto dos EUA à Embraer

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

O Brasil não aceita o veto dos Estados Unidos à venda de aviões da Embraer para a Venezuela e está disposto até mesmo, em última instância, a denunciar o caso em fóruns internacionais. O argumento é que não há sanções à Venezuela, então não haveria motivo para a pressão contrária.
Ontem, o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) conversou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o veto, aproveitando uma solenidade no Itamaraty. Basicamente, informou Lula das iniciativas para que a Embraer conclua o negócio.
No discurso brasileiro, o veto não atinge a Venezuela, que pode adquirir aparelhos russos, por exemplo. Prejudica, sim, o próprio Brasil, que perde um negócio estimado em US$ 500 milhões com a venda de 36 aviões.
O Itamaraty reclama que o argumento americano de proteção de tecnologia embute um evidente bloqueio por razões ideológicas e políticas. Como exemplo, a Colômbia, que é uma das principais aliadas dos EUA no continente, comprou da Embraer há pouco 25 Super Tucanos, aviões similares aos que Chávez quer adquirir.
Se está irritado com a posição de intransigência dos EUA, o Brasil também não gostou da "intempestividade" do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que denunciou publicamente o veto na última terça. Chávez disse que a Embraer não assinou o contrato "porque os EUA não autorizam a companhia a fazer aviões para a Venezuela, porque a Embraer utiliza tecnologia norte-americana".
Para o governo brasileiro, Chávez atropelou uma delicada operação que já vinha em curso para convencer os americanos a retirarem o veto. O próprio Amorim vinha mantendo contatos com a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice e também falou anteontem com o subsecretário para o Hemisfério Sul, Thomas Shannon, que esteve em Brasília.
Nas conversas, os interlocutores brasileiros têm dito aos americanos que o Brasil "não pode aceitar esse tipo de coisa". Internamente, na troca de conversas entre Planalto e Itamaraty, há uma espécie de combinação de que não é possível "baixar a cabeça".
Do ponto de vista político, as negociações com a Venezuela, que começaram ainda no governo Fernando Henrique (1995-2002), são consideradas como parte da aliança estratégica entre os países. Do ponto de vista comercial, são bastante significativas para a Embraer, que enfrenta um constrangimento adicional para reclamar publicamente do veto: os EUA são o maior mercado de aviação e o maior comprador. A questão, por isso, saiu da alçada meramente comercial. Tornou-se, quase, uma questão de honra da diplomacia brasileira.

Espanha
Em um caso similar, ontem, os EUA recusaram-se oficialmente a permitir a venda de 12 aviões da espanhola EADS-Casa, com tecnologia americana, à Venezuela. A transação, de US$ 2 bilhões, assinada em novembro, foi criticada pelo presidente George W. Bush. Um porta-voz da embaixada americana na Espanha confirmou que os EUA acreditam que essa operação tem potencial para complicar a situação na região.
Segundo uma rádio espanhola, a EADS-Casa contatou empresas francesas em busca de tecnologia substituta para as aeronaves, ainda que isso encareça a operação.


Com agências internacionais

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