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FOME DE TRABALHO
Feira, que apresentou ações sociais de empresas e ONGs, recebeu 5.000 pessoas de terça até ontem
Trabalho precário sustenta Expo Fome Zero
FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO
Na Expo Fome Zero, um termômetro do nó que está em jogo
na reforma trabalhista. Nos 138
estandes de ONGs e empresas
que apresentaram histórias do
Brasil socialmente responsável
trabalharam cerca de 200 pessoas
-segundo estimativa do evento.
A maior parte deles, postos cada vez mais comuns no país:
temporários, sem registro nem
contribuição previdenciária (os
informais), que trabalham menos do que gostariam (os "precários", que cresceram 42,5% em
2003). Mais comuns ainda no ramo de eventos, que movimenta
R$ 37 bilhões anuais no país.
Quer feira focada no social,
quer a que vende agrotóxicos, estão lá recepcionistas, copeiras,
montadores que trabalham em
média três dias por semana.
A copeira Sebastiana dos Santos, 65, comemorava os três dias
da feira, que se encerrou ontem
no Expo Center Norte, em São
Paulo. Ganhou R$ 240.
Não recebe vale-transporte,
nunca pagou Previdência. Se o
trabalho acaba tarde, divide com
colegas um táxi até a Cidade Ademar (zona sul). "Não sei o que farei se não puder trabalhar." Férias? "Só quando não tem serviço." Desejo: serviço todos os dias.
Ela foi convocada por um bufê
que foi contratado por uma empresa de eventos contratada pela
Única (União da Agroindústria
Canavieira de São Paulo). O estande apresentava balanço dos
340 projetos sociais da entidade.
No estande da Prefeitura de
São Paulo, outra copeira, Cristiane Gouvêa, 20. R$ 30 reais/dia
mais vale-transporte por dez horas de trabalho. A empresa que a
chamou, Sonia's Buffet, recebe
em média R$ 50 por empregado.
Dizendo-se incomodada com
os olhares dos visitantes ("Passam, não cumprimentam. É
muito preconceito"), Cristiane
diz que quer ajudar em casa e
juntar dinheiro para fazer cursinho. Quer ser contadora. O pai é
aposentado, a mãe não trabalha,
os irmãos estão desempregados.
Como o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva anunciou no discurso de abertura, o Brasil que muda
para o bem podia ser visto na feira -ilhas de boa notícia. No
evento, a Petrobras anunciou investir R$ 303 milhões em ações
sociais até 2006. A Unilever disse
aplicar em 2004 R$ 13 milhões.
Entre sorrisos em grandes pôsteres, telas de cristal líquido exibindo projetos, Jocivânia da Silva, 17, da ONG Nossa Turma.
Ela oferecia aos visitantes
-passaram pela feira 5.000, segundo os organizadores- mudas de alface produzidas por ela
em Vila Leopoldina (zona oeste).
Jocivânia e a irmã são monitoras num curso de jardinagem na
ONG. Recebem R$ 40/mês mais
uma cesta básica cada uma. Fim
da ilha. A última bolsa ela usou
para comprar o material escolar.
A mãe, sem registro ou 13º salário, sempre fica mais apertada
nesta época do ano. Uma das cestas a família manda para a outra
irmã (casada, três filhos), que
passa por dificuldades.
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