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DIPLOMACIA
Para tentar evitar fracasso de venda de aviões à Venezuela, governo diz que pode denunciar interferência americana
Brasil negocia fim de veto dos EUA à Embraer
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O Brasil não aceita o veto dos
Estados Unidos à venda de aviões
da Embraer para a Venezuela e
está disposto até mesmo, em última instância, a denunciar o caso
em fóruns internacionais. O argumento é que não há sanções à Venezuela, então não haveria motivo para a pressão contrária.
Ontem, o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) conversou com o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva sobre o veto, aproveitando uma solenidade no Itamaraty. Basicamente, informou
Lula das iniciativas para que a
Embraer conclua o negócio.
No discurso brasileiro, o veto
não atinge a Venezuela, que pode
adquirir aparelhos russos, por
exemplo. Prejudica, sim, o próprio Brasil, que perde um negócio
estimado em US$ 500 milhões
com a venda de 36 aviões.
O Itamaraty reclama que o argumento americano de proteção
de tecnologia embute um evidente bloqueio por razões ideológicas
e políticas. Como exemplo, a Colômbia, que é uma das principais
aliadas dos EUA no continente,
comprou da Embraer há pouco
25 Super Tucanos, aviões similares aos que Chávez quer adquirir.
Se está irritado com a posição de
intransigência dos EUA, o Brasil
também não gostou da "intempestividade" do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que denunciou publicamente o veto na
última terça. Chávez disse que a
Embraer não assinou o contrato
"porque os EUA não autorizam a
companhia a fazer aviões para a
Venezuela, porque a Embraer utiliza tecnologia norte-americana".
Para o governo brasileiro, Chávez atropelou uma delicada operação que já vinha em curso para
convencer os americanos a retirarem o veto. O próprio Amorim vinha mantendo contatos com a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice e também falou anteontem com o subsecretário para
o Hemisfério Sul, Thomas Shannon, que esteve em Brasília.
Nas conversas, os interlocutores
brasileiros têm dito aos americanos que o Brasil "não pode aceitar
esse tipo de coisa". Internamente,
na troca de conversas entre Planalto e Itamaraty, há uma espécie
de combinação de que não é possível "baixar a cabeça".
Do ponto de vista político, as
negociações com a Venezuela,
que começaram ainda no governo Fernando Henrique (1995-2002), são consideradas como
parte da aliança estratégica entre
os países. Do ponto de vista comercial, são bastante significativas para a Embraer, que enfrenta
um constrangimento adicional
para reclamar publicamente do
veto: os EUA são o maior mercado de aviação e o maior comprador. A questão, por isso, saiu da
alçada meramente comercial.
Tornou-se, quase, uma questão
de honra da diplomacia brasileira.
Espanha
Em um caso similar, ontem, os
EUA recusaram-se oficialmente a
permitir a venda de 12 aviões da
espanhola EADS-Casa, com tecnologia americana, à Venezuela.
A transação, de US$ 2 bilhões, assinada em novembro, foi criticada pelo presidente George W.
Bush. Um porta-voz da embaixada americana na Espanha confirmou que os EUA acreditam que
essa operação tem potencial para
complicar a situação na região.
Segundo uma rádio espanhola,
a EADS-Casa contatou empresas
francesas em busca de tecnologia
substituta para as aeronaves, ainda que isso encareça a operação.
Com agências internacionais
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