São Paulo, sexta-feira, 13 de fevereiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PRATO FEITO

Presidente diz que petistas e tucanos podem ficar na mesma legenda e acredita que Marta Suplicy será reeleita

Lula acha que Brasil só terá "2 ou 3 partidos"

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o Brasil caminhará para o bipartidarismo após a aprovação de uma reforma política e que petistas e tucanos podem estar unidos numa legenda no futuro. Lula acredita que Marta Suplicy (PT) será reeleita prefeita de São Paulo em outubro.
Ao afirmar que a proposta de reforma política deve partir do Congresso, o presidente disse que se empenhará para aprová-la e, surpreendentemente, previu que seu efeito será o enxugamento do quadro partidário brasileiro.
"O caminho natural", disse, é o Brasil "ter bipartidarismo, dois ou três partidos, como na Alemanha, na Inglaterra", o que produziria partidos mais "ideológicos" e menos "fisiológicos". Na realidade, há vários partidos nos dois países, mas em ambos há duas siglas dominantes, embora no Reino Unido uma terceira força (o Partido Liberal Democrata) venha crescendo em relação aos partidos tradicionais -o Trabalhista (hoje no poder) e o Conservador.
Questionado se achava possível uma fusão futura entre o PSDB e o PT, Lula saiu pela tangente. Preferiu dizer que acredita mais na união "de pessoas" que hoje estão no PT e no PSDB, sem se comprometer com a tese de fusão.
O presidente elogiou a oposição. Disse que a diferença dele para o ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) é que está sempre aberto "para conversar com todo mundo". Um repórter disse: "Mas o sr. não tem oposição". E ele rebateu: "Não é você que tem o PT!".
Lula voltou a se gabar de ter aprovado as reformas tributária e da Previdência "em sete meses". Disse que FHC não fez isso, apesar de "ter a maioria de 400" deputados federais. Quando falaram que a tributária não tinha passado, tergiversou: "Foi muito mais do que acreditavam que a gente pudesse fazer".
Numa alfinetada em FHC, com quem vive trocando farpas, disse: "Ele tem de ser grato por eu não falar mal dele. E ele não deve falar mal de mim, porque é melhor para o Brasil". Afirmou que só fala da "herança maldita" e insinuou que resistiu a pressões do PT para divulgar supostos novos fatos negativos da gestão do tucano. "O PSDB e o Fernando Henrique tiveram oito anos. Fizeram o que quiseram neste país", disse.
Criticou a reeleição para cargos executivos. Defensor de um mandato de seis anos para presidente, Lula disse que ""o que eles fizeram foi uma heresia, uma cretinice".
Ao falar de seus dois principais ministros, José Dirceu (Casa Civil) e Antonio Palocci Filho (Fazenda), Lula usou expressões elogiosas, mas dedicou mais tempo e adjetivos ao segundo.
O presidente disse que o ministro da Fazenda é seu companheiro há "mais de 20 anos": "Caminho todo dia com ele. É meu amigo, meu companheiro". Falou do perfil "calmo" de Palocci, adequado para o posto de ministro da Fazenda. "Vocês já viram o Palocci nervoso? Numa reunião, se ele não está gostando de uma coisa, não dá para notar pela cara dele."
Sobre Dirceu, disse que o ministro é "o capitão" do time, "aquele que fala com o juiz". Ele, presidente, é o "técnico". Disse que o ministro da Casa Civil será o gerente do governo: "Não posso ficar despachando a toda hora com 30 ministros. O Zé Dirceu vai fazer isso". Mas afirmou que "todos os ministros são iguais" e que está aberto a "falar com todos eles".
Ele defendeu as atitudes da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, de visitar os bairros atingidos por enchentes e discutir com a população. "Acho fantástico uma mulher como a Marta, de salto na lama, debatendo com a população." Vaticinou: "Ela vai ganhar a eleição. Que mulher! Uma mulher do nível da Marta vai lá e mete o pé na lama, na periferia".
Segundo Lula, José Serra, presidente nacional do PSDB e candidato derrotado por ele na eleição presidencial de 2002, não disputará o pleito contra Marta: "Ele não vai disputar porque sabe que vai perder". Confrontado com a idéia de que, caso Marta não se reeleja, isso seria a "grande derrota" do governo, disse que sim. Mas não considera que isso representaria um julgamento de seu governo.
Lula rejeitou a tese de que a eleição será federalizada. "Não vai federalizar. Podem até discutir um pouco, mas depois tem de discutir a cidade, as idéias dos vereadores e por aí", disse. (ELIANE CANTANHÊDE e KENNEDY ALENCAR)


Texto Anterior: Fome de trabalho: Trabalho precário sustenta Expo Fome Zero
Próximo Texto: Tucano ironiza preocupação com pleito municipal
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.