São Paulo, quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

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Painel

RENATA LO PRETE - painel@uol.com.br

Cai dentro

Enquanto a oposição deitava ontem no divã, um dia após aceitar o acordo para definir o escopo da CPI dos cartões corporativos, o governo organizava seu time a fim de reduzir os danos. Em almoço com líderes aliados, os ministros José Múcio (Relações Institucionais) e Franklin Martins (Comunicação) avaliaram que a comissão mista será melhor que uma só no Senado, onde a correlação de forças é mais equilibrada.
A dupla distribuiu aos parlamentares o dossiê sobre os cartões que circula no Executivo desde a semana passada, munição para que eles defendam o governo no Congresso. Afetando total despreocupação, os ministros não descartam nem a possibilidade de dar a presidência da CPI a um tucano "não-radical".

Fiado não. O governo tenta negociar com a oposição usando uma vaga do PMDB. Que, por sua vez, não costuma dar nada de graça. Ontem, peemedebistas consideravam nulas as chances de a sigla abrir mão de presidir a CPI.

Dá jogo. O PSDB e governistas favoráveis a um acordo com a oposição em torno da presidência da CPI articulam o nome da senadora Marisa Serrano (MT), vista como "ponderada" e "equilibrada".

By-pass. Enquanto o ex-líder Luiz Sérgio (RJ) se lança candidato a relator da CPI dos Cartões, setores do PT e de outros partidos da base governista trabalham pelo nome de outro petista para o posto: Cândido Vaccarezza (SP). Seu trabalho na zaga nas investigações do apagão aéreo lhe rendeu fama de "durão".

Bode. De olho na cizânia tucana, o vice-líder dos "demos" na Câmara Ronaldo Caiado (MT) resume a importância de seu partido na comissão: "Se não tiver o DEM para apertar, a CPI acabará prendendo o dono da tapiocaria".

Vôo solo. Criticado por colegas de oposição por ter concordado com uma investigação que retroceda a 1998, Carlos Sampaio (PSDB-SP) vai além: diz que é preciso investigar, sim, as chamadas "contas tipo B". "O STF já deu inúmeras decisões de que uma CPI deve apurar fatos correlatos ao objeto. Antes dos cartões, havia essas contas."

On-line. Lurian Cordeiro da Silva, a filha de Lula, faz alusão à divulgação de gastos com sua segurança no cartão corporativo em seu "nickname" (apelido) no MSN: "Não propaguem mentira; esclareçam, falem comigo".

Fato da vida. "O sr. acha normal receber R$ 4 mi?", perguntou o juiz a Roberto Jefferson, em depoimento no Rio dentro do inquérito do mensalão. Ele se referia ao dinheiro repassado pelo PT ao PTB na campanha eleitoral de 2004. Resposta: "Normal não, mas na política é real".

Reciclagem. Edison Lobão indicará para a Secretaria de Petróleo e Gás da pasta de Minas e Energia Djalma Rodrigues de Souza. Trata-se do antigo pupilo de Severino Cavalcanti (PP-PE) para a "diretoria que fura poço e acha petróleo", como o ex-presidente da Câmara chamava a Diretoria de Exploração da Petrobras.

Do alto. Na reunião de líderes ontem na Assembléia paulista, Barros Munhoz (PSDB) fez apelo expresso em nome do governador José Serra para que ninguém da base assine o pedido de CPI dos cartões de despesas do Estado.

Nada feito. Vendo as chances de investigação do cartão paulista ir para o ralo, o líder do PT, Simão Pedro, propôs um acordão nos moldes daquele fechado em Brasília. Os tucanos não toparam.

Água fria. O PT esperava encontro ontem da Comissão de Finanças a fim de pedir a convocação do secretário estadual da Fazenda, Mauro Ricardo Costa, para explicar os gastos com cartões. Os governistas conseguiram adiar a reunião para a terça que vem.

Tiroteio

"Sem uma CPI independente, será mais ou menos como o macaco cuidando da banana."


Do líder da Minoria na Assembléia paulista, ÊNIO TATTO (PT), sobre a decisão do governador José Serra (PSDB) de suspender os saques em dinheiro com os cartões de despesa e examinar todas as operações.

Contraponto

Sinceridade demais

Na época em que era governador o Rio Grande do Norte, entre 1995 e 2002, o hoje presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB), foi visitar um parente internado na Casa de Saúde São Lucas, em Natal. Conversava com amigos e assessores em frente ao hospital quando o telefone público que ficava na calçada começou a tocar. Ele decidiu atender.
-Aqui é o Garibaldi.
-Garibaldi, qual Garibaldi?
-O governador...
Do outro lado da linha, a pessoa perdeu a paciência:
-Eu querendo saber de um paciente em estado grave e você me vem com essa brincadeira de mau gosto!


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