São Paulo, segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

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PT NO DIVÃ

Partido deixa de lado proposta de refundação e aposta em pacto com correntes internas para levar Lula à reeleição

Aos 26 anos, PT ignora crise e evita mea-culpa

CONRADO CORSALETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Deixando de lado a proposta de "refundação" e tentando colocar em segundo plano o escândalo do "mensalão", o PT comemora hoje seus 26 anos apostando o futuro no projeto de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A nova direção do partido, eleita no fim do ano passado, conseguiu costurar com as correntes internas da legenda um pacto anticrise, que prevê congelar no momento o debate público sobre política de alianças -tema polêmico na sigla- e barrar iniciativas que envolvam críticas ou punição de petistas ligados ao escândalo.
Após oito meses da primeira entrevista do deputado cassado Roberto Jefferson (PTB-RJ) à Folha, na qual ele acusou o PT de operar o "mensalão", só o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares recebeu punição: foi expulso da sigla.
"Para a proposição nova, o mais educativo para a militância é encararmos o que ocorreu [denúncias] como parte da história, mas em posição secundária em relação ao significado do PT para o país e para a esquerda", diz o atual tesoureiro petista, Paulo Ferreira.
"Ano eleitoral leva à reflexão de que a disputa tem de ser mais para fora [do partido] do que para dentro", diz o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP). "Não se trata de assumir um discurso para a torcida, mas sim de uma inteligência política de não forçar desgaste onde não precisa."
Integrantes do grupo conhecido como Campo Majoritário, que perdeu a hegemonia após as eleições internas e do qual fazem parte os ex-dirigentes envolvidos com o "mensalão", voltaram a se articular, unindo-se a outras correntes que também vêem como prioridade a reeleição de Lula.
Berzoini nega a formação de um novo grupo hegemônico, mas vê unidade em torno de Lula. "A maioria agora se constrói em cima de temas." A melhora do desempenho do presidente nas pesquisas é vista por dirigentes como um trampolim para a unificação.
"A "volta por cima" [slogan petista para o aniversário de 26 anos] significa reeleger Lula. O capítulo da crise não está encerrado, mas tem de ser posto no seu devido lugar, pois a prioridade agora é a reeleição do presidente", afirma a deputada Maria do Rosário (RS), 2ª vice-presidente do partido e integrante do Movimento PT, da esquerda moderada.
Hoje, em Brasília, esse clima deve conduzir o jantar de comemoração dos 26 anos do partido. Lula estará presente na comemoração.
Dirigentes ligados ao Campo Majoritário avaliam que, pelo projeto de mais quatro anos no poder, as correntes de esquerda não devem criar duros obstáculos no Encontro Nacional do partido, marcado para o final de abril.
Pelo acordo fechado com as tendências, só nesse encontro é que serão discutidos publicamente temas como política de alianças.
Outras correntes da esquerda petista, como a Democracia Socialista, tentarão forçar mudanças de rumos no programa para a sucessão. Querem ainda a realização de um seminário sobre política de alianças para o final de março.
"O PT é um partido saído da crise, que mostrou força para suportar pressão. E é um partido que consolidou sua experiência no governo federal e tem um bom portfólio de realizações que não precisam ser vistas de forma ufanista, mas também não podem ser satanizadas", afirma Berzoini.


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