São Paulo, sexta-feira, 13 de fevereiro de 2004

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FOME DE TRABALHO

Feira, que apresentou ações sociais de empresas e ONGs, recebeu 5.000 pessoas de terça até ontem

Trabalho precário sustenta Expo Fome Zero

FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO

Na Expo Fome Zero, um termômetro do nó que está em jogo na reforma trabalhista. Nos 138 estandes de ONGs e empresas que apresentaram histórias do Brasil socialmente responsável trabalharam cerca de 200 pessoas -segundo estimativa do evento.
A maior parte deles, postos cada vez mais comuns no país: temporários, sem registro nem contribuição previdenciária (os informais), que trabalham menos do que gostariam (os "precários", que cresceram 42,5% em 2003). Mais comuns ainda no ramo de eventos, que movimenta R$ 37 bilhões anuais no país.
Quer feira focada no social, quer a que vende agrotóxicos, estão lá recepcionistas, copeiras, montadores que trabalham em média três dias por semana.
A copeira Sebastiana dos Santos, 65, comemorava os três dias da feira, que se encerrou ontem no Expo Center Norte, em São Paulo. Ganhou R$ 240.
Não recebe vale-transporte, nunca pagou Previdência. Se o trabalho acaba tarde, divide com colegas um táxi até a Cidade Ademar (zona sul). "Não sei o que farei se não puder trabalhar." Férias? "Só quando não tem serviço." Desejo: serviço todos os dias.
Ela foi convocada por um bufê que foi contratado por uma empresa de eventos contratada pela Única (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo). O estande apresentava balanço dos 340 projetos sociais da entidade.
No estande da Prefeitura de São Paulo, outra copeira, Cristiane Gouvêa, 20. R$ 30 reais/dia mais vale-transporte por dez horas de trabalho. A empresa que a chamou, Sonia's Buffet, recebe em média R$ 50 por empregado.
Dizendo-se incomodada com os olhares dos visitantes ("Passam, não cumprimentam. É muito preconceito"), Cristiane diz que quer ajudar em casa e juntar dinheiro para fazer cursinho. Quer ser contadora. O pai é aposentado, a mãe não trabalha, os irmãos estão desempregados.
Como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou no discurso de abertura, o Brasil que muda para o bem podia ser visto na feira -ilhas de boa notícia. No evento, a Petrobras anunciou investir R$ 303 milhões em ações sociais até 2006. A Unilever disse aplicar em 2004 R$ 13 milhões.
Entre sorrisos em grandes pôsteres, telas de cristal líquido exibindo projetos, Jocivânia da Silva, 17, da ONG Nossa Turma.
Ela oferecia aos visitantes -passaram pela feira 5.000, segundo os organizadores- mudas de alface produzidas por ela em Vila Leopoldina (zona oeste).
Jocivânia e a irmã são monitoras num curso de jardinagem na ONG. Recebem R$ 40/mês mais uma cesta básica cada uma. Fim da ilha. A última bolsa ela usou para comprar o material escolar. A mãe, sem registro ou 13º salário, sempre fica mais apertada nesta época do ano. Uma das cestas a família manda para a outra irmã (casada, três filhos), que passa por dificuldades.


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